Os irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski – Uma resenha

Venha ler minha resenha de Os irmãos Karamázov e conheça esse clássico escrito por Fiódor Dostoiévski!

Capa do livro Os Irmãos Karamázov, Editora 34, tradução de Paulo Bezerra

Poucas obras atingem a unanimidade de Os irmãos Karamázov. Marco da literatura universal, influenciou escritores e pensadores como Nietzsche e Freud, que o considerava “o maior romance já escrito”.

O último livro publicado por Dostoiévski em vida é extenso, denso e complexo. Repleto de filosofia, apresenta debates que, de tão atuais, fazem parecer se tratar de um escritor contemporâneo.

Três irmãos

Fiódor Pavlovitch Karamázov é um homem de 55 anos. Levou uma vida libertina, casando-se duas vezes. Com o dinheiro obtido como dote de suas falecidas esposas, conseguiu subir na vida.

Do primeiro casamento, veio Dmitri, orgulhoso e apaixonado. Ivan, intelectual e atormentado, e Aliócha, “puro” e místico, são frutos do segundo matrimônio.

Acho difícil alguém dizer que os Karamázov compõem a família mais unida e harmoniosa do mundo. Fiódor Pavlovitch nunca foi um pai presente e seus filhos não são tão próximos.

Cada irmão possui uma personalidade bem distinta. Dmitri, com seu orgulho, se parece um pouco com o pai, e ambos amam a mesma mulher. A paixão torna-os rivais. Ivan é inteligente, estudioso e está por dentro do socialismo e do ateísmo. Aliêksei, ou Aliócha, é religioso e entrou para o mosteiro do stárietz Zossima.

Apesar das distinções, os três irmãos acabam se dando bem e nutrem sentimentos mútuos. Porém, o conflito entre Dmitri e o patriarca da família mudará completamente a vida e a perspectiva de todos eles.

Os temas abordados em Os irmãos Karamázov

Quem conhece o autor sabe que seus romances são intensos. Dostoiévski foi um socialista arrependido. Não largou a causa totalmente, ainda se importava com as questões sociais e a pobreza na Rússia czarista. Entretanto, abominava a violência, o radicalismo e a hipocrisia do movimento, que evoluía no final do século XIX.

Isso não fez dele um conservador, ou um capitalista. Em determinado momento de sua vida, tornou-se uma pessoa bastante religiosa. Tinha a convicção de que a aproximação entre o socialismo e o ateísmo seria algo negativo.

No romance, vemos os socialistas da época representados por Ivan, a brutalidade da antiga Rússia em Dmitri e a religiosidade e o novo em Aliócha. O autor escolheu o “caminho do meio”, acreditando numa união entre política e religião, ideia execrada pelos defensores do progressismo.

Fica muito claro que Aliócha é o preferido do escritor. Mesmo sendo “puro”, o rapaz é um pecador, e está ciente de tal fato. Haveria uma sequência desse livro, onde Aliêksei seria o protagonista. Infelizmente, Fiódor Dostoiévski faleceu poucos meses após a publicação de Os irmãos Karamázov.

Existem várias interpretações para esse grandioso romance, tudo depende de sob qual lente o leitor fará sua análise. Diferentes compreensões políticas e filosóficas podem gerar diferentes significações. O confronto entre pai e filho (complexo de Édipo) faz parte de uma visão psicanalista da obra, e Sigmund Freud a reverenciava por diversos fatores. Ou seja, motivos não faltam para conhecê-la.

Sobre a edição da Editora 34

Dividida em dois volumes, a edição da Editora 34 vem em uma caixa (ou luva) feita de papel cartão. Encadernação brochura, capa com orelhas, miolo em papel Pólen Soft e diagramação confortável. Ao longo das mil e tantas páginas, o leitor encontrará ilustrações de Ulysses Bôscolo, um toque diferenciado.

Tradução e notas de Paulo Bezerra, diretamente do original em russo, a partir da edição crítica das obras completas de Dostoiévski. Ótima tradução, já que, por ser direta, apresenta menos perdas de estilo e pormenores.

Já vi muita gente reclamar do tradutor. Acontece que tais pessoas levam em conta a visão política de Paulo Bezerra. Ele é um profissional sério, assim como a Editora 34. Sua opinião não interferiu em seu trabalho. Afirmar o contrário é acreditar em teorias da conspiração.

Seria interessante que outras editoras publicassem edições de Os irmãos Karamázov com traduções diretas do idioma original. Dessa forma poderíamos comparar as traduções, e os leitores sairiam ganhando.

A edição da Martin Claret, assinada por Herculano Villas-Boas, utilizou como base uma versão francesa. Villas-Boas é um grande e competente profissional, especialista em autores franceses, todavia, uma tradução indireta acarreta em prejuízos. Embora você esteja lendo o mesmo livro, não será pela voz do autor.

Existe uma versão em volume único, da 34, com menos páginas (provavelmente por não ser ilustrada). Particularmente, gosto da divisão em dois volumes. Segurar um calhamaço cansa o braço, sem falar que as ilustrações de Bôscolo são um excelente acréscimo.

Caso você esteja em dúvida e não sabe qual edição comprar, meu artigo, onde comparo as traduções da Martin Claret e Editora 34, pode lhe ajudar! Para ler, acesse aqui.

Vale a pena ler? O veredito

Um dos melhores livros que já li. Os irmãos Karamázov é incrível! Com um enredo vasto e cheio de personagens, Dostoiévski nos leva a refletir acerca de temas importantes, que tiram nosso sossego até os dias de hoje.

Só por esses detalhes a obra já merece um lugar em qualquer prateleira. Mas ela não é perfeita!

O autor adorava escrever romances longos, com linguagem rebuscada e um estilo truncado, além de parágrafos longuíssimos. Ele corria contra o tempo e mal revisava seus trabalhos.

Quem sofre somos nós, já que a leitura acaba sendo um pouco cansativa. Outro ponto negativo são os personagens, seus modos e falas, não soando muito como pessoas reais. É uma linguagem extremamente literária.

Quanto maior for a maturidade daquele que lê, melhor será a experiência com Os irmãos Karamázov. Com certeza eu terei que fazer uma nova leitura quando for mais velho. Os defeitos que citei não diminuem a qualidade e grandeza desse monumento literário. Realizar sua leitura é uma atividade prazerosa, enriquecedora e necessária para amantes da literatura clássica.

Nota (de 0 a 5): 4,5

Os Irmãos Karamázov em dois volumes, pela Editora 34
Bonita ou não? A divisão em dois volumes é tudo de bom!

Ficha técnica

Título: Os irmãos Karamázov
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Paulo Bezerra
Editora: Editora 34
Ano: 2012 – 3ª ed.
Páginas: 1040
ISBN-13: 978-8573264098
Encontre esse livro na Amazon: https://amzn.to/37J1p8h

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Forte abraço!


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

17 pensamentos

  1. Bom dia, acabei de ler “Os irmãos Karamazov” ontem. Li a tradução indireta de Herculano Villas Boas. Já tinha ouvido falar que a melhor é da editora 34, mas não do tradutor em si.
    Lendo trechos das 2 traduções, achei estranho quando diz que Dostoievski era duro e direto, e a tradução do francês romantiza muito. Comparando as duas, a tradução direta divaga muito mais, da TI, do francês, é muito mais direta.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Olá.
      Dostoiévski é conhecido por ser “duro” por, muitas vezes, não ter uma linguagem tão poética, divagar muito e, por vezes, enrolar demais. Isso é sempre mantido nas traduções diretas. Um motivo para isso é que ele era pago por páginas escritas. Quanto mais escrevesse, mais poderia ganhar. Por isso seus livros são verdadeiros calhamaços.

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    1. Fala, Ivaldo! Tudo bem?

      Obrigado, fico feliz que tenha gostado!

      Sim, eu já li muitas traduções de Oleg Almeida. Eu gosto do trabalho dele, além de um grande tradutor, é também um grande poeta. Domina muitíssimo bem o idioma russo. Sempre que possível, dou preferência para as traduções do Oleg. Eu recomendo, caso esteja com dúvida. É uma pena ele não ter traduzido Os Irmãos Karamázov. Seria interessante que alguma editora publicasse uma nova tradução da obra.

      Espero ter ajudado.

      Abraço.

      Curtido por 1 pessoa

  2. Alan, li sua crítica e li de outros tb. Quero me familiarizar com os personagens para evitar confusoes. Obras russas têm grande variacao de nomes. Sofri muito com Dr. Jivago de Pasternack (hehe). Quanto a mim não incomodam tradutores com pensamento de esquerda. Outros, sim. Estou começando a leitura de Irmãos Karamazov com grande expectativa. Comprei a edicao da Martim Claret, sem me preocupar com tradução direta ou nao. Agradeço tua análise, me ajuda muito nesta preparação, sem dar o tal de spoiler, claro. Vlw!!

    Curtido por 2 pessoas

    1. Olá, Eduardo! Como vai?

      É verdade, não é fácil se adaptar com os nomes russos. Ora os personagens são chamados pelo nome, ora pelo patronímico, ora pelo sobrenome. Aí fica complicado, né, pois os nomes são bem diferentes de nossa cultura!

      Siga sem medo, não há segredo para ler clássicos. Basta saber ler! O resto é questão de adaptação com diferenças culturais. Algumas poucas páginas já servem para contornar esse “problema”!

      Tenho certeza que você vai curtir o livro! Não sei se você já viu, mas fiz uma comparação entre a edição da Martin Claret e da Editora 34. Caso queira ler: https://anatomiadapalavra.com/2021/01/13/melhor-traducao-de-os-irmaos-karamazov/

      Boa leitura! Obrigado pela visita e pelo comentário!

      Abraço.

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    1. Olá, Marcos! Tudo bem?

      Interessante! Não sabia dessa novela. Vou pesquisar mais a respeito! Uma ótima curiosidade para quem já leu o livro.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! Espero que tenha gostado do post!

      Abraço.

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      1. Sim, Carlos Zara, Eva Vilma, Everton de Castro, Cláudio Correa e Castro, Toni Ramos, Laerte Morrone, Adriano Reis, Lélia Abramo, faziam parte do elenco. A abertura era fantástica o MPB 4 cantando Galope de Gonzaguinha!!

        Curtido por 2 pessoas

    1. Com certeza. Um autor essencial. Reler essa obra deve ser uma experiência maravilhosa, que também farei em algum momento do futuro.
      Obrigado pela visita e pelo comentário. Boas festas, que você tenha um ótimo final de ano!
      Abraço.

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