Os irmãos Karamázov: qual tradução escolher?

Editora 34 ou Martin Claret? Paulo Bezerra ou Herculano Villas-Boas? Qual a melhor tradução de Os irmãos Karamázov? Veja um comparativo entre as duas edições e descubra qual escolher!


Melhor tradução de Os Irmãos Karamázov: na imagem, pintura de Fiódor Dostoiévski ao fundo, sobreposto pelos logos das editoras Martin Claret e Editora 34

Nenhuma obra é unânime, mas Os irmãos Karamázov chega perto. Último romance publicado por Fiódor Dostoiévski em vida, foi, e ainda é, inspiração para grandes romancistas e filósofos, como Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche. Aliás, se você deseja entender mais a respeito da narrativa em si, clique aqui e leia minha resenha.

Um clássico dessa magnitude merece ser lido numa boa tradução, nada mais justo. Hoje, no mercado, as duas edições mais populares são a da Editora 34 e a da Martin Claret. Ambas exibem características particulares, por isso diversos leitores ficam hesitantes na hora de decidir qual delas comprar. A principal dúvida: qual a melhor tradução?

Visando esclarecer essa questão, este artigo apresentará um cotejo entre as duas edições, comparando tanto aspectos físicos quanto as traduções. Já adianto não ser perito em tradução, muito menos domino a língua russa. Minha análise será baseada em pesquisa e bom senso. Desse modo, não me aterei a tecnicidades.

Chegou a hora da verdade. Vamos conhecer as particularidades de cada edição e descobrir qual a mais adequada para você, leitor!

Conteúdo do post
1. Os irmãos Karamázov pela Editora 34
2. Quem é Paulo Bezerra?
3. Os irmãos Karamázov pela Martin Claret
4. Quem é Herculano Villas-Boas?
5. Analisando as traduções
6. Conclusões
7. Referências

Os irmãos Karamázov pela Editora 34

Publicada pela primeira vez em 2008, a versão da Editora 34 chegou à 3ª edição no ano de 2012. Com tradução de Paulo Bezerra, faz parte da Coleção Leste, dedicada à publicação de grandes obras do Leste Europeu, apresentando traduções primorosas e diretas dos idiomas de origem.

Se hoje em dia nós, leitores, somos bastante críticos em relação às traduções que são publicadas em nosso país, muito devemos à 34. Foi ela que popularizou as traduções diretas, em especial do russo, visto que a história dos clássicos da terra de Tolstói e companhia, no Brasil, foi sempre marcada por traduções indiretas. Graças ao empenho da editora e de seus colaboradores, esse cenário mudou, principalmente a partir dos anos 2000.

A Editora 34 já publicou vários livros de Fiódor Dostoiévski, sempre prezando pela qualidade de suas traduções. Com Os irmãos Karamázov não fizeram diferente. Ostentando uma tradução direta do original em russo, a obra vem dentro de uma caixa (ou luva) de papel cartão, dividida em dois volumes. Trata-se de um romance em quatro partes com epílogo. O primeiro volume possui uma apresentação do autor, as duas primeiras partes e uma lista de personagens. Já o segundo, além das duas partes finais e do epílogo, possui uma lista de personagens e um posfácio do tradutor.

Brochura, capas com orelhas, miolos em papel Pólen Soft e boa diagramação, ambos os volumes somam um total de 1040 páginas! O diferencial dessa versão, além da tradução, são as ilustrações de Ulysses Bôscolo, sem falar das inúmeras notas de rodapé, que auxiliam na compreensão da cultura russa e do romance em geral.

  • Edição da Editora 34 de Os Irmãos Karamázov, divididas em dois volumes, ambos em uma caixa
  • Capas dos dois volumes da obra Os Irmãos Karamázov pela Editora 34
  • Contracapa do livro Os Irmãos Karamázov pela Editora 34
  • Os Irmãos Karamázov pela Editora 34 tem tradução de Paulo Bezerra e ilustrações de Ulysses Bôscolo
  • Prefácio da obra Os Irmãos Karamázov pela Editora 34

Logo nas primeiras páginas há uma nota indicando: traduzido do original russo Pólnoie sobránie sotchiniénii v tridtsatí tomákh — Khudójestvennie proizvediénia (Obras completas em 30 tomos — Obras de ficção) de Dostoiévski, tomos XIV e XV, Ed. Naúka, Leningrado, 1976.

Quem é Paulo Bezerra?

Fotografia de Paulo Azevedo Bezerra, tradutor, professor e crítico literário brasileiro, responsável pela tradução de diversas obras de Fiódor Dostoiévski
Paulo Bezerra é um dos nomes mais importantes da tradução literária russa no Brasil — Foto: Reprodução/YouTube

Tradutor, professor e crítico literário, o brasileiro Paulo Bezerra já verteu para o português várias obras de grandes autores e pensadores russos. Com uma carreira premiada — como o 3º lugar no Prêmio Jabuti de 2009 pela tradução de Os irmãos Karamázov, e a Medalha Púchkin, em 2012, por sua contribuição à divulgação da cultura russa no exterior —, ele é um dos principais nomes da Editora 34.

Estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, graduando-se em 1969 com especialização em tradução de obras técnico-científicas e literárias. Quando retornou ao Brasil em 1971, fez graduação em Letras na Universidade Gama Filho, mestrado e doutorado na PUC-RJ, e defendeu tese de livre-docência na FFLCH-USP¹.

Atuou como professor de teoria da literatura na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de língua e literatura russa na Universidade de São Paulo e de literatura brasileira na Universidade Federal Fluminense, pela qual se aposentou (sendo recontratado posteriormente). Enquanto crítico, já publicou diversos artigos em coletâneas, jornais e revistas.

Basta observar o currículo do homem para perceber se tratar de alguém extremamente competente. Contudo, há pessoas que criticam suas traduções, não por conta da qualidade técnica, mas sim pela visão política de Paulo Bezerra. Tais pessoas chamam o tradutor de comunista, razão pela qual seu trabalho não seria de confiança. É possível ver alguns exemplos nas avaliações de clientes no site da Amazon.

Parte dessas pessoas devem manifestar tal crítica por conta de um vídeo de Olavo de Carvalho, onde este critica o posfácio de Paulo Bezerra à edição da Editora 34 de Os demônios. Segundo Olavo, não se deve confiar em Bezerra, uma vez que este estudou na União Soviética e, em seu posfácio ao romance supracitado, supostamente defende o comunismo.

Ora, julgar uma tradução com base em um posfácio e na ideologia política do tradutor é puro preconceito, uma avaliação que não deve ser levada a sério! Onde o mundo vai parar se avaliarmos o ofício de cada cidadão tendo como parâmetro algo tão pessoal quanto a concepção política? A cada dia que passa parece que as pessoas estão mais e mais alienadas.

Quando li Os irmãos Karamázov, foi na versão da 34. Trata-se de uma ótima tradução, sem quaisquer interferências ou deturpações. Aliás, o livro concebe críticas ao socialismo. Tanto o tradutor quanto a editora são sérios e profissionais.

Comunista ou não, o problema é de Paulo Bezerra. Todo cidadão é livre para pensar como quiser! Ele tem o direito de expressar sua opinião em um posfácio. O que ele não pode fazer é alterar o sentido que o autor imprimiu ao texto, deturpando-o conforme seus valores pessoais. E isso não ocorreu; nem Bezerra, nem a Editora 34 seriam tão amadores.

Os irmãos Karamázov pela Martin Claret

Conhecida por edições baratas de grandes clássicos da literatura universal, a Martin Claret já passou perrengues. Acusada de plagiar traduções, a reputação da editora foi prejudicada.

Entretanto, a partir da última década, a situação vem mudando. A empresa se repaginou, levando ao mercado livros com traduções mais cuidadosas e acabamento premium (um nicho bem forte, ainda mais após o fim da Cosac Naify). As adversidades do passado serviram de lição e motivação.

No ano de 2013 a Martin Claret publicou sua nova edição de Os irmãos Karamázov. Infelizmente, a tradução assinada por Herculano Villas-Boas não é direta. A própria editora admitiu se tratar de um trabalho indireto, a partir do francês.

Aquilo que mais chama a atenção nessa versão é sua qualidade material. Capa dura, lindo projeto gráfico, miolo em papel Pólen Soft, fita marcadora de página e boa diagramação. Apesar de não ser ilustrada, também conta com um vasto número de notas de rodapé. Nenhum tipo de texto adicional está presente nessa edição, somente o prefácio do autor.

  • Edição da Martin Claret de Os Irmãos Karamázov, em capa dura
  • Capa do romance Os Irmãos Karamázov pela Martin Claret, detalhe em capa dura
  • Contracapa da edição da Martin Claret de Os Irmãos Karamázov
  • A edição de Os Irmãos Karamázov da Martin Claret foi traduzida do francês por Herculano Villas-Boas e conta com a tradução técnica de Oleg Almeida
  • Prefácio do romance Os Irmãos Karamázov na versão da Martin Claret

Procurando dar uma “russificada” no texto, Oleg Almeida executou uma revisão técnica. Ele é um poeta e tradutor bielorrusso radicado no Brasil desde 2005. Tendo a língua russa como materna e uma enorme bagagem literária, suas traduções diretas, pela Martin Claret, fazem enorme sucesso. Para esta, já verteu obras de Dostoiévski, Turguênev, Gógol, Tolstói, entre outros. Oleg já me concedeu uma entrevista, que pode ser lida aqui.

Quem acompanha a editora está ciente da tentativa dela de buscar uma nova identidade, mais séria e com forte apoio dos leitores, sobretudo nas redes sociais. Está no caminho certo. Todavia, por causa das antigas polêmicas, vai demorar um pouco para a Martin Claret despontar em grandes premiações nacionais.

Quem é Herculano Villas-Boas?

Tradução indireta: a Martin Claret admite, em sua página no Facebook, que a tradução de Herculano Villas-Boas foi feita a partir do francês
Editora Martin Claret admite que a tradução de Herculano Villas-Boas é indireta, a partir do francês. Clique para ampliar

Herculano Villas-Boas graduou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo, fez mestrado em Letras e Teoria Literária pela Unicamp, onde também fez doutorado na mesma área, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e em Ética e Filosofia Política no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)².

Exímio conhecedor da língua francesa, já traduziu grandes escritores desse idioma para variadas editoras, dentre elas a Estação Liberdade, Nova Fronteira, Martins Fontes, L&PM e Geração Editorial. Para a Martin Claret, verteu obras de Balzac, Stendhal, Flaubert e Dumas, só para citar alguns. São traduções de alto nível.

Pouca informação a respeito da biografia de Herculano Villas-Boas está disponível na internet. Ele mantém uma conta no Facebook, onde descreve seus trabalhos já publicados e costuma postar sobre política. Será que também o chamarão de comunista e criticarão suas traduções com base em seus ideais políticos?

Analisando as traduções

À esquerda, a edição da Editora 34 do livro Os Irmãos Karamázov, à direita, a da Martin Claret
Qual sua edição preferida?

Martin Claret x Editora 34: qual a melhor edição de Os irmãos Karamázov? Chegou a hora de comentar acerca das duas traduções. Como eu disse, não domino o idioma de Dostoiévski, então não haverá nenhum cotejo com o original. Será uma análise pela perspectiva de um leitor e consumidor crítico. Afinal, quando lemos livros, estamos consumindo um produto ao mesmo tempo.

Sabemos que a tradução de Paulo Bezerra é direta, a partir de uma versão crítica do romance, e que a de Herculano Villas-Boas é indireta, a partir do francês. Porém, o que é uma tradução indireta (TI)? Será esse tipo de trabalho (sempre) ruim?

A TI é um procedimento (e um resultado deste) de transpor textos, tendo como base uma tradução já existente, em algum idioma, do texto-fonte³. Ou seja, é a tradução de uma tradução. Alguém verteu Os irmãos Karamázov para o francês; Villas-Boas pegou esse texto em francês e o traduziu para o português.

Em toda tradução há perdas estéticas e de estilo. O tradutor estará lidando com outra língua, outras regras, outra cultura e com um escritor de uma outra época. Por isso ele também é um artista, que necessita ser dono de grande conhecimento literário, linguístico e cultural, para assim desenvolver um bom trabalho.

O simples fato de ser uma tradução direta (TD) não significa que ela seja boa, ou próxima do original. Temos que considerar que TIs não são necessariamente piores do que TDs. Ainda mais quando colocamos na balança uma atribuição de valor que leve em conta o impacto de recepção de cada tradução. Jorge Luis Borges dizia que, quando pensamos nas Mil e uma noites, pensamos na tradução pioneira da narrativa árabe para o francês, realizada por Antoine Galland, um trabalho que lançou mão da criatividade do tradutor, que fez adaptações e alterações4. As alterações de Galland constituem parte do imaginário ocidental. Ainda que uma TD, o texto final ficou distante do original.

No entanto, um profissional hábil, que realiza uma TD, está bebendo diretamente da fonte do autor. As chances de distorções são maiores em TIs, onde o tradutor está utilizando como base um texto já alterado, que já não expõe as exatas palavras de seu criador.

Imagine que a TD seja um suco, 100% laranja, e a TI um néctar, 50% laranja. Nenhum tem o sabor exato da fruta fresca, contudo, o suco é aquele que mais se aproxima, detendo maior quantidade de características de sua matéria-prima.

Precisamos lembrar que as TIs tiveram importante papel na divulgação literária e cultural, e ainda são um fenômeno presente no mundo globalizado5. A psicanálise no Brasil, por exemplo, se desenvolveu a partir de TIs das obras de Freud, concebidas a partir do inglês, e não do alemão. Até por isso utiliza-se os termos Id, Ego e Superego, uma latinização da tradução inglesa, que tenta deixar os termos mais “científicos”. No original, o médico austríaco escreveu Es, Ich e Über-Ich, isto é, Isso, Eu e Supereu.

Nem sempre foi possível obter os textos originais para traduzi-los, e não havia tanta demanda por TDs. Só que o jogo virou, os leitores estão mais exigentes. Hoje é bem mais simples obter os manuscritos originais e existem muitos tradutores competentes, com ótima formação acadêmica. Em nossa realidade atual as TIs não fazem tanto sentido.

Separei alguns trechos de ambas as traduções d’Os irmãos Karamázov, abaixo transcritos. Destarte, será possível realizar um cotejo e contemplar pequenos contrastes e similaridades. Observe:

PB = Tradução de Paulo Bezerra
HVB = Tradução de Herculano Villas-Boas

Alieksiêi Fiódorovitch Karamázov era o terceiro filho do fazendeiro de nosso distrito Fiódor Pávlovitch Karamázov, muito famoso em sua época (aliás, ainda hoje é lembrado entre nós) por seu fim trágico e obscuro, ocorrido há exatos treze anos, e sobre o qual relatarei no devido momento. Agora, porém, direi a respeito desse “fazendeiro” (como o chamavam entre nós, embora durante toda sua vida ele quase não morasse em sua fazenda) apenas que era um tipo estranho, desses encontrados, todavia, com bastante frequência, justamente um tipo de homem não só reles e devasso, mas ao mesmo tempo bronco — contudo, daqueles broncos que, não obstante, sabem arranjar magistralmente seus negociozinhos com propriedades e, parece, só e unicamente estes. Fiódor Pávlovitch, por exemplo, começou quase do nada, era um fazendeiro insignificante, vivia a correr atrás de almoços em mesas alheias, empenhava-se a fundo na condição de comensal, mas ao morrer deixou uma quantia que beirava os cem mil rublos em dinheiro sonante. E, ao mesmo tempo, passou toda a vida, apesar de tudo, sendo um dos mais broncos extravagantes de todo o nosso distrito. Torno a repetir: aí não se trata de tolice; em sua maioria esses extravagantes são bastante inteligentes e ladinos: trata-se precisamente de bronquice, e ainda por cima de uma bronquice algo peculiar, nacional.

(PB, p. 17)

Alexei Fiódorovitch Karamázov era o terceiro filho de um fazendeiro de nosso distrito, Fiódor Pávlovitch, cuja morte trágica, há treze anos, provocou muito barulho em seu tempo, e ainda está longe de ser esquecida. Adiante, falarei mais desse acontecimento; agora, vou limitar-me a dizer algumas palavras sobre esse “proprietário”, como o chamavam, embora ele quase nunca tivesse vivido em sua “propriedade”. Fiódor Pávlovitch era uma dessas pessoas ao mesmo tempo corruptas e inábeis — tipo estranho, mas bastante comum —, que se limitam a cuidar apenas de seus próprios interesses. Ele começara a viver com quase nada, era um pobre pequeno proprietário a buscar ser convidado à mesa dos outros, procurando viver como um parasita. Todavia, depois dos cinquenta anos possuía cerca de cem mil rublos em dinheiro líquido. O que não o impediu de ser, por toda a vida, uma das pessoas mais extravagantes e incoerentes de nossa região. Digo e repito: extravagante, e não idiota — pois as pessoas dessa espécie são, em sua maioria, inteligentes e astutas. Trata-se de uma incoerência específica, nacional, russa.

(HVB, p. 21)

— Bem-aventurada criatura! — exclamou com sentimento —, permita-me mais uma vez lhe beijar a mão! Não, com o senhor ainda dá para conversar, ainda dá para viver! O senhor pensa que eu sempre minto assim e banco o palhaço? Pois fique sabendo que estive o tempo todo representando de propósito para tentá-lo. Fiquei o tempo todo a sondá-lo com um fim: daria para viver com o senhor? Haveria, junto à sua altivez, lugar para minha humildade? Dou-lhe o diploma da lisonja: com o senhor dá para viver! Agora me calo, vou ficar o tempo todo de boca calada. Sentado na poltrona e de boca calada. Agora é sua vez de falar Piotr Alieksándrovitch, agora resta o senhor como a pessoa mais importante… por dez minutos.

(PB, p. 74)

— Bem-aventurado! — exclamou com sentimento — Permita-me beijar sua mão mais uma vez! Ainda se pode conversar com o senhor, ainda se pode viver. Acha, talvez, que eu minto sem parar e sempre faço o papel de tolo? Era só para descobrir se é possível conviver com o senhor, se existe lugar para a minha humildade ao lado de sua altivez. Dou-lhe um certificado de sociabilidade! Agora, não direi mais nada. Vou me sentar e me calar. Agora é a sua vez de falar, Piotr Alexândrovitch, você vai ser o personagem mais famoso… por dez minutos.

(HVB, p. 61)

— Divino e santíssimo stárietz! — bradou ele, apontando para Ivan Fiódorovitch. — Este é meu filho, carne de minha carne, minha muito amada carne! Ele é o meu respeitabilíssimo, por assim dizer, Karl Moor, mas este outro filho aqui que acabou de entrar, Dmitri Fiódorovitch, contra o qual busco aqui sua justiça, é o irrespeitabilíssimo Franz Moor — ambos de Os bandoleiros de Schiller, e eu, neste caso, eu mesmo sou o Regierender Graf Von Moor! Julgue e me proteja! Precisamos não só de rezas, mas também de suas profecias.

(PB, p. 112)

— Divino e santo mestre — exclamou ele, apontando Ivan Fiódorovitch —, eis meu filho bem-amado, carne da minha carne! Ele é, digamos assim, meu muito respeitoso Karl Moor; mas eis meu outro filho que acaba de chegar, Dmítri Fiódorovitch, de quem venho reclamar perante o senhor: ele é meu muito irrespeitoso Franz Moor — ambos emprestados de Os bandoleiros, de Schiller —, e eu, nessas circunstâncias, sou o “Regierender Graf von Moor”! Julgai-nos e salvai-nos! Precisamos não apenas de suas orações, mas também de suas previsões.

(HVB, p. 87)

Início de novembro. Entre nós começou o frio de uns onze graus abaixo de zero e, com ele, tudo se cobriu de gelo. À noite caiu um pouco de neve seca na terra gelada, e um vento “seco e cortante” levanta e arremessa a neve pelas fastidiosas ruas de nossa cidadezinha e sobretudo na praça do mercado. A manhã está turva, mas a nevezinha parou de cair. Não longe da praça, perto da venda dos Plótnikov, fica a residência da viúva do funcionário Krassótkin, uma casa pequena e muito limpinha por fora e por dentro. O próprio secretário de província Krassótkin já morreu há muito tempo, quase catorze anos, mas sua viúva, uma senhorinha de uns trinta anos e até hoje ainda muito bonitinha, está viva e vive “de seu capital” em sua casinhola limpinha.

(PB, p. 671)

Início de novembro. Entre nós, instalara-se um frio de onze graus abaixo de zero e, com ele, o gelo. No solo gelado, um pouco de neve seca caiu à noite e o vento “seco e cortante” a levanta e a leva através das ruas enfadonhas de nossa cidade, principalmente pela praça do mercado. A manhã é sombria, mas a neve parou de cair. Não muito longe da praça, perto da mercearia dos Plótnikov, encontra-se a pequena casa, bem limpinha por dentro e por fora, da viúva do funcionário Krassótkin. O “secretário do governo” Krassótkin morreu há muito tempo, há cerca de catorze anos, mas a sua viúva, uma pequena e ainda bonita mulher de uns trinta anos, continua ali e vive “de rendas”, em sua pequena casa limpinha.

(HVB, p. 585)

— Voltaire cria em Deus, mas, é claro, pouco, e parece que também amava pouco a humanidade — pronunciou Aliócha com voz baixa, contida e absolutamente natural, como se conversasse com alguém de sua idade ou uma pessoa mais velha. Kólia ficou impressionado com justamente essa aparente insegurança de Aliócha ao opinar sobre Voltaire, como se ele deixasse a solução desse problema justamente com ele, o pequeno Kólia.

(PB, p. 721)

— Voltaire acreditava em Deus, mas não muito, acho, e também acho que ele não amava muito a humanidade — respondeu mansamente Aliocha, em tom reservado e totalmente natural, como se falasse com alguém de sua idade, ou mesmo com alguém mais velho do que ele. O que surpreendeu Kólia foi justamente essa falta de certeza de Aliocha em sua opinião sobre Voltaire, parecendo deixar a ele, ao pequeno Kólia, a responsabilidade de solucionar a questão.

(HVB, p. 631)

— Oh, sim, tudo… quer dizer… por que o senhor acha que eu não teria entendido? Ali, é claro, há muitas indecências… Eu, evidentemente, estou em condição de compreender que se trata de um romance filosófico e que foi escrito para afirmar uma ideia… — Kólia já estava completamente atrapalhado. — Eu sou socialista, Karamázov, sou um socialista incorrigível — cortou de chofre sem quê nem pra quê.
— Socialista? — Aliócha deu uma risada —, mas quando é que você arranjou tempo? Ora, você não tem só treze anos?

(PB, p. 721)

— Claro, compreendi tudo… isto é… Por que o senhor acha que eu não compreendi? Claro, há muitas passagens bem obscenas no livro… Naturalmente, eu sou bem capaz de compreender, é um romance filosófico: Voltaire escreveu esse livro para iluminar uma ideia… — se confundiu todo, agora de uma vez por todas. — Eu sou socialista, Karamázov eu sou um socialista incorrigível — disse Kólia, abreviando, mudando de assunto.
— Socialista? — Aliocha começou a rir. — Mas quando você teve tempo de se tornar um socialista? Você só tem treze anos, acho…

(HVB, p. 631)

— Quando eu já era réu ele me arrancou dinheiro a título de empréstimo! É um Bernard desprezível e carreirista, não crê em Deus e engazopou o reverendíssimo!

(PB, p. 865)

— Ele me roubou dinheiro, quando eu já estava preso! Naturalmente, ele não passa de um “Claude Bernard” desprezível, de um naturalista arrivista, que nem acredita em Deus e enganou Sua Eminência!

(HVB, p. 779)

— E sempre assim, de mãos dadas para o resto da vida! Hurra, Karamázov! — gritou Kólia mais uma vez entusiasmado, e mais uma vez todos os meninos secundaram sua exclamação.

(PB, p. 999)

— Eternamente assim, por toda a vida, de mãos dadas! Viva Karamázov! — gritou, mais uma vez, Kólia, entusiasmado, e, mais uma vez, todos os meninos ecoaram o seu grito.

(HVB, p. 910)

Conclusões

Foi possível notar que ambas as traduções narram os mesmos fatos, mas de maneiras diferentes. Claro, são tradutores distintos, então é impossível que escrevam identicamente, todavia, as divergências ocorrem também devido ao texto base utilizado em cada trabalho.

Vemos algumas diferenças, como os nomes de alguns personagens, a organização das orações e algumas nuances aqui e ali. Há, igualmente, semelhanças, como certos diálogos que, no original estão em francês, alemão ou polonês, e foram mantidos nas duas traduções.

Aquele que ler a TI de Herculano Villas-Boas estará lendo a mesma história, os mesmos acontecimentos, entretanto, com prejuízos estéticos. Se já houve perdas na tradução para o francês, então imagina do francês para o português! Sem falar que, de acordo com o falecido mestre Boris Schnaiderman, os franceses são os piores tradutores de Dostoiévski na Europa6. O estilo dele é seco, duro, e os franceses tinham o costume de romantizar sua linguagem, deixando-a mais “bonita”. Em outras palavras, ler uma TI não é ler exatamente aquilo que o autor escreveu.

Se a edição de Os irmãos Karamázov da Martin Claret tivesse sido traduzida por Oleg Almeida, seria minha preferência. Gosto e confio no trabalho dele, e não entendo o porquê de terem passado a função para Herculano Villas-Boas, que também é um baita profissional, porém seu empenho resultou numa TI, quando a editora poderia dispor de uma TD.

Da mesma forma acredito no prestígio da Editora 34 e de seus colaboradores. Não sou capaz de afirmar, tecnicamente, qual tradução é a melhor, todavia, posso dizer que a TD de Paulo Bezerra, que é um grande e experiente profissional, com incontáveis traduções no currículo, sofreu menos interferências. A conservação do estilo original do autor, em uma TD, é muito mais provável.

Quem adquirir a versão da Martin Claret conhecerá o enredo, o desenrolar da trama, os debates filosóficos e terá em mãos um belo produto em capa dura. Apesar disso, para uma experiência mais completa e próxima do original (próxima, já que não existe tradução perfeita), eu indicaria a edição da Editora 34, que possui maior valor acadêmico e, acima de tudo, é a única tradução direta da obra disponível nas livrarias brasileiras. Ao menos até o momento.

Referências

1. DOSTOIÉVSKI, F. Os irmãos Karamázov. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2012. (Coleção Leste). Tradução de Paulo Bezerra.

2. DOSTOIÉVSKI, F. Os irmãos Karamázov. São Paulo: Martin Claret, 2013. Tradução de Herculano Villas-Boas.

3. ACCÁCIO, M. A. Tradução indireta: uma prática de divulgação e enriquecimento cultural. TradTerm, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 97-117, jun. 2010. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/tradterm/article/view/46313/50076. Acesso em: 11 jan. 2021.

4. CARDOZO, M. M. Mãos de segunda mão? Tradução (in)direta e a relação em questão. Trab. linguíst. apl., Campinas, v. 50, n. 2, p. 429-442, dez. 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-18132011000200012. Acesso em: 11 jan. 2021.

5. HANES, V. L. L. (Re)pensando o conceito de tradução indireta em obras literárias. Ilha Desterro, Florianópolis, v. 72, n. 2, p. 17-24, ago. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n2p17. Acesso em: 11 jan. 2021.

6. RESENDE, A. Tradutor de mais de 50 obras russas, Paulo Bezerra fala de literatura, política e regionalismos. G1 PB, João Pessoa, 04 mar. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/03/04/tradutor-de-mais-de-50-obras-russas-paulo-bezerra-fala-de-literatura-politica-e-regionalismos.ghtml. Acesso em: 11 jan. 2021.


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

21 pensamentos

  1. Na minha opinião, prefiro muito mais a tradução do casal Guerra (que irá sair agora pelo Clube da Literatura Clássica). Já vi algumas comparações onde parece que Paulo Bezerra oblitera alusões a textos bíblicos no texto (perdendo assim a intertextualidade que Dostoiévski fazia com as Escrituras). Não sei se isso era proposital ou mera falta de conhecimento teológico. Quanto às traduções indiretas, não dá pra confiar nelas.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Olá, Christian. Como vai?

      Eu nunca li essa tradução do casal Guerra, justamente por ser uma tradução portuguesa, o que dificulta o acesso. Mas é bom saber que será publicada por aqui. Quanto mais traduções diretas no mercado, melhor. Isso só faz aumentar o nível.

      Eu já vi muitas críticas ao Paulo Bezerra, porém sempre com algum teor político ou religioso. Nunca encontrei algo técnico, que mostre que o trabalho dele seria de fato inferior. Acho que o trabalho do casal deve ser de extrema qualidade, porém, penso que o brasileiro tem uma tendência de achar que o que é feito em terras portuguesas é melhor do que aquilo que é feito por aqui.

      Creio que cada tradução é capaz de agradar mais a determinadas pessoas que outras. E até por isso é interessante haver traduções variadas no mercado, para que cada um possa escolher aquela que mais agradar, o que facilita também o acesso. Eu sempre dou preferência a traduções diretas, mas, se apenas existir uma tradução indireta, é melhor ler do que não ler nada.

      Obrigado pela visita e por comentar.

      Abraço

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      1. Pois é, Alan, mas uma das questões técnicas é justamente esse ponto da referência intertextual (o fato dela ser “religiosa” não tira o peso do problema). Outra crítica ao Bezerra seria o uso de regionalismos na tradução, o que pode não agradar todo leitor. No demais, creio que enaltecer uma tradução “de fora” não é uma atitude de menosprezo às traduções nacionais (já vi casos de traduções portuguesas ruins também). No final, cabe ao leitor analisar esses pormenores e escolher a tradução mais adequada. Abraços!

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    1. Olá, Alan! Estou lendo O Idiota. Já li Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo também, cujas traduções são do Paulo Bezerra. Passei a semana dando uma olhada em vídeos no YouTube e a acabei por ler esse seu blog. Fiquei assustado com um vídeo no qual a crítica ao Paulo Bezerra beira o preconceito ideológico e até mesmo da origem dele, nordestino com eu. Minha opinião é que alguns leitores, talvez por falta de pesquisa e bom senso, veem problemas onde não há. Tem um vídeo muito bom, já de alguns anos, que o Paulo Bezerra explica as dificuldades de ser tradutor e principalmente de traduzir Dostoiévisk. Ele fala do uso de “regionalidades” na tradução direta do russo, pois a polifonia na obra de Dostoiévisk exige. Além da complexidade inerente a toda tradução. Acho preconceito o fato de um tradutor do calibre de Bezerra ser criticado por seu maravilhoso trabalho. As edições da 34 são recheadas de notas de rodapé, talvez os leitores mais preguiçosos não percebam a importância disso. Além de um dicionário em mãos, que sempre ajuda o leitor.
      Desculpe pelo texto grande. Mas não podemos deixar a literatura ser objeto de paixões ideológicas em tempos estranhos.
      Valeu!

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  2. Parabéns pelo cuidado e dedicação ao redigir esse texto. Gostei muito. E graças aos detalhes que inclui, pude ter uma conclusão diferente da sua, apenas pela questão da fluidez do texto de Herculano. O texto de Bezerra parece, de fato, muito truncado, como se ele não se preocupasse em deixar a tradução no modo mais usual da lingua portuguesa – e, por usual, não digo coloquial; apenas mais comum mesmo. Então, por uma leitura mais prazerosa, vou optar pela de HVB. Obrigado pelo insumo!

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    1. Olá, Jurandir. Tudo bem?

      Essa é a intenção do texto, apresentar detalhes das traduções para o leitor tirar suas próprias conclusões, escolhendo a que mais lhe agrada.
      Tenho certeza que você vai apreciar muito esse livro, é incrível, um dos melhores que já li até hoje.

      Obrigado pelas palavras, fico feliz em saber que o artigo foi útil!

      Abraço.

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  3. Olá amigo, adorei o artigo, há outra tradução para o português, da Editorial Presença, de Portugal, traduzida diretamente do russo pela Nina Guerra (russa da gema) e Felipe Guerra, você conhece esta versão? Claro que o acesso ao livro físico é bem complicado, porque só é vendido lá em Portugal, mas há a versão digital, volumes 1 e 2, por cerca de 170 reais no site da editora (presenca.pt), mas achei uma versão gratuita desta editora, em volume único, de 2002, antes da reforma ortográfica entrar em vigor, está disponível no site 1lib.org,

    Vou colocar aqui no comentário o primeiro trecho (para não ficar longo), para fins de comparação entre as traduções portuguesas da obra:

    Aleksei Fiódorovitch Karamázov era o terceiro filho do proprietário
    rural do nosso distrito Fiódor Pávlovitch Karamázov, tão conhecido
    no seu tempo (e ainda hoje recordado) por causa da sua morte
    trágica e obscura, ocorrida exatamente há treze anos e sobre a qual
    falarei na devida altura. Agora digo apenas que este «proprietário
    rural» (como lhe chamavam aqui, embora não tenha vivido na sua
    propriedade durante quase toda a vida) era um tipo estranho,
    desses que no entanto se encontram com bastante frequência, ou
    seja, o tipo de homem não só inútil e depravado, mas ao mesmo
    tempo inapto — desses inaptos que, aliás, sabem tratar muitíssimo
    bem dos seus interesses mas, pelos vistos, só disso. Fiódor
    Pávlovitch, por exemplo, começou praticamente do nada, era um
    proprietário dos mais pequenos, fazia-se convidado para os
    almoços, introduzia-se nas casas alheias como comensal e,
    contudo, quando morreu deixou uma fortuna de cem mil rublos
    líquidos. Era um homem assim e, apesar disso, tal não impediu que
    tivesse sido também um dos loucos mais estrambóticos do nosso
    distrito. Repito: não o era por estupidez — a maioria destes
    estrambóticos são bastante espertos e manhosos —, era-o
    precisamente por inaptidão, ainda por cima de um género especial,
    nacional.

    (Nina Guerra p. 12)

    Fica clara a diferença entre as traduções (compreensível), agora, desconsiderando as diferenças ortográficas e do vocabulário, do português de Portugal e do Brasil, podemos notar uma leve semelhança entre a versão da Editorial Presença e a versão da Editora 34.

    Eu estou esperançoso que um dia, não tão distante no futuro, Oleg Almeida ainda vai traduzir Irmãos Karamazov, como também demais outras grandes obras de Dostoiévski e de outros grandes escritores russos.

    Abraços!

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    1. Olá, Leo! Como vai?

      Eu não conhecia essa tradução de Nina Guerra. Não conheço muito o mercado editorial de Portugal. No artigo resolvi falar das traduções mais populares aqui no Brasil, uma indireta e a outra direta, a única até agora. Entretanto, é muito bom saber que lá eles contam com uma tradução direta, o que pode ajudar outros tradutores, em questão de interpolação dos textos. A tradutora portuguesa utilizou um estilo mais “rústico”, como Bezerra, o que faz mais sentido com o estilo do autor.

      Gostaria de ver uma tradução dessa grande obra pela pena de Oleg Almeida. Todavia, parece ser algo difícil de acontecer (quem sabe por outra editora, que não a Martin Claret). Como há essa tradução portuguesa direta, alguma editora brasileira poderia utilizá-la por aqui, adquirir seus direitos e adaptar o texto ao nosso português local, como é comum acontecer (com o tradutor Frederico Lourenço, por exemplo).

      Obrigado por compartilhar seus conhecimentos e contribuir com o artigo! Também agradeço sua visita e seu comentário!

      Abraços.

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      1. Sim, bem colocado, seria o máximo se o Oleg Almeida traduzisse esta e demais outras obras de Dostoieviski, mas isto fica a critério da Martin Claret, que mais requisita os serviços dele, que deveria ser mais bem reconhecido no cenário nacional. Não sei se você concorda, mas a editora em si, pelos problemas no passado, é o principal motivo das traduções do Oleg não terem tanto destaque como as traduções do Bezerra. A Martin Claret ainda é muito mal vista nos meios acadêmicos e entre os grandes intelectuais, que, a meu ver, pecam ao ignorar o trabalho do Oleg, só por causa da editora, isso é bem triste.

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      2. Verdade. Por conta dos problemas do passado, a Martin Claret não é bem vista no meio acadêmico, nem é muito falada na mídia. Vai ser difícil mudar isso, mas, ao menos, com o empenho que estão tendo com traduções e edições bonitas, o público acaba reconhecendo, mesmo que ela não seja tão falada assim na mídia. Acredito que a editora já alcançou certo reconhecimento com os leitores.
        Grandes editoras acabam trabalhando sempre com os mesmos tradutores, revisores, capistas. Então acaba sendo mais difícil para o Oleg conseguir em espaço no meio, em outras editoras.

        Torço por ele. Grande profissional e ótimo tradutor e poeta!

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  4. Gostei muito desse artigo, estou em dúvida sobre qual das edições comprar. Não sei se você viu, mas a Martin Claret vai relançar (pela milésima vez) Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov e, continuando a linha que ela segue há um tempo, o primeiro será traduzido por Oleg Almeida e o último por Herculano Villas-Boas. Não entendi porque não colocaram todas as traduções para serem feitas pelo Oleg – já que, como você falou, ele possui mais conhecimento da língua russa – mas penso que, se já estão lançando a terceira edição de Os irmãos Karamazov traduzida por HVB, é porque ela foi bem aceita pelos leitores… Essa insistência nessa tradução se alia ao preço mais baixo em relação à Editora 34 e me faz tender a comprar a da Martin Claret, mas fico com receio de perder a “essência” da obra devido às “falhas” da tradução.

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    1. Olá, Amanda! Como vai?

      Agradeço a visita. Fico muito feliz em saber que gostou do post!

      Ambas são boas traduções, feitas por ótimos profissionais. Apesar de ser indireta, a tradução de Herculano Villas-Boas possui a revisão técnica de Oleg Almeida, nativo em russo. Já a de Paulo Bezerra é direta do russo, feita por alguém que conhece a língua.

      Não existe tradução perfeita, ambas possuem defeitos e acertos. Eu escolhi a de Paulo Bezerra porque ela é direta e ele é um profissional respeitado. Quando é assim, sempre dou preferência para as traduções diretas. Quando a tradução é de Oleg Almeida, sempre a escolho, pois gosto desse tradutor. Infelizmente a tradução dos Karamázov não ficou para ele (nem a de “O idiota”).

      A Martin Claret gosta de publicar novas edições dos mesmos livros. Há muita gente que compra as edições por serem bonitas, e a editora já percebeu isso. Essas novas edições que você citou são versões de bolso, agora fizeram diferente. Com certeza devem ser mais baratas. Não acredito que um dia publicarão uma tradução dos Karamázov feita por Oleg. É mais fácil alguma outra editora publicar uma tradução direta, feita por outro profissional.

      Por sua vez, as edições da 34 são geralmente mais caras, tanto pelo nome e respeito da editora, quanto pelas ilustrações. No caso de “Os irmãos Karamázov”, a 34 tem o trunfo de ser a única editora com uma tradução direta. Assim fica mais fácil cobrar um pouco a mais. Todavia, acho que os contratos de tradução entre a 34 e os tradutores são um pouco diferentes do que é comumente praticado. Isso também deve encarecer um tanto.

      Veja se vale a pena pagar um pouco mais caro por uma tradução direta. Tudo vai depender de sua visão e vontade de ler, assim como a intenção de se aprofundar mais no autor.

      Obrigado pelo comentário.

      Abraço.

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  5. Eu achei as traduções do Paulo Bezerra que eu li, muito truncadas comparadas com a fluência das do Oleg Almeida da editora Martin Claret. E isso não é só opinião minha.

    Eu acho que essa ideia de TD ser o céu na Terra uma bobagem, eu quero é que seja A MINHA TRADUÇÃO, aquela q eu ENTENDA e usufrua da leitura. É muito mito em cima da 34 e da tradução perfeita, apesar de respeitar e saber da importância que foi a editora pras primeiras traduções diretos do Russo no país.

    Mas você esqueceu de comentar, que apesar de terem feito, apenas do Irmãos Karamazov, uma tradução indireta, nessas novas edições da Martin Claret, ela foi revisada e “russificada” pelo Oleg que é um russo de origem. Difícil que ele deixa-se escapar algo pelo caminho ou que tire as características do autor. Eu não sou da editora, sou apenas leitor e posso garantir que dá pra ler tranquilamente, sem medo.

    De fato a Martin tem muito chão pela frente pra apagar a imagem que teve no passado, mas também ninguém tem dúvidas que eles tem feito um ótimo trabalho nos últimos anos com os livros russos.

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    1. Olá, Fernando! Tudo bem?

      Então, não sei se você chegou a ler meu artigo na íntegra, porque eu falei, sim, que gosto das traduções do Oleg Almeida, que são minhas favoritas, assim como também comentei a respeito da revisão técnica que ele fez na edição da Martin Claret! É só procurar aí no texto, a informação está lá.

      Ainda que Oleg tenha realizado essa revisão técnica, ele não pode operar milagres. A tradução continua sendo indireta. Por isso eu escolhi ler a edição da Editora 34, que é direta. Mas, como eu disse no artigo, em literatura russa, sempre darei preferência às traduções do Oleg Almeida. Eu até já publiquei uma entrevista com ele, se você quiser ler: https://anatomiadapalavra.com/2018/02/27/entrevista-com-o-poeta-e-tradutor-oleg-almeida/

      Herculano Villas-Boas é um ótimo tradutor, assim como Paulo Bezerra. Claro que seus estilos são diferentes, podendo agradar ou não certo perfil de leitor. As duas editoras são competentes e sérias. A tradução da Martin Claret não é ruim por ser indireta, nem a da 34 é boa somente por ser direta. O que as diferem são detalhes e estilos.

      Como eu disse, não possuo competência técnica para analisar as traduções, uma vez que não domínio a língua russa. Todavia, sempre escolherei uma tradução direta se a outra opção for uma indireta, ainda mais quando se tratar de grandes editoras. Achei uma pena a Martin Claret não ter oferecido a tradução dos Karamázov para Oleg. Fazer o quê? Para nós, leitores de traduções, é isso: ou aprendemos o idioma original, ou lemos as traduções, que nunca serão perfeitas, nem apresentarão a obra com 100% de fidelidade. Cada um terá uma tradução preferida.

      Muitas pessoas têm dúvida sobre qual edição do livro comprar. Achei pertinente escrever esse texto, para ajudá-las.

      Obrigado pela visita e pelo seu comentário!
      Espero vê-lo por aqui mais vezes.

      Abraço.

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  6. Claro está que a tradução de um livro pode “acabar” com ele. No entanto, qualquer tradução, em sua “essência” já nasce falha e defeituosa. Isto porque é produto humano, portanto naturalmente falha e relativa. Some-se a isso o gosto do leitor que varia, e muito, sem possibilidade de “definir” um “padrão de qualidade”. Ao fim e ao cabo, em que pesem os problemas do percurso, o que vale mesmo a pena é a leitura do livro” Gostei de seus comentários. Abraço PS: gostaria de enviar exemplares de meus dois últimos livros para você, na esperança de um comentário acurado e atento como os que você sempre faz. Pode ser?

    Curtido por 1 pessoa

    1. Realmente, toda tradução é imperfeita, seja ela direta ou indireta. Ler a obra é mais importante que tudo, mas o assunto é pertinente. Muita gente tem dúvidas sobre traduções de autores russos, se são diretas ou não, e qual seria melhor. Aprendi muito escrevendo esse artigo.

      Sobre o que falam seus livros? Podemos conversar a respeito. Entre em contato comigo via e-mail, mandando uma mensagem na seção “Contato”.

      Obrigado e abraços.

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      1. Alan,me ajuda na escolha de crime e castigo, qual comprar?, Paulo Bezerra pela a 34 ou Oleg Almeida pela Martin Claret?

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