Resenha do livro Toda luz que não podemos ver, vencedor do Pulitzer de 2015 e finalista do National Book Award.

Quando uma obra de ficção é vencedora de um prestigiado prêmio literário, as pessoas ficam curiosas para conhecê-la, afinal, para merecer os louros da vitória, deve ser excelente. A cada dia que passa, penso se tratar do contrário. Prêmios significam nada, ou melhor, podem significar várias coisas, mas não são sinônimos de qualidade.
Acredito ser possível notar o tom desta resenha. Vamos direto ao ponto, explicando minha decepção.
Dois lados de uma guerra
Toda luz que não podemos ver apresenta um enredo ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, cobrindo dez anos (1934-1944) das vidas de Marie-Laure LeBlanc e Werner Pfennig.
Marie-Laure é uma garota francesa, filha de um funcionário do Museu de História Natural de Paris. Por conta de uma doença ocular, ela perde a visão, precisando se adaptar à nova condição. Com a ajuda do pai, que constrói maquetes de seu bairro, aprende a se locomover de maneira autônoma, e é alfabetizada em Braille. Após a invasão alemã, deixam a capital e fogem para Saint-Malo.
Werner Pfennig é um garoto alemão órfão, que vive com a irmã, Jutta, em um orfanato localizado em Zollverein, um complexo de minas de carvão. Interessa-se por física e tecnologia, sobretudo rádios, os quais logo aprende a consertar. Werner, como inúmeros jovens de seu tempo, é obrigado a servir ao nazismo, ingressando numa escola de treinamento militar. Graças aos seus conhecimentos tecnológicos, consegue um posto melhor e é colocado no Wehrmacht, com o objetivo de rastrear transmissões ilegais e inimigas.
Ficou claro: de um lado veremos a situação dos invadidos, dos franceses, do outro, a dos invasores, os alemães.
Um roteiro
Este é um daqueles livros que começam pelo fim e depois relatam como as coisas chegaram àquele ponto. Os capítulos são bem curtos — como ocorre nos romances de Machado de Assis —, e alternam entre a história de Marie-Laure e Werner. É fácil adivinhar aonde a narrativa, que se alterna, chegará. Anthony Doerr fez uso desse artifício para criar suspense e tensão. Pena que o clima é quebrado por boas doses de enfado, dado que sua escrita, apesar de fácil compreensão, é bastante descritiva. Sem falar que o clímax não entrega o que vai sendo prometido ao longo da leitura, ou seja, brochante.
A temática Segunda Guerra Mundial já foi deveras explorada na literatura. Toda luz que não podemos ver não traz nada de novo ao tema. Aliás, é um livro sem grandes debates morais sobre o que ocorreu naquele período, sem aprofundamento filosófico. Os personagens são um tanto quanto “isentos”, parecem nunca tomar partido.
Para dar uma atmosfera misteriosa à trama, há a presença do Mar de Chamas, uma pedra preciosa detentora de poderes mágicos (é o que dizem). E não para por aí! Um Deus Ex Machina também dá as caras, na forma do nazista Reinhold von Rumpel, cujo o papel é criar alguns momentos tensos para a vida de Marie-Laure. Von Rumpel almeja encontrar o Mar de Chamas por motivos pessoais, e de saúde, entretanto, assim que deixa de ser necessário, é descartado pelo enredo, sem rodeios.
O autor tentou ao máximo não inserir violência no romance, algo difícil tendo como pano de fundo uma guerra. Faz sentido, visto que seu foco é outro. O que não fez sentido foi uma cena no final, onde ocorre um estupro coletivo. Uma cena sem utilidade, que destoa de tudo aquilo que o livro construiu. A única justificativa seria dizer o destino de uma personagem, algo que poderia passar batido, ou ter sido elaborado de outra forma.
Fiquei com a impressão de que Doerr lapidou sua obra minuciosamente, deixando-a parecida a um roteiro. Nenhum roteirista teria quaisquer dificuldades para realizar uma adaptação. E, ao que tudo indica, a Netflix já está trabalhando nisso!
Sobre a edição
Brochura, capa com orelhas e acabamento Soft Touch, miolo em papel Pólen Soft e diagramação confortável. A arte da capa é assaz bonita e, com certeza, chama a atenção do leitor.
Tradução de Maria Carmelita Dias, que realizou um bom trabalho. A revisão, por outro lado, falhou em algumas ocasiões e certos errinhos passaram. Pode ser que tenham sido corrigidos em reimpressões futuras.
Conclusão
Sinceramente, o livro passou longe daquilo que eu esperava (e imaginava) de um best-seller vencedor do Pulitzer. É até difícil compreender a razão de ter ficado com o prêmio. Enfim, fiquei decepcionado, aguardava algo diferente.
Ruim? Talvez chato e sem graça sejam termos mais adequados para definir Toda luz que não podemos ver. Nota-se que Anthony Doerr escreveu bem e com muito cuidado, porém, o resultado final ficou parecido com uma história young adult que acontece na Segunda Guerra Mundial. Não é meu estilo.
Houve a inserção de um “amor à primeira vista” só para ficar legal, pois a narrativa pende para o lado do sentimentalismo, e o desfecho deixou a desejar, com um salto temporal gigante e sem nexo. Um romance sem nada a agregar, que foi alongado desnecessariamente. Finalizar a leitura exigiu esforço, foi de “Doerr”!
Minha nota (de 0 a 5): 1,5 ⭐

Ficha técnica
Título: Toda luz que não podemos ver
Autor: Anthony Doerr
Tradução: Maria Carmelita Dias
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 528
ISBN: 8580576970
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*Alan, estou aqui dando uma passeada no seu blogue !
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Bom dia!Desculpe amigo por esta passagem rapidinha!
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