Resenha do livro Ao cair da noite, uma reunião de contos de Stephen King, mostrando um autor “fora de forma” na ficção curta.

Stephen King é um dos poucos escritores famosos que continuam a escrever contos. Ao cair da noite é sua oitava antologia, composta por treze narrativas. Publicada nos EUA em 2008, chegou ao Brasil em 2011, pela Suma de Letras (hoje Editora Suma, do Grupo Companhia das Letras).
Em coleções anteriores, como Sombras da noite, Tripulação de esqueletos e Tudo é eventual, havia belas joias entre material de baixa qualidade. Já em Ao cair da noite, temos baixa qualidade no meio de coisas ainda piores. Seus contos pecam em diversos sentidos e não demonstram o brilhantismo já observado em outras ocasiões.
Pro(lixo)
Estou longe de ser especialista em King, entretanto, já li várias obras de sua autoria. Além do panfletismo, o problema que mais me incomoda nesse escritor é sua prolixidade. Ele consegue fazer um segundo virar um dia. São descrições cansativas, desnecessárias, que apenas preenchem espaço e não acrescentam nada ao texto. Aquilo que pode ser dito numa única linha, o Mestre diz em dez!
Para um conto, a prolixidade é um veneno. Trata-se de uma narrativa curta, bem focada, com trama centralizada, para ser lida de uma sentada só (ui! 😏). Quando há muita enrolação, o objetivo é perdido, a leitura vira um tédio.
Após ler grandes nomes da literatura universal, noto, cada vez mais, que a capacidade literária de Stephen King é limitada. Ele é repetitivo, com pouco repertório estilístico. Todavia, quando alguém quer ler terror/horror, essa pessoa não sai em busca de um Shakespeare da vida. Mas, e o bom terror? Cadê? Foi difícil encontrá-lo durante a leitura…
Avaliando o conteúdo
Segue um resumo (bem resumido) de cada um dos contos presentes em Ao cair da noite. Apertem bem os cintos!
Willa: Enredo bonitinho, com uma virada legal. Isso é tudo, pessoal. Nota: 3 ⭐
A corredora: Até estava bacana no início, mas a protagonista só age de maneira burra (meme do Caetano). Exemplo: ao invés de fugir da casa de um lunático, ela prefere dar uma voltinha pelo local, para conhecer os cômodos, contemplar a decoração, ficando nisso até o cara se recuperar e voltar a persegui-la! Parece aqueles filmes de terror com protagonistas nada inteligentes (a maioria, no caso). Nota: 2 ⭐
O sonho de Harvey: Diálogo entre um homem e uma mulher, sobre um sonho premonitório. Um diálogo pouco natural para pessoas casadas há bastante tempo. Nada surpreendente. Nota: 2 ⭐
Posto de parada: Uma lição de moral, que lembra um acontecimento bem recente. Tem uma ação divertida, porém é cheio de detalhes desnecessários (jura!?). Nota: 3,5 ⭐
A bicicleta ergométrica: Se você comparar este texto com um romance do King dos anos 1980 (com exceção de The Tommyknockers), vai dizer que o conto, e não o romance, foi escrito sob efeito de drogas. Nota: 1,5 ⭐
As coisas que eles deixaram para trás: Um conto sobre os ataques de 11 de setembro, escrito porque Steve queria escrever sobre o assunto (palavras dele). Talvez (TALVEZ!!!), se eu fosse estadunidense, o teria apreciado mais. Ou não… Nota: 1,5 ⭐
Tarde de formatura: Faz-se presente somente para gastar as páginas. Sem enredo, sem estética, nem as descrições salvam (que, aparentemente, seriam o trunfo do texto). É um conto que nada conta. Sinto pelas árvores que viraram esse papel… Nota: 1 ⭐
N.: Inspirado em O grande deus Pã, clássico de Arthur Machen, com uma boa dose de Lovecraft também. Um relato epistolar, sobre o frágil véu que separa nosso mundo daquele da loucura e horror. De todo o livro, é o texto que tem mais a cara de seu criador. Interessante, te mantém intrigado, contudo, nada espetacular. Nota: 3 ⭐
O gato dos infernos: A versão felina do MacGyver (após ser possuído pelo tinhoso). Bem forçado. É como pegar um filme do Jason, retirá-lo, e, em seu lugar, colocar um gato comum. “O gatão assassino”! Único conto que não foi escrito durante os anos 2000, visto que estava engavetado desde 1977. Nota: 1,5 ⭐
The New York Times a preços promocionais imperdíveis: De novo um conto sobre o contato com o além. Uma esposa conversa com o marido recém-falecido. Não entendi a intenção da história, já que o final é uma piadinha sem graça, daquelas bem infames. Nota: 0,5 ⭐
Mudo: Aqui dá para dizer que vemos mais a face do autor também. Após dar carona a um homem de poucas palavras, o protagonista lhe revela detalhes de sua vida. O Mestre poderia ter aprendido com o título, parar de falar tanto pelos cotovelos (digo, dedos…). Nota: 3 ⭐
Ayana: História sobre milagres e milagreiros, onde o poder é transmitido entre pessoas, que sofrem consequências por herdarem o “dom”. Já vi tal premissa em outros lugares. A execução, aqui, é OK. Nota: 3 ⭐
No maior aperto: É um pouco nojento, há muito excremento na narrativa (e o resultado acaba sendo um, daqueles grandões). King enrola demais neste aqui, um saco! Vilão bem caricato, enredo chato. Nota: 1,5 ⭐
Sobre a edição
Brochura, padrão, com orelhas, boa diagramação, miolo em papel branco offset. Tradução de Fabiano Morais, que, do autor, também traduziu Duma Key (ainda não li), Celular (horrível! leia minha resenha), entre outros. Trabalho competente, com termos bem escolhidos em alguns momentos.
Conclusão
O pior livro de contos que já li até o momento. Fiquei com a impressão de que King tirou vários rascunhos do fundo da gaveta e escreveu capítulos de romances, não contos. Na época, ele estava com dificuldade em criar ficção curta, pois só saía coisa ruim, vide Ao cair da noite.
A prolixidade do autor é de doer. Porém, mesmo se as histórias fossem mais objetivas, continuariam sendo ruins. Os enredos são fracos, assim como os diálogos e a ação em geral. A melhor das narrativas pode ser considerada, no máximo, razoável.
Para quem escreve esse gênero, eis um ótimo exemplo daquilo que não deve ser feito.
Nota (de 0 a 5): 2 ⭐

Ficha técnica
Título: Ao cair da noite
Autor: Stephen King
Tradução: Fabiano Morais
Editora: Suma de Letras
Ano: 2011
Páginas: 400
ISBN: 9788560280896
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Peço desculpas por ter feito você ler uma resenha sobre uma obra tão ruim. Se você chegou até aqui, parabéns! Obrigado pela perseverança. Agradeço sua visita!
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