Leia minha resenha sobre o livro Mr. Mercedes, uma trama policial que dá início à Trilogia Bill Hodges.

De vez em quando Stephen King deixa de lado o sobrenatural e escreve histórias mais realistas. Um bom exemplo é a coleção Quatro estações, que reúne quatro novelas dramáticas, uma prova de que o Mestre sabe redigir sobre temas diversos além de monstros ou assombrações.
Será que o autor consegue explorar diferentes áreas, zarpando para um gênero distinto daquele que o consagrou? Vamos descobrir se ele sabe lidar com histórias de crime e investigação. Bora lá!
O senhor do Mercedes
Em 2009 os Estados Unidos sofriam com as consequências da crise do ano anterior. Em uma cidade do Meio-Oeste, buscando reverter a situação do desemprego, o prefeito local elaborou uma grande feira de empregos, que ocorreria no espaçoso City Center.
Desesperadas, as pessoas chegaram cedo. Nas primeiras horas da madrugada já havia uma fila enorme, composta por aqueles que decidiram acampar, alimentando a esperança de conseguir trabalho.
Infelizmente, um jovem sociopata avistou nessa feira uma oportunidade. Após roubar um Mercedes, conduziu o veículo sobre a multidão presente no estacionamento do City Center. Houve mortes, muitos ficaram gravemente feridos.
Um ano se passou, a polícia ainda não conseguiu encontrar o responsável pelo massacre. Bill Hodges, um dos detetives que pegaram o caso, aposentou-se. Com tempo de sobra, sem ter o que fazer, sua vida tornou-se pacata. A frustração de não ter capturado o assassino do Mercedes o atormenta. Entretanto, uma carta mudará tudo. O sr. Mercedes, com um novo plano em mente, entra em contato com Hodges, que, por sua vez, enxerga uma nova chance de desvendar o crime que lhe tira o sono.
Coincidências e artificialidade
Após muitas páginas, o trio improvável de heróis se reúne. Bill Hodges, um idoso e ex-detetive, Jerome Robinson, jovem aluno do último ano do Ensino Médio, e Holly Gibney, uma mulher de meia-idade, insegura e psicologicamente fragilizada. Até aqui, tudo bem. Essa é a graça do enredo, três pessoas bem distintas e unidas por uma investigação.
Os problemas têm início nos diálogos. A maioria não soa como uma conversa de verdade. Hodges é um detetive condecorado, porém, não entende nada de computadores. Há um dispositivo bastante conhecido para o roubo de carros, só que Bill e seu antigo parceiro dos tempos de polícia nunca levantaram a hipótese, preferiram culpabilizar uma vítima, a dona do Mercedes. Esqueça meios-termos, os personagens vivem nos extremos: ora são gênios, ora, idiotas.
Estamos falando a respeito de um romance policial. Gosto de reviravoltas que dão nó na cabeça, o que não ocorre aqui. Tudo é simplesmente exposto, não há mistério. Ademais, quando a narrativa esbarra em um obstáculo, King simplesmente tira uma solução mirabolante da cartola. As respostas para os problemas dos protagonistas caem do céu. Qual a graça disso? O autor usou e abusou do deus ex machina. Exemplificando: Holly precisa acessar um computador que está protegido por senha. E agora? Ora, ora, a senha está escrita na parte de baixo do teclado! Que conveniente!
Tudo pode piorar, ainda mais com um vilão genérico e sem qualquer carisma. O leitor não sentirá nada por ele, a não ser nojo e ódio. Afinal, trata-se de uma pessoa má, desprezível, sem qualquer virtude. Um ser humano do mal, com um único objetivo: ser mau.
Sobre a edição
Brochura, capa com orelhas e alto-relevo, miolo em papel Pólen Soft. Diagramação um pouco desconfortável, com fonte reduzida, o que não é legal.
Tradução de Regiane Winarski, que vem traduzindo tudo de Stephen King no Brasil. Um trabalho decente.
Conclusão
Stephen King, às vezes, se aventura em outros gêneros. Quase sempre não dá certo. Mr. Mercedes, sendo um romance policial, não é bom. Há muitas falhas, nada na obra soa natural e as resoluções encontradas pelo escritor (e personagens) são inverossímeis.
O enredo abusa de clichês, como jovens habilidosos em computadores e tecnologia, verdadeiros hackers da CIA, e o herói que busca redenção por seus erros. A leitura fica saltando entre pontos de vistas diferentes, dos mocinhos ao vilão, uma trama de gato e rato que culmina numa corrida contra o tempo.
Também não gostei do tempo verbal da narrativa: em terceira pessoa, no tempo presente. Deixou a obra com cara de script, um roteiro a ser seguido. Falando nisso, existe uma série de TV baseada na trilogia, caso você tenha interesse.
Nada funcionou. Nenhum personagem desperta grande entusiasmo, especialmente o antagonista. Zero empolgação, mesmo contendo alguns (raros) bons momentos. King tentou inserir questões sociais em Mr. Mercedes, mas, quando ele aborda essa temática, geralmente não dá certo.
Um livro chato e problemático em sua proposta.
Nota (de 0 a 5): 2,5 ⭐

Ficha técnica
Título: Mr. Mercedes
Autor: Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Editora: Suma de Letras
Ano: 2016
Páginas: 400
ISBN-10: 9788556510020
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