Trocas macabras, de Stephen King – Uma resenha

Resenha de Trocas macabras, livro que, após ficar longe das prateleiras por quase 30 anos, recebeu nova edição pela Suma.

Análise do livro Trocas Macabras: capa da nova edição, toda verde, publicada pela Editora Suma

A coleção Biblioteca Stephen King só cresce. Em 2020, quem passou a integrá-la foi Trocas Macabras. Publicado no Brasil pela primeira vez em 1992 pela histórica Francisco Alves, o romance meramente era encontrado em sebos, a valores exorbitantes.

Obtendo o status de “raro”, passou a ser objeto de desejo de fãs. Contudo, há um motivo plausível para ter ficado fora de catálogo por tanto tempo: ele é ruim! Ninguém o citará quando o assunto for “recomende-me uma obra de Stephen King”. Aliás, quem conhecer o autor por esse livro passará a odiá-lo e sequer lhe dará outra chance.

“A última história de Castle Rock”

Era a frase que vinha na capa original. Afirmação que se provou falsa, pois a cidadezinha fictícia, localizada no Maine, foi o cenário de outras histórias posteriores, como A pequena caixa de Gwendy e Ascenção.

Estamos em 1991. Numa cidade do interior, é sempre uma sensação quando um novo comércio está prestes a ser inaugurado. Quase toda a população fica curiosa para saber o tipo de produto que o misterioso Leland Gaunt comercializará.

Poucos dias após a Artigos Indispensáveis abrir as portas, uma onda de violência atinge os morados de Castle Rock. Vários vizinhos possuem rixas entre si, entretanto, nunca foram além de pequenas discussões e trocas de farpas.

Quando duas pessoas se esfaqueiam no meio da rua em plena luz do dia, um alarme dispara na cabeça de Alan Pangborn, o xerife local. Ele passa a desconfiar do sr. Gaunt, já que o comerciante não indica estar interessado no dinheiro dos munícipes, e sim em algo bem diferente, mais íntimo.

Palco de diversas obras de Stephen King, Castle Rock está prestes a ser tomada pelo caos. Para evitar o pior, Pangborn e sua equipe precisam agir rápido, enfrentando um vilão que desafia o conceito de realidade.

O livro é bom?

Lamento, Trocas macabras está longe de ser bom. O romance é demasiado longo e descritivo. Cerca de ¼ da narrativa é pura “encheção de linguiça”, com descrições e detalhes desnecessários, que nada acrescentam.

Personagens pouco inteligentes (para não dizer idiotas). Os moradores de The Rock são todos violentos por dentro, bastando apenas um empurrãozinho para que explodam em fúria assassina. Sei que há o sobrenatural agindo no background, porém a população é violenta desde o início, algo inato. Não são os tipos de pessoas que você gostaria de ter como amigos.

O enredo lembra bastante uma novela das seis com uma pitada de violência gratuita. Essa obra é uma crítica de King às armas e ao capitalismo. Só que, de tão fraca e caricata, não dá para levá-la a sério. Melhor nem esperar por grandes reflexões, muito menos por argumentos profundos. Apesar de ser um grande contador de histórias, a argumentação do mestre do terror é bem fraca.

Para não dizerem que somente vi defeitos, farei um elogio. O livro tem seus momentos quando o escritor não enrola. Os pontos da trama, repleta de personagens, se encontram e dão um ótimo nó. Parabenizo também a cidade fictícia criada pelo autor, que, de tão viva, parece ser real, um local que realmente existe. Pena nada disso ajudar.

Sobre a nova edição

Membro da coleção Biblioteca Stephen King, Trocas macabras apresenta o mesmo esmero gráfico e visual dos demais volumes que a compõem. Capa dura, acabamento em Soft Touch e alto-relevo, miolo em papel Pólen Soft e diagramação confortável.

Tradução de Regiane Winarski, que se tornou a tradutora oficial de Stephen King no Brasil. Profissional que vem fazendo um formidável trabalho, sempre atenta a referências e nuances. Por exemplo, uma personagem solta um bordão do Popeye e Winarski o traduziu de acordo com a dublagem brasileira do desenho animado.

Muita gente reclamou do valor cobrado pelo livro. É verdade que o Grupo Companhia das Letras, do qual a Suma faz parte, vem aumentando o preço dos itens de seu vasto catálogo. O mundo encara um momento delicado, a alta do dólar bateu recordes, e os direitos de publicação são negociados nessa moeda.

Até existe uma justificativa para tal aumento, mas isso torna os livros cada vez menos acessíveis e, em nosso país, o acesso à cultura já é bem elitizado. Pelo valor sugerido, o conteúdo extra anunciado na contracapa (um mapa de Castle Rock) deveria ser mais interessante. Dica: aguarde uma promoção.

Curiosidade: em Cujo, a protagonista dirige um Ford Pinto. Na nova tradução da Suma, alteraram o modelo do carro para um Ford Corcel. Mudança compreensível, porque frases como “Ela montou no Pinto e partiu” soariam estranhas. O veículo é citado em Trocas macabras, todavia, o nome original foi mantido, Ford Pinto (ver p. 495). Erro da equipe editorial, uma vez que quem traduziu a história do cão raivoso foi Michel Teixeira, não Regiane Winarski.

Vale a pena ler? O veredito

Dificilmente alguém comprará Trocas macabras por sua qualidade literária. Vejo três motivos para alguém decidir comprá-lo: o status de raro, que atiça a curiosidade; os fãs que o queriam, mas não estavam dispostos a pagar o montante que os sebos pediam; e o fato de a nova edição ser bonita e chamativa.

A grande maioria das personagens é caricata, esquecível e estereotipada. Sem falar do enredo fraco e enfadonho. Um(a) residente de The Rock vai à loja e Leland lhes dá uma tarefa. A pessoa cumpre a ordem. Outra personagem se dirige à loja e tudo se repete. O leitor ficará nesse ciclo.

Leitura lenta, os eventos demoram para acontecer, parece que a quinta marcha nunca é engatada. King sofre de verborragia, e essa obra é um ótimo exemplo disso. Ele relata as mesmas coisas inúmeras vezes. Ao invés de falar logo o que aconteceu, o famoso escritor fica floreando as orações com inutilidades.

Stevie também é conhecido por não saber escrever finais. Sem discussões! O desfecho desse romance é horrível, sem graça, um clímax broxante. Trocas macabras não marcaria presença no estoque da Artigos Indispensáveis, pois estamos falando a respeito de um livro dispensável.

Nota (de 0 a 5): 2 ⭐

Detalhes da nova edição de Trocas Macabras, de 2020, em capa dura
Visualmente, a edição ficou linda. O que você achou?

Ficha técnica

Time de leitores Grupo Companhia das Letras 2020

Título: Trocas macabras
Autor: Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Editora: Suma
Ano: 2020
Páginas: 656
ISBN-13: 9788556511003
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Forte abraço.


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

2 pensamentos

  1. Gostei bastante da análise. Já havia esbarrado nessa obra de King há algum tempo (anos para ser exata) e estava em dúvida se lia ou não. Gostei também de suas observações sobre o autor, apesar de ser um bom contador de estórias, suas narrativas são cansativas. Já li muito de King, mas depois de um certo número me cansei.

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    1. Olá! Tudo bem?
      Verdade, também já li vários livros dele e, depois de um tempo, você nota certa repetição, vícios de estilo. Dos que já li até o momento, “Trocas macabras” está entre os piores. Mas já vi gente que gostou da obra. Você pode dar uma chance para ver o que acha. Se fosse parar recomendar, eu não recomendaria.
      Obrigado pelo comentário e pela visita!
      Abraço.

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