“Um ícone do modernismo”
Título: Poemas
Autores: T. S. Eliot
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2018
Páginas: 432
Tradução: Caetano W. Galindo
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“O que chamamos de princípio muitas vezes é o fim/ E criar um fim é criar um princípio.” (ELIOT. T. S. Little Gidding. In: Poemas. Companhia das Letras, 2018, p. 291)
A mais recente coletânea de poemas de T. S. Eliot, um ícone do modernismo literário, agora publicada pela Companhia das Letras, reúne sua poesia completa publicada em livro e em edições independentes lançadas em vida, com nova tradução e numa edição bilíngue.
Marco do modernismo
Thomas Stearns Eliot nasceu nos Estados Unidos, em 1888. Graduou-se em Filosofia pela Harvard e iniciou um doutorado em Oxford, porém não o completou. Em 1914, mudou-se para a Inglaterra, onde começou a trabalhar no Lloyds Bank. Foi na Inglaterra que conheceu nomes importantes da literatura e do movimento modernista, como Ezra Pound, Virginia Woolf e James Joyce.
Seu primeiro trabalho profissional publicado, o poema ‘The love song of J. Alfred Prufrock’, chamou a atenção dos críticos e recebeu diversos elogios. Mas foi com a publicação de ‘The Waste Land’ que T. S. Eliot mudou o rumo da poesia do século XX. É um poema muito aclamado e estudado, ainda hoje, sua obra mais popular entre os críticos.
Após deixar seu emprego no Lloyds Bank, o poeta atuou como diretor na editora Faber and Faber. Apesar de não possuir uma vasta obra poética, esse é um autor que marcou o movimento modernista do início do século XX, um dos maiores nomes da poesia desse período. Foi laureado com o Nobel de Literatura em 1948. T. S. Eliot nos deixou em 1965, vítima de um enfisema pulmonar.
“Os tempos passado e futuro/ O que poderia ter sido e o que foi/ Apontam a um só fim, que é sempre presente.” In: Burnt Norton. p. 227
Fugindo das antigas regras
Um dos pressupostos do movimento modernista, em geral, era romper com o passado, romper com as regras rígidas. Na poesia, as obras clássicas são marcadas pela métrica rígida, pelos versos rimados, o que, de certa forma, retirava um pouco da liberdade do autor, restringindo sua escrita.
Já a poesia moderna não dá muita importância a isso, sendo marcada pelos versos livres, ou pelo verso branco. Se analisarmos obras atuais, é possível observar uma maior ênfase na forma que as palavras criam, uma ênfase muito maior até mesmo do que aquilo que as palavras querem dizer.
Sim, T. S. Eliot foi um ícone do modernismo, todavia ele nunca foi um radical, ele não extrapolou sua liberdade artística. Na verdade, ele manteve alguns elementos, como as rimas e uma escrita refinada, digna de clássicos. Mas encontramos em sua obra versos longos, seguidos de versos curtos, e versos brancos também. Ele conseguiu romper com o passado sem parecer um radical, sem “causar”. O cara dosou tudo na medida certa.
“Porque eu sei que o tempo é sempre tempo/ E o lugar é sempre e somente lugar/ E o que é de fato é fato apenas em seu tempo/ E somente em seu lugar” In: Quarta-feira de Cinzas, p. 179
Musicalidade e ritmo
Não tem como falar sobre a poesia desse autor sem falar de uma característica muito marcante: a musicalidade. Os versos são muito bonitos, as rimas criam uma sonoridade agradável, com um ritmo constante. São poemas que devem ser lidos em voz alta para uma maior apreciação.
O material encontrado nessa edição apresenta poemas diversos, com temáticas distintas. Temos poemas que falam sobre amor (Prufrock and Other Observations), outros que expressam o sentimento da sociedade após a Primeira Guerra Mundial (The Waste Land), outros mais despretensiosos e bem-humorados (Old Possum’s Book of Practical Cats).
Vale a pena conhecer o trabalho desse autor, central para qualquer pessoa que gosta de poesia, principalmente para aqueles que a estudam ou escrevem poesia.
“Somos os homens ocos/ Somos homens empalhados/ Apoiados todos juntos/ Com chapéus cheios de palha.” In: Os homens ocos, p. 167
Sobre a edição
Edição em capa dura, com um belo acabamento em tecido. Miolo em papel Pólen Soft, com uma excelente diagramação. Uma das edições mais bonitas de 2018.
A tradução ficou a cargo de Caetano W. Galindo, tradutor experiente, que já verteu para o Português diversas obras de James Joyce e outros autores importantes. Traduzir poesia não é algo fácil, como o próprio Caetano diz em seu posfácio: “traduzir um poema é escrever outro”. Ele fez um trabalho muito bom, mantendo a sonoridade, as rimas. Porém, para que isso pudesse acontecer, alguns versos sofreram modificações, o que, às vezes, tira o sentido original daquilo que o autor quis dizer. Ainda bem que se trata de uma edição bilíngue: as páginas pares apresentam o original, e as ímpares a tradução, ou seja, dá para ler lado a lado, cotejar os textos. É uma tradução que agrada, mas que pode não agradar a todos, e isso não tira o mérito do grande trabalho de Caetano W. Galindo, mas, quem preferir ler no original, terá essa oportunidade também, além de uma boa tradução para auxiliá-lo.
“Há diversas atitudes para com o Natal,/ Algumas das quais não valem a pena:/ A social, a torpe, a meramente comercial,/ A desordeira (bares abertos até meia-noite)/ E a infantilizada — que não é a da criança” In: O cultivo de árvores de Natal, p. 219
Conclusão
Quem gosta de poesia deve conhecer o trabalho desse autor, pois trata-se de um dos maiores nomes da poesia moderna, que mudou o rumo da coisa no século XX. T. S. Eliot é um grande ícone do movimento modernista na literatura, porém ele nunca foi um cara radical, conseguindo romper com o passado sem precisar de exageros, foi tudo feito com muita classe. Seus poemas são marcados pela sonoridade, uma musicalidade encontrada em poucas obras, com rimas inteligentes. Além de esta ser uma edição muito linda (fisicamente), o leitor, ao adquiri-la, terá em mãos os trabalhos mais importantes desse autor que marcou uma época. A tradução é boa, mas nada como ter o original em mãos. E aqui você terá isso, pois é uma edição bilíngue, podendo agradar a gregos e troianos.
“Limpe a boca com a mão, e ria;/ os mundos giram como as anciãs/ que catam lenha pelos cantos.” In: Retrato de uma senhora, p. 39
Minha nota (de 0 a 5): 5
Alan Martins

Clique para exibir o sumário desse livro
Prufrock e outras observações (1917)
Poemas (1920)
A terra devastada (1922)
Os homens ocos (1925)
Quarta-feira de Cinzas (1930)
Poemas de Ariel (1927-1954)
Quatro quartetos (1943)
O livro dos gatos sensatos do Velho Gambá (1939)
Posfácio
Sobre o autor
Sobre o tradutor
Índice de títulos e primeiros versos
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