“Monotonia vampiresca”
Título: Drácula
Autor: Bram Stoker
Editora: DarkSide Books
Ano: 2018
Páginas: 580
Tradução: Marcia Heloisa
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“O verdadeiro Deus cuida para que um único pardal não despenque do céu, mas o Deus criado pela vaidade humana não vê diferença entre águia e pardal.” (STOKER, Bram. Drácula. DarkSide Books, 2018, p. 136)
Jamais, aqui no Brasil, o vampiro mais famoso e clássico de todos os tempos foi publicado em uma edição tão bonita e repleta de extras, porém, nenhum tipo de mimo, ou apelo visual, é capaz de melhorar um enredo chato, narrado de uma maneira nada empolgante.
Drácula Pai
Abraham “Bram” Stoker, o autor de ‘Drácula’, nasceu na Irlanda em 1847 e faleceu em 1912, após sofrer uma sequência de acidentes vasculares cerebrais. Estudou no Trinity College e graduou-se, com honras, em Matemática, no ano de 1870.
Passou a nutrir um grande interesse por teatro e gerenciou o Lyceum Theatre, de Londres, durante 27 anos. Sua obra mais conhecida, ‘Drácula’, estreou nos palcos londrinos antes mesmo de sua publicação original em livro. É notável a influência do teatro nessa obra, tanto nas cenas, quanto nos maneirismos exagerados das personagens.
Seu caminho se cruzou com o de Oscar Wilde, pois ambos cortejaram a mesma mulher, Florence Balcombe, que acabou se casando com Stoker. Além da história do vampiro mais famoso de todos os tempos, Bram também escreveu diversos outros romances, entretanto, nenhum se destacou tanto quanto seu magnum opus. Apesar de não ter sido o primeiro autor a escrever sobre vampiros, foi o que mais popularizou essas criaturas sugadoras de sangue.
“O mal da ciência é querer explicar tudo e, se não consegue, diz não ter explicação.” p. 229
#PartiuLondres
Por se tratar de um clássico, uma obra muito difundida na cultura popular, muitos devem conhecer seu enredo. Tudo começa com Jonathan Harker, um jovem advogado, viajando à Transilvânia, para tratar de negócios com um tal Conde Drácula. A viagem até o castelo de Drácula é repleta de situações estranhas, como lobos uivando e luzes que surgem no meio da neblinam, e a população local parece temer o Conde.
Jonathan permanece um tempo no castelo, pois seu anfitrião praticamente o obriga a ficar. O motivo da viagem do jovem advogado foi a compra de uma propriedade em Londres, realizada por Drácula. Mas, durante sua permanência no castelo, o jovem se depara com situações estranhas e descobre um assustador segredo (todo mundo sabe que se trata de uma história de vampiro, para o leitor não há mistério).
Concretizando seus planos, Drácula parte para a Inglaterra, com a intenção de fazer novas vítimas e espalhar sua maldição em um novo território. Os heróis dessa trama acabarão por descobrir a identidade do Conde e, com a grande ajuda do Dr. Van Helsing, um homem de mil e uma utilidades, dotado de grande inteligência e conhecedor do folclore antigo, enfrentarão esse monstro. Será que o vampiro conseguirá alcançar seus objetivos? Tenha certeza de que os protagonistas farão o possível para impedi-lo.
“Pois a vida, no fim das contas, é esperar por algo diferente do que a gente está fazendo, e a morte é a única coisa certa para todos nós.” p. 107
História contada de uma maneira desagradável
O romance é narrado de maneira epistolar. Cada personagem principal dá sua contribuição, seja por meio de cartas, diários ou registros de áudio (Bram Stoker incluiu um fonógrafo nessa obra, a tecnologia do momento no final do século XIX). Essa forma de narrar a história deixa tudo um tanto quanto inconstante, o ritmo é perdido. Pessoalmente não sou fã de romances narrados por meio de cartas ou diários. Talvez a ideia funcione bem em alguns casos, mas em ‘Drácula’ não funcionou.
Outro ponto negativo são os detalhes desnecessários, que não contribuem em nada para o desenvolvimento da trama. Na verdade, esses detalhes deixam a leitura mais lenta e cansativa. O autor poderia falar sobre algo mais interessante, todavia preferiu descrever o desnecessário. Sem falar nos gestos exagerados das personagens, dignos dos melhore romances “água com açúcar”, o que não combina muito bem com uma história de fantasia/horror/mistério.
Piorando tudo, o grande vilão, que dá título à obra, não é bem aproveitado. Drácula aparece pouco em “pessoa”, ele é muito mencionado, porém não está presente em muitas cenas. Ele surge de forma misteriosa em Londres, mas o leitor já conhece sua identidade, o que quebra qualquer clima de suspense, afinal todos já sabemos o que ele é capaz de fazer, a primeira parte do livro já nos mostra isso.
Não se trata de uma leitura agradável, muito menos empolgante. É fácil ficar entediado ao longo dessa aventura, apesar de toda a importância e representatividade da obra.
“Mas a morte de um homem não é o fim, como a de um animal; a temida Eternidade ainda pode ser um consolo para minha alma.” p. 79
Sobre a edição
Bela edição da DarkSide. Capa dura, miolo em papel off-white, pintura trilateral, lindo projeto gráfico e uma diagramação agradável. Vale destacar que a capa é lisa, sem alto-relevo, muito menos texturizada — é somente uma impressão causada pelo design da capa. A edição contém muitos extras, como uma apresentação escrita por Dacre Stoker (sobrinho-bisneto de Bram Stoker), ilustrações (que poderiam ser mais interessantes), um texto que aborda ‘Drácula’ no cinema e algumas imagens de filmes clássicos, alguns manuscritos e notas originais de Bram Stoker e, também, o conto ‘O hóspede de Drácula’ — ou seja, muitos extras bacanas.
Tradução de Marcia Heloisa, doutora em Letras, que tem como objeto de pesquisa a literatura de terror. Tradução muito boa, executada por alguém que é fã da obra e de seu autor; quanto a isso, podem ficar tranquilos. Ela também escreveu um prefácio e um posfácio, onde comenta a respeito da obra, sua importância e temas abordados. O ponto negativo, como em boa parte dos livros da DarkSide, é a revisão, que deixou (mais uma vez) erros passarem — e olha que essa edição contou com o trabalho de uns quatro revisores!
“O desespero tem sua porção de serenidade.” p. 75
Conclusão
Trata-se de uma obra importante, clássica, que influenciou o gênero terror, tanto na literatura, quanto no cinema. Mas isso não quer dizer que a história é legal. Bem, até que é interessante, porém Bram Stoker escolheu a pior maneira para narrar seu romance: narrar por meio de epístolas e diários. Esse estilo de narrativa deixa a leitura tediosa, cansativa, e tira toda a empolgação, ainda mais quando combinado a detalhes desnecessários, que preenchem os capítulos. O tom meloso e as reações exageradas das personagens não agradam e não combinam com a proposta da obra. Drácula é um vilão muito mal explorado e aproveitado. Ele não possui um grande motivo para ir tocar o terror em Londres. Por exemplo, não há uma escassez de sangue na Transilvânia para ele decidir ir buscar novas vítimas em outro país; Drácula apenas tem um ego muito elevado, é, ao menos, a impressão que fica. A edição da DarkSide está linda e repleta de extras, só que isso não salva o romance. Caso você queira conhecer esse clássico, tenha em mente que a narrativa é arrastada e sem graça, sem personagens marcantes (com a exceção de Van Helsing). Boa leitura!
“Só compreendemos a verdadeira dimensão de certos horrores quando nos vemos face a face com eles.” p. 45
Minha nota (de 0 a 5): 2
Alan Martins

Parceiro

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Belíssima edição! Eu tenho aquela que vem no box da Nova Fronteira. Estou com muita vontade de ler. Pena você não ter gostado muito, mas o que vale é a experiência e o conhecimento de mais uma importante obra da Literatura Mundial.♥
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Essa leitura passa um bom ensinamento para quem gosta de escrever, pois mostra o que não fazer, como não escrever um romance. A história é boa, mas poderia ter sido contada de uma maneira mais interessante.
Sua edição é aquele box do Bram Stoker?
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É mesmo. Às vezes a história é ótima, mas a forma de contá-la faz toda a diferença. 🙂
Sim. Ganhei o box em um sorteio no Twitter. 🙂 🙂
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Olha só, que sorte!
Esse box parece estar muito lindo e os livros são bem interessantes.
Parabéns! 😀
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Obrigada! É bem bonito mesmo. Os livros são capa dura de ótima qualidade. Já ganhei vários livros em sorteio no Twitter. Às vezes eu nem acredito que ganhei. kkkkkk
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Isso que é sorte! Eu só ganhei uma única vez, no Facebook, e faz tempo.
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