Minhas Leituras #92: O velho e o mar – Ernest Hemingway

O velho e o mar capa livro Bertrand

“O ser humano e sua capacidade de superação”

Título: O velho e o mar
Autor: Ernest Hemingway
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2016
Páginas: 126
Tradução: Fernando de Castro Ferro
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“Mas o homem nunca foi feito para a derrota — disse em voz alta. — Um homem pode ser destruído, mas nunca é derrotado.” (HEMINGWAY, Ernest. O velho e o mar. Bertrand Brasil, 2016, p. 102)

‘O velho e o mar’ é um romance curto, que fez muito sucesso ao ser publicado originalmente, em 1952. Uma história de superação, demonstrando a incrível habilidade humana de enfrentar grandes desafios, apesar de todas as adversidades encontradas ao longo do caminho.

Cabra macho

Essa expressão combina muito bem com Ernest Hemingway, um dos grandes nomes da literatura estadunidense de todos os tempos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura (1954) e do Pulitzer (em 1953, justamente pelo livro ‘O velho e o mar’).

Nasceu nos Estados Unidos em 1988. Logo após o Ensino Médio, trabalhou como jornalista por alguns meses para o ‘The Kansas City Star’, pouco antes de se alistar no exército e ser enviado a um front italiano, onde serviu como motorista de ambulância. Na década de 1920, mudou-se para Paris, onde trabalhou como correspondente internacional e iniciou sua carreira de escritor. Na capital francesa, Hemingway conheceu grandes nomes da literatura, tais como James Joyce, Ezra Pound e F. Scott Fitzgerald.

Durante a Segunda Guerra Mundial, esteve presente nos desembarques da Normandia. Após a Guerra, foi morar em Cuba, onde permaneceu até o final da década de 1950. Ao longo de sua vida, participou de diversas aventuras perigosas, como touradas, pescarias e caçadas. Certa vez, na África, Hemingway quase perdeu a vida em duas quedas de avião consecutivas. Passou o final de sua vida (que foi um período conturbado) em Idaho, onde suicidou-se, em 1961, com um tiro na cabeça.

“Por que existiriam aves tão delicadas e tão frágeis, como as andorinhas-do-mar, se o mar pode ser tão violento e cruel?” p. 32

História de pescador (e não é mentira)

O enredo de ‘O velho e o mar’ é simples, curto e direto. O protagonista chama-se Santiago, um velho pescador que vive em uma vila próximo a Havana, capital de Cuba. Ele contava com a ajuda do jovem Manolin, porém os pais do menino acharam melhor que ele fosse trabalhar com outra pessoa, pois Santiago não pescava um peixe sequer há mais de oitenta dias, e passou a ser considerado um grande azarado.

Apesar do azar, o velho Santiago decide enfrentar o mar mais uma vez, com a intenção de fisgar algo magnífico. Ele parte, com toda sua coragem e todo seu orgulho, em seu barquinho simples, avançando em alto-mar, levando poucos equipamentos, porém carregando uma grande carga de determinação.

E nessa aventura recheada de surpresas e perigos, o velho pescador fisgará seu maior peixe, mas não sem antes enfrentar uma boa briga, que levará ambos aos limites físico e psicológico. Santiago passa a nutrir um sentimento de respeito e admiração pelo peixe, por conta de sua força e determinação em se soltar do anzol, em vencer essa batalha contra o pescador. Só que a história não acaba por aí, ainda há um longo caminho a ser percorrido no caminho de volta, e Santiago precisará de toda força de vontade que conseguir encontrar para retornar a sua casa.

“O homem não vale lá muito comparado aos grandes pássaros e animais. Eu por mim gostaria muito mais de ser aquele peixe lá embaixo na escuridão do mar.” p. 70

Estilo simples

A escrita de Ernest Hemingway era simples, objetiva e direta. Muitos críticos diziam se tratar de um estilo semelhante ao jornalístico, com poucos adjetivos, indo direto ao ponto, sem a intenção de parecer rebuscado. E é esse estilo que o leitor encontrará em ‘O velho e o mar’, ainda mais por ser um livro tão pequeno.

Talvez a principal mensagem dessa obra seja a capacidade do ser humano de enfrentar desafios e superá-los, muitas vezes se surpreendendo; lutar sempre, mesmo que a batalha pareça perdida, mesmo com a desconfiança alheia, com a tacha de derrotado. Colocar um homem para enfrentar um grande desafio é algo recorrente nas obras de Hemingway, que sempre apresentaram personagens masculinos determinados, capazes de enfrentar qualquer parada.

Uma leitura simples, rápida e gostosa. A mensagem que o livro transmite é interessante e de fácil compreensão. Essa foi a obra que mudou a carreira literária de Ernest Hemingway, garantindo-lhe um Pulitzer, além de ter sido citado na cerimônia do Nobel, ou seja, a obra foi um divisor de águas.

Realmente se trata de um grande livro, porém não é algo de outro mundo, não parece ser tudo isso. O enredo é simples, interessante, com uma grande mensagem, mas dificilmente eu colocaria esse livro no meu “top 10”, por exemplo. Não faz muito sentido ter sido uma obra tão decisiva para a escolha de Hemingway por parte dos jurados do Nobel.

“Mas é bom que não tenhamos de tentar matar a lua, o sol ou as estrelas. Já é ruim o bastante viver no mar e ter de matar os nossos verdadeiros irmãos.” p. 75-76

Sobre a edição

Publicadas no Brasil pela Bertrand Brasil, as obras de Ernest Hemingway, recentemente, ganharam uma repaginada. Edição comum, brochura, com orelhas. A capa, que conta com um acabamento em soft touch, apresenta um design limpo, minimalista, apenas com uma imagem que representa bem o enredo. Boa diagramação. O selo Bertrand Brasil pertence ao Grupo Editorial Record, que possui o próprio parque gráfico, composto pelo Sistema Poligráfico Cameron. Pessoalmente, não gosto muito da impressão dos livros do Grupo Editorial Record, que apresenta falhas de impressão em algumas páginas, ou, em outras, a tinta sai forte demais.

Tradução de Fernando de Castro Ferro. Uma tradução boa, entretanto, antiga. Manteve o estilo original do autor, mas seria interessante se a editora investisse em novas traduções. Há uma apresentação, escrita por Luiz Antonio Aguiar, e ilustrações (em preto e branco) que acompanham o enredo.

“Era demasiado simples para compreender quando alcançara a humildade. Mas sabia que a alcançara e sabia que não era nenhuma vergonha nem representava nenhuma perda do verdadeiro orgulho.” p. 17

Conclusão

Enredo simples, que utiliza uma linguagem também simples, direta e nada rebuscada. Ernest Hemingway mostrou que, para ser um grande autor, agraciado por diversos prêmios importantes, não é preciso escrever “difícil”, utilizar palavras complicadas apenas para parecer erudito. Utilizando suas habilidades de jornalista, ele conseguiu criar um estilo pessoal, que acabou por influenciar diversos autores do século XX. ‘O velho e o mar’ apresenta a história de Santiago, um velho pescador que passou a ser tachado de azarado, por estar há mais de oitenta dias sem conseguir pescar nada. Superando todas as adversidades, o velho se aventura no mar, em busca de um grande peixe. Trata-se de uma história de superação, onde um homem determinado luta para atingir seu objetivo, superando todos os obstáculos encontrados ao longo do caminho. Leitura rápida e gostosa. Um clássico moderno, que pode ser lido em pouco tempo, apresentando um enredo bacana e uma mensagem muito bonita. Esse foi o livro que consagrou Ernest Hemingway, colocando-o como um dos maiores nomes da literatura do século XX.

“Por que será que os velhos acordam sempre tão cedo? Será para terem um dia mais comprido?” p. 27

Minha nota (de 0 a 5): 4

Alan Martins

Livro O velho e o mar Hemingway
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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

12 pensamentos

  1. Rapaz, a tradução do Fernando Ferro não é boa. É criminosa. Ele altera completamente o texto, de uma maneira que eu nunca vi ninguém fazer antes.
    Não tem nada a ver com Hemingway.
    Por exemplo, o original demora para mencionar o nome do velho. Na tradução desse maluco (que eu nem sei se é uma pessoa real), porém, é a primeira coisa que se diz. Veja:

    Início do livro no original:
    “He was an old man who fished alone in a skiff in the Gulf Stream and he had gone eighty-four days now without taking a fish.”

    Tradução:
    “O velho chamava-se Santiago. Dia após dia, tripulando sua pequena canoa, ia pescar na corrente do Golfo. Mas nos últimos oitenta e quatro dias não apanhara um só peixe.”

    O original segue por VÁRIOS PARÁGRAFOS até finalmente dizer qual o nome do velho. É um efeito completamente diferente.
    Mas esse Fernando achou por bem conspurcar A PRIMEIRA FRASE DO TEXTO, revelando de cara qual o nome. Nunca vi tanto desrespeito por uma obra.
    E dizer que é boa?

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    1. Olá!

      Eu não achei a tradução perfeita, e com certeza possui falhas, como você pontuou. No geral, o estilo do autor foi mantido, mas já é uma tradução bem antiga, apesar de ser um texto legível e compreensível.

      As obras do autor merecem novas tradução, já que a maioria são trabalhos de muitos anos. Hoje temos tradutores com muito mais preparação e estudo a respeito do autor.

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

      Abraço.

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  2. O estilo de Hemigway, que aliás foi mesmo correspondente da Grande Guerra, influenciaria muito, também, o que viria a ser o novo jornalismo, que tem como expoente autores como Truman Capote, por exemplo. Trata-se de um estilo jornalístico, justamente, mais literário, mais aprofundado, mais romanceado, aproximando-se das características que tinha no início. 😉 Um abraço e uma boa semana 🙂

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    1. Agora estou curioso para ler os primeiros romances do autor, que também são muito elogiados. A leitura flui muito bem com esse estilo de escrita, não é truncado, nem complicado.
      Obrigado pelas palavras!
      Abraço, uma ótima semana para você. 😀

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  3. Para mim essa obra fez bastante sentido em tê-lo impulsionado ao Nobel. É um dos meus livros favoritos. Na primeira vez em que li, achei ok TB. Na segunda, quando meu próprio peixe estava sendo levado pelos tubarões da vida, chorei do início ao fim e o livro teve um significado e um peso totalmente diferentes… Pode ser isso. Escrevi sobre ele no meu blog TB, faz um tempinho. Bjs

    Curtido por 1 pessoa

    1. A maneira como compreendemos um livro pode estar muito ligada a algum momento de nossa vida, o sentimento transmitido pode ser outro, tudo depende de como está sendo o momento. Eu gostei do livro, achei muito bom, só não achei tão bom assim. Mas é uma leitura que eu indicaria a qualquer um.
      Obrigado pela visita.
      Abraço!

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