Agosto, uma longa estrada

Estrada Inverno Agosto Sol Pista
Editado sobre imagem de George Hodan, publicada sob Licença (CC0 1.0). Disponível em: Public Domain Pictures.

Longe de querer fazer qualquer piada do tipo “agosto é um mês que nunca acaba”, tenho a impressão de que a resenha do livro ‘Deuses americanos’, publicada no início do mês passado, foi ao ar há muito tempo.

Muita coisa aconteceu em agosto. Meu último semestre de faculdade teve início, assim como meu último estágio; modifiquei a aparência do blog e obtive um domínio próprio; me transformei em Sigmund Freud para uma gincana do meu curso de Psicologia; e, por fim, virei tio (meu primeiro sobrinho nasceu, um pouco adiantado).

Foi um mês de mudanças, novidades e recomeços. Só agosto mesmo para comportar tantos acontecimentos dessa forma! Com setembro começando, entramos na reta final de 2018, os meses “bro” (setembro, outubro, novembro, dezembro) vêm por aí, e chegam rápido.

As leituras de agosto foram densas, com livros de diversas épocas, que tratam de temas diferentes. O fantástico está presente em todos, exceto um, que é uma obra de não-ficção — apesar de seu autor ter influenciado a Literatura de diversas formas, até mesmo livros com temáticas nada realistas.

Pois bem, chega de conversa e vamos conferir logo esse ranking de agosto. Quem foi o campeão do mês?


Capa Livro Celular Stephen King Suma4° Celular – Stephen King (Suma, 2018): Nesse livro, Stephen King quis apresentar uma história envolvendo zumbis, mas de uma maneira diferente. Esqueça os clássicos zumbis comedores de cérebros, que vagam lentamente por aí. Os zumbis de ‘Celular’ são extremamente violentos, é como se fossem pessoas completamente controladas pelo id freudiano. E não existe um vírus que transforma a população nessas criaturas, tudo é culpa da tecnologia, dos celulares. É uma premissa muito interessante, teria tudo para ser um bom livro, renovando as batidas histórias de zumbis. Porém, após um início eletrizante, a narrativa perde qualidade, tornando-se repetitiva, sem um real clima de medo ou terror. Para deixar o que estava ficando ruim ainda pior, King começa a acrescentar bizarrices à história, elementos completamente desnecessários, assim como também tenta forçar um vilão nada convincente. O autor exagerou e estragou tudo. Caso você ainda queira conhecer mais sobre o livro, mesmo após o que acabei de escrever, leia minha resenha AQUI.

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Capa Livro Deuses Americanos Intrínseca Gaiman3° Deuses americanos – Neil Gaiman (Intrínseca, 2016): A obra-prima de Neil Gaiman apresenta muitas características de seu estilo pessoal, principalmente a influência da mitologia em seus trabalhos. Quem ainda presta culto a deuses antigos, quase esquecidos? É bem difícil encontrar uma oferenda a Odin, ou algo parecido. As pessoas do século XXI cultuam a tecnologia, que carregam aonde quer que vão. Parece que as tecnologias resolverão todos os problemas do mundo, são os novos deuses, que se renovam e ficam defasados com a mesma velocidade. Imagine um embate entre os deuses antigos e essas novas deidades, tendo como ambientação o país que mais representa o consumismo: os Estados Unidos. Mesclando elementos de diversas mitologias, Gaiman criou uma história original, muito bem contada, que surpreende, principalmente para quem compreender as referências deixadas por ele. Claro, nem tudo é perfeito, há cenas que “enchem linguiça”, mas, em geral, trata-se de uma grande obra, difícil de enquadrar em apenas um único gênero literário. Se interessou? Então leia minha resenha, clicando AQUI.

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Livro O Mestre e Margarida 342° O Mestre e Margarida – Mikhail Bulgákov (Editora 34, 2017): O livro mais aclamado de Bulgákov não parece ofensivo, só que, para o governo soviético, essa obra foi muito ofensiva, ao ponto chegar a ser censurada. Bulgákov era contrário a Stalin e sempre o criticou em suas peças de teatro. O mesmo ocorre em ‘O Mestre e Margarida’, uma sátira que não critica apenas o ditador, mas também a população russa e, de certa forma, literatos assoberbados. Trata-se de um clássico russo do século XX, que só foi publicado, de forma integral, anos após o falecimento prematuro de seu autor. Bulgákov se diferencia dos autores russos do século XIX, apresentando uma escrita mais dinâmica, engraçada e ácida. Inspirando-se em ‘Fausto’, ele escreveu um dos primeiros livros que podem ser classificados como “realismo mágico”, um dos primórdios desse gênero que já consagrou grandes autores. Assim como ‘Deuses americanos’, nem tudo é perfeito e há partes arrastadas, que dão certa preguiça. No fim, entretanto, temos a deliciosa sensação de finalizar uma excelente leitura. Vale destacar a tradução, direta do russo, feita por Irineu Franco Perpetuo, tendo como base a última edição crítica do romance, publicada na Rússia em 2014. Conheça o livro AQUI.

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Livro Capa Neurose Psicose Perversão Freud1° Neurose, Psicose, Perversão – Sigmund Freud (Autêntica, 2016): Temos aqui um livro que faz parte da coleção ‘Obras incompletas de Sigmund Freud’, criada pela Editora Autêntica em 2013. Trata-se de uma nova proposta para a publicação das obras de Freud, o pai da Psicanálise. O corpo editorial por trás dessa coleção pretende organizar os volumes por temas, independente de ordem cronológica, ou fases do autor. Assim, segundo eles, a leitura ficará mais coerente, com menos possibilidades de afastar o publico leigo — aqueles que não conhecem nada sobre Psicanálise. Além disso, há um enorme cuidado com as traduções (que são diretas dos originais em alemão) buscando a maior precisão técnica, literária e semântica. Nesse volume, como o título indica, o leitor terá em mãos textos, artigos e cartas, de Sigmund Freud, que abordam esses três tipos de personalidade, tão importantes para uma análise. Uma leitura enriquecedora, pois Freud estudou esses temas a fundo e, queira ou não, o cara é a base da clínica psicológica, independente de referencial teórico. E, se não bastasse, quem gosta de ler, já deve ter encontrado diversos elementos da Psicanálise em algum romance, ou em filmes, caso a sétima arte seja mais a sua praia. Uma linda coleção, que vale a pena o investimento. Um novo jeito de ler Freud. Leia minha resenha AQUI.

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Agora é com você! Me conte: como foi o seu mês de agosto? Espero que tenha sido ótimo. Deixe aí suas impressões nos comentários.

O post mais visualizado de agosto foi: Minhas Leituras #82: O Mestre e Margarida – Mikhail Bulgákov.

Obrigado pela visita.

Alan Martins


Minha caracterização de Sigmund Freud 😂😂😂


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

12 pensamentos

  1. Parabéns pelo seu Agosto.Foi bom em vários sentidos,né,TIO?Meu não,mas DO SEU SOBRINHO.Tem anos que Setembro é mais problemático que Agosto,né?Apesar da promessa da chegada da alegria com a Primavera,no fim de Setembro,nos países do Hemisfério sul do planeta.Alguns anos atrás teve o desaparecimento das Torres em 11 de Setembro.O começo de Setembro agora em 2018 foi estranho,com o incêndio no museu e a facada no Bolsonaro.Entenda-se:Não estou falando de política,só estou citando um dos fatos estranhos(?) que aconteceram logo no início de Setembro.E não se sabe se vem mais por aí!Afinal,ainda tem muito Setembro pela frente.Mas como o tempo tem voado,talvez nem dê tempo para mais estranhezas(?) em Setembro.Quando repararmos,o mundo já acabou!Desculpe meu “terrir”.Olha…Nem lembro como foi meu Agosto.Acho que não teve nada de mais.Bom,menos mal,né?É…Acho que tirando um pouquinho de um resfriado e um pouquinho de outro e vários “bichinhos da luz”,acho que não teve nada de significativo no meu Agosto,que eu me lembre.Um grande abraço e um grande Setembro,com tudo de bom para você e sua família!!!Bem que tinha reparado na foto,está diferente.Qualquer hora dessa verei melhor seu site na Internet.Uso mais o aplicativo e não dá para ver muito do site.E me diga,se não tiver problema para você,é que também estou querendo um domínio próprio mas só quando estiver podendo,mas para me ajudar na escolha e sarar minha curiosidade,qual o seu provedor de domínio?

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  2. agosto foi muito frio aqui no Rio Grande do Sul. então, além do café, a leitura de A única história, de Julian Barnes; Estádio Chile 1973 – Morte e vida de Victor Jara, de Maurício Brum (para quem quer conhecer o que aconteceu no Chile em 11.09.1973 é um belo livro), e Seabiscuit, uma lenda americana, Laura Hillenbrand, sobre corridas de cavalos e em especial um craque das pistas, porém com um pano de fundo extraordinário que é depressão norte-americana, como era a vidas dos profissionais do turfe, etc. um agosto bem fértil para mim. a caracterização está perfeita. um grande abraço.

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    1. Por aqui a chuva voltou a aparecer em agosto, o que foi muito bom. Também fez um pouco de frio, mas coisa passageira.
      Suas leituras foram muito interessantes e, com certeza, enriquecedoras, livros para se adquirir grande conhecimento. Vou pesquisar sobre alguns desses livros que você citou.
      Grande abraço!

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  3. Li poesia em agosto… de Borges a Plath, de Helder a José Luis Peixoto e me senti muito bem por ler poesia e mergulhar na singularidade de versos. Eu que não leio poesia no ritmo de um romance, senti falta dessa leitura feita em pausas, em pequenos goles. rs

    bacio e que setembro seja lúcido…

    Ps. Embora tenha escolhido a psicanalise, nunca gostei de Freud, mas é sempre bom tê-lo como referência e contestar suas teorias, afinal, segue as diretrizes de Lacan, que também passou por Freud. rs

    E você enquanto personagem me fez rir, já pode assinar Allan Freud, rs
    bacio

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    1. Tenho vontade de ler Plath, por tudo que já li a respeito. Poesia é sempre enriquecedora, é um tipo de leitura bastante diferente e difícil de criticar. Foi um mês muito bom para você, então!
      Olha, pensarei a respeito de assinar meu nome assim, e, quem sabe, até atender vestido dessa forma! 😂😂
      Que setembro seja um ótimo mês!
      Obrigado e grande abraço.

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  4. Muito bom o mês de agosto Alan… O meu foi o seguinte:

    4º – Encarcerados, John Scalzi: a tentativa de mesclar o sci-fi com romance policial é bem válida. A leitura é bem dinâmica e o roteiro é até que bem amarrado, mas o autor comete pequenos deslizes. Sabe aquelas cenas que são inseridas em determinadas situações apenas pra justificar parte da trama, ou eventos que acontecem de forma mecânica e, tenho um certo problema com livros policiais que você meio que desvenda parte da trama e o autor não te dá uma reviravolta no final…

    3º – O Enigma de Andrômeda, Michael Crichton: é um livro cheio de conteúdos técnicos e é de certa forma bem parado, no entanto a trama me prendeu do início ao fim.

    2º – As Brigadas Fantasma, John Scalzi: esse sim é uma ficção científica raiz. Tem todos os elementos que eu mais gosto nesse tipo de leitura. Guerras espaciais, trama política, raças alienígenas, tecnologia avançada; somado com uma leitura dinâmica e uma dose de humor. Esse sim é o melhor de Scalzi.

    1º – O Aprendiz de Assassino, Robin Hobb – Eu estava tão distante das literaturas fantásticas e, apesar do medo de iniciar uma nova saga de livros com esse tema, foi como voltar pra casa depois de um bom tempo longe do meu gênero literário preferido. E que surpresa, o livro tem tudo do que me encanta em fantasia. Qualidade indiscutível.

    Na última semana eu iniciei tbm o “Guia do Mochileiro das Galáxias” (não sei como eu nunca tinha lido Douglas Adams) e “30 e poucos anos e uma máquina do tempo”, que é meio que uma aventura/romance bem água com açúcar, mas que é tão nostálgico e te faz relembrar das próprias experiência que estou adorando.

    P.S.: Alan, muita boa a caracterização do Freud, parece até que pediu as próprias roupas dele emprestadas, hahahaha… Só faltou um pouco mais de branco nessa barba aí, fica a dica pra próxima…

    Abraços, parabéns pelo novo site… tá muito bom. Ansioso pelas resenhas desse mês.

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    1. Olha só, vc leu muita ficção científica em agosto! A Aleph agradece! 😜
      ‘Encarcerados’ está na minha lista, nunca li nada do Scalzi, ainda. Gostei do seu ponto de vista. Vamos ver onde consigo encaixar essa leitura.
      Olha, até pensamos em pintar a barba e o cabelo, mas faltou material, é difícil encontrar algo que deixe uma cor legal, ao mesmo tempo em que não se torne algo ridículo 😂. Mas fica aí um Freud jovem, que tinha cabelo bem escuro (só faltou o bigodão que ele usava).
      Obrigado pela visita e pelas palavras. Fique sempre ligado, novas resenhas estão por vir!
      Abraço!

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