Crise no mercado editorial brasileiro – NML #03

Crise mercado editorial brasileiro livros
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O mercado editorial brasileiro está em crise. Na verdade, este nunca foi um mercado que esteve tão em alta assim, porém já viu dias melhores. Claro, também já houve várias crises, só que dessa vez parece que a coisa é bem séria.

Com isso, temos um efeito cascata. Se as livrarias vão mal, as editoras acabam sofrendo, empregados são demitidos, os preços sobem, menos gente lê, a cultura do país declina. Mas o que será que causa toda essa crise? Vamos analisar alguns fatores.

As livrarias

Grandes redes de livrarias, como a Saraiva e a Cultura, estão demitindo e atrasando pagamentos. Essas livrarias não compram os livros das editoras, são vendas em consignação. Os livros são “emprestados” a essas livrarias, se venderem, as editoras recebem o pagamento, caso contrário, recebem os livros de volta. Dessa forma, só há lucro se há vendas, e as livrarias têm um prazo para pagar as editoras. Como o site Publishnews noticiou, a Saraiva atrasou seus pagamentos, o que deixa os caixas das editoras em déficit. O Publishnews também soltou uma notícia que diz que a Bookwire, grande distribuidora de livros digitais, cortou o fornecimento de e-books para a Saraiva e a Cultura, por conta de pagamentos atrasados. Atrasos geram juros e dívidas.

As próprias editoras

No Brasil, livro ainda é uma coisa elitizada, tanto culturalmente, quanto pelo seu custo. Quem lê muitos livros é visto como rico, intelectual, e tem editora que puxa para esse lado. Há livros baratos, mas há livros bem caros também. Apenas best-sellers apresentam um preço mais acessível, pois vendem muito. Já clássicos modernos, não. E algumas editoras acham que aumentar os preços é uma boa maneira de sair dessa crise, até parecem que não entendem nada sobre economia. De certa forma, elas contribuem para a crise e para a elitização da leitura.

A crise é geral

Todos os setores da economia foram afetados por essa crise que assola o país. Muitos cidadãos perderam o emprego, houve um aumento no preço de tudo. Vamos mal politicamente e economicamente. Quem vai querer investir no Brasil com essa incerteza, nesse ano de eleições? Talvez, apenas talvez, essa situação melhore a partir do ano que vem. Ninguém está com dinheiro sobrando, apenas os milionários. Quem é que vai deixar de comer para comprar livros? As necessidades básicas vêm em primeiro lugar, e o dinheiro da população não está dando nem para cobrir essas necessidades direito.

Novos modelos de negócio

Em época de crise, é hora de inovar. Quem não muda, fica para trás e perece. O Mercado pune quem não se adapta, é uma regra básica da economia. Talvez a Amazon cresceu, no Brasil, por apresentar um modelo de negócio mais moderno e mais atraente às editoras e um melhor atendimento ao consumidor. Hoje existem, pela internet, muitos “clubes do livro”, que enviam caixas mensais aos seus assinantes. Até mesmo algumas editoras estão adotando esse modelo de negócio, passando a fazer vendas diretas ao consumidor. E essa pode ser uma tendência, passar a vender diretamente ao leitor, sem a necessidade de terceiros. O modelo de negócio que fizer sucesso será logo adotado pela maioria, quem não se modificar sofrerá para permanecer vivo. Além disso, há editores que se aproximam de governos para conseguir algo, já que livros são adquiridos para fins educacionais. Empresas privadas que necessitam da ajuda do Estado para sobreviver são, na verdade, parasitas. Livros são importantes para a cultura de um país, porém editoras são empresas que visam lucros, que devem ser obtidos por méritos próprios, não com ajuda governamental (é um investimento governamental importante, mas as editoras não deveriam ficar dependentes desse tipo de venda). Lucro gerado por meio de investimento estatal é um lucro artificial, a empresa não ganhou dinheiro porque oferece bons produtos e serviços, ou devido à alta demanda dos consumidores.

Valorização cultural do livro

Considerando o tamanho do Brasil, em termos territoriais e populacionais, o número de leitores e consumidores de livros deveria ser bem maior, um dos maiores do mundo, aliás. A educação brasileira não recebe muito investimento, principalmente o ensino básico, e essa é uma área que deveria receber maior apoio do Estado. A formação de leitores deve ser incentivada na infância, nesse período da vida escolar. Um adulto pode passar a ser um leitor, todavia, é mais fácil criar um leitor desde cedo, a partir do momento em que a criança aprenda a ler e passe a frequentar a escola. E na escola, a visão da leitura como algo elitista deveria ser combatida, com essa cultura dos livros sendo ampliada a todos, independente da situação financeira. Ao se formar mais leitores, haverá maior demanda por livros, o que aquecerá o mercado editorial.


Crises desse tipo não são causadas por apenas um único fator, é a consequência de vários. O que acontecerá com o mercado editorial brasileiro? Não sei, mas já deu para sentir um aumento no preço dos livros e é possível observar editoras atrasando lançamentos. A queda nas vendas de livros não é de hoje, isso já ocorre há certo tempo. A crise continua, apesar de as vendas apresentarem certo aumento em 2018. Espero que a situação mude para melhor. Para isso acontecer, será preciso uma grande mudança, em muitos setores.

*Alguns editores deram uma entrevista a Pedro Bial, comentando sobre essa crise. A entrevista pode ser visualizada AQUI.

Alan Martins


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

14 pensamentos

  1. Literatura, romance, poesia, até os livros holísticos e religiosos foram sobretaxados e capitalizados além do aceitável, sebos e bibliotecas foram esmagados o raciocino matemático comercial tomou conta do aporte e transporte dos condutores do pensamento e sentimento emocional.

    Trabalhei durante uma ano na Saraiva Mega Store do Shopping Ibirapuera uma das maiores do Brasil, no setor que era pequeno de Autoajuda/Religião/Mentalismo e afins, em menos de 6 meses tripliquei as vendas apenas com dialogo e indicação de livros aos leitores, o atendimento consultivo e humanizado cordial amigável deu lugar depois a pontas de gondolas e agressivas exposições de pilhas de livros, ondas consumistas eram inventadas, a livraria não passava de depósito para as vendas virtuais, me demiti no final de 2009 profundamente decepcionado com a mercantilização do pensamento e sentimento conhecimento sabedoria acondicionados nos livros, quando decidiram reduzir meu setor para ampliarem a venda de livros técnicos como os de direito e medicina…

    Fora que a leitura romântica ou literária é uma tendencia de apaixonados no Brasil, não de hábito comum incutido na infância; ou de necessidade como a leitura técnica de formação.

    Perguntemos agora, se o setor de games e entretenimento está em crise? Netflix a todo vapor, Youtubers roubando as atenções dos distraídos com besteirol e discursos inflamados, para que ler Game OF Thrones se eu posso assistir tudo dramatizado por uma micharia mensal?

    Como poeta, escritor e ex-livreiro a caminho de uma licenciatura em português e literatura, não lamento a crise ela é o efeito de uma industria editorial que teve mais marqueteiros, gestores de custo e lucro ou acionistas que profissionais diretos do livro, para um bem inestimável e intangível quiseram estipular um preço um nicho de mercado resultado quando os consumidores perderam o interesse ou o poder aquisitivo e foram consumir outro entretenimento além do livro a farra acabou, mas a tecnologia foi feita para a arte e não a arte feita para a tecnologia, logo a forma de ligação entre autor e leitor é adaptada reinventada e tal como o mercado fonográfico as gravadoras no caso as editoras e livrarias perderão poder, agora o cenário é mais democrático a ligação é direta sem que precisemos de intermediários mercenários dos editores e livrarias escrevemos diretamente para nossos leitores por blogs, sites, portais redes sociais…

    #CicBenSil

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    1. Fico triste com o seu relato, pois expõe a verdade como ela é.
      O Brasil é fraco em autores nacionais, nenhum é um ícone, astro ou estrela. Em outros países, vemos autores famosos,com grande base de fãs e que ganham bem. Isso é algo que estimula as pessoas a verem que o livro é um negócio interessante e que pode ser uma profissão, que é possível, por exemplo, ser um escritor e viver bem e ser respeitado. Falta isso no Brasil, identidade com a literatura. Mas também não há muitos incentivos por parte das editoras.
      Sem falar da péssima gestão das grandes livrarias e até de editores. Inventam muitos culpados, mas não olham para si mesmos e também se esquecem dos consumidores, que são aqueles que fazem o negócio girar. E ideias como a de regular preços e descontos só pioraram as coisas, é remediar sem mexer na causa verdadeira. É preciso que a literatura chegue às massas, e não é bem o que muita gente parece querer.
      Gostaria que a situação do livro, no Brasil, fosse melhor. Luto por isso, com minhas opiniões e dicas de leitura. É um pequeno passo, mas que pode fazer algumas diferenças.
      Obrigado por contar a sua história e colocar seu ponto de vista.
      Grande abraço.

      Curtir

  2. Alan… Concordo completamente com você. Aliás, acredito que o livro físico tenha mais poder de despertar o interesse na leitura em potenciais novos leitores. Meus filhos (1 de 6 anos e uma de 2 anos) mesmo ficam fascinados na minha estante. Todo dia eles querem ver, pedem para pegar… E quando visitamos alguma livraria então…

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  3. Essa crise é velha porque o mercado editorial brasileiro não sabe tratar o leitor, autor e editoras em geral. Por mais aconchegante que seja a Livraria Cultura aqui em São Paulo, sabemos o que há por trás daquela estrutura, que até então era financiada por programas governamentais. Mas, tanto Cultura como Saraiva tratam o livro como produto e só se importam com as vendas. Virou um grande negócio para poucos. Uma estrutura envenenada não pode resultar em bons frutos.
    Já vi isso acontecer em Portugal, onde as grandes livrarias sufocaram as pequenas com a ajuda das editoras. Aqui em São Paulo, começou com o fechamento de Sebos. Na época, eu avisei em reunião que era um sinal de alerta. Disseram que era apenas o mercado se reposicionando. Não era.
    Outra coisa, qualquer um publica nesse cenário atual. Há milhares de livros nas prateleiras. Uma produção insana-insensata, a maioria paga pelos próprios autores, doidos para verem seus livros nas prateleiras de grandes livrarias.
    Enfim, a crise financeira não é a grande vilã do mercado editorial, somos todos nós.
    Acho que me empolguei, rs
    sorry

    bacio

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    1. É uma crise que envolve muitos fatores, mesmo.
      As grandes livrarias conseguem fazer promoções que as pequenas não conseguem, porque as vendas das grandes redes são maiores. E as editoras decidem os valores promocionais, então, de certa forma, elas ajudam as grandes e não dão a mesma força os pequenos.
      Há também a opção de publicação independente por meio digital, através da Amazon com seu Kindle. Hoje está bem fácil publicar algo, dessa maneira.
      É uma crise bastante complicada. Muita coisa vai ter que mudar e teremos que nos adaptar a novos cenários também. Vamos ver o que será!
      Gostei na empolgação no comentário! 😀
      Obrigado.
      Abraço.

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    1. A venda de e-books pode aumentar, e aí vai tirar uma fatia das livrarias. Talvez o futuro das livrarias seja investir no mercado digital, vendas eletrônicas. Não acredito que os livros físicos deixarão de existir, porém as vendas digitais tendem a crescer.

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      1. Esses dias eu li pela internet exatamente o contrário, os livtos digitais caíram drasticamente as vendas comparado com as edições físicas. Bom, claro q pode ser influência da crise, mas podemos levar em consideração que os leitores mais fiéis ainda preferem ter o livro nas mãos. Eu sou um desses, para mim nada substitui um belo exemplar em edição física.

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      2. Eu também prefiro o livro físico, é mais prático. Até tenho um leitor de e-book, mas não tenho a menor vontade de substituir os livros físicos por ele. Ter um livro em mãos é uma experiência completamente diferente e mais completa.

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