“Um clássico em edição repaginada”
Título: A máquina do tempo
Autor: H. G. Wells
Editora: Suma
Ano: 2018
Páginas: 176
Tradução: Braulio Tavares
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“Não existe inteligência onde não existe mudança ou a necessidade de mudança.” (WELLS, H. G. A máquina do tempo. Suma, 2018, p. 128)
Em seu primeiro romance publicado, H. G. Wells já demonstrou o motivo de ter se tornado um autor clássico da ficção científica, apresentando um livro criativo, mas com sinais da pouca experiência de um iniciante.
Uma mente criativa
Os maiores clássicos do britânico Wells foram publicados no final do século XIX. Além de ‘A máquina do tempo’, podemos citar o eterno clássico ‘A guerra dos mundos’, onde ele imaginou a Terra sendo invadida por marcianos, ‘O homem invisível’ e ‘A ilha do Dr. Moreau’.
De certa forma, esse autor popularizou o gênero ficção científica no Reino Unido e ao redor do mundo, pois tornou-se um fenômeno mundial. Junto com Orson Welles, famoso ator e diretor de cinema, protagonizou um episódio engraçado nos Estados Unidos. Os dois adaptaram ‘A guerra dos mundos’ para um programa de rádio, em 1940. A história de invasão alienígena foi levada a sério, causando grande alvoroço na população de San Antonio, cidade localizada no estado do Texas.
Foi um autor não só muito apreciado pelos leitores, mas também por figuras políticas, com as quais sempre manteve boas relações, mesmo que houvesse divergências ideológicas. Sua importância para o gênero ficção científica é enorme, com certeza uma grande inspiração para autores posteriores. Sem Wells, talvez não tivéssemos grandes nomes como Isaac Asimov e Philip K. Dick.
“Quando a população é equilibrada e abundante, ter muitos filhos torna-se um mal e não uma benção para o Estado […]” p. 57
Viagem no tempo
Esse é um tema já explorado antes de Wells, sendo, na verdade, um tema que sempre intrigou o ser humano: quem é que não gostaria de poder viajar no tempo?
Antes, havia a viagem no tempo por meio de magia, ou algo do tipo. O diferencial de Wells foi ter “inventado” uma máquina capaz de executar essa proeza, transportar o homem para o futuro ou passado, talvez um dos primeiros autores a propor tal máquina.
Conhecido como Viajante do Tempo (o autor não nomeia boa parte de seus personagens nesse livro), o protagonista apresenta, a seus amigos, a ideia de viajar no tempo, afirmando ter criado uma máquina que realizaria tal façanha. Incrédulos, todos têm uma surpresa, uma semana depois, quando encontram o Viajante do Tempo machucado e com as roupas rasgadas. Segundo ele, sua aparência é péssima por causa da aventura que teve num futuro distante, no ano de 802 701.
A partir desse momento até o final, o livro apresenta o relato do protagonista, de tudo o que ele encontrou nesse futuro (uma visão nada otimista), um mundo muito diferente do seu tempo atual (o final do século XIX), povoado por um pequenino povo (os Eloi) de fala estranha, que vivem tranquilos, em estado de bem-estar total. Porém, apesar desse mundo quase perfeito, há uma grande ameaça, os Morlocks, criaturas que representam um grande perigo aos Eloi. O que será que o Viajante do Tempo enfrentou nessa aventura? Só lendo para saber!
“A força é um resultado da necessidade; a segurança conduz ao enfraquecimento.” p. 59
Mais aventura, menos ciência
Temos aqui um clássico da ficção científica, entretanto falta muita ciência nessa obra. Podemos dizer que é um livro mais de aventura, afinal Wells não apresenta muitas explicações sobre sua máquina do tempo, seu funcionamento; nada é aprofundado. Boa parte do enredo é baseado em especulações de sua época, coisa bem rasa.
Trata-se de um livro curto, de leitura é bem rápida. E há um motivo para esse sentimento de pressa, de que falta algo, mais desenvolvimento. O autor passava por um mau momento financeiro, estava precisando de dinheiro. Dessa forma, sacrificou sua ideia, a possibilidade de criar uma história mais elaborada, por um pouco de grana, mesmo que isso significasse um livro mais “fraco”.
Sem dúvida essa poderia ter sido uma obra muito mais completa, e o próprio autor admitiu isso, em um prefácio escrito por ele para uma edição de 1931 de ‘A máquina do tempo’. Não faltou criatividade, esse futuro imaginado por Wells é bem engraçado e diferente, muito longe de um mundo tecnológico, que seria a ideia mais comum. Todavia, a pressa prejudicou a obra num todo. É um clássico, cheio de indagações filosóficas, criticando o comodismo, mas passa longe de ser um dos melhores livros do mundo.
“Mesmo em nossa própria época, certas tendências e desejos que em algum momento foram necessários a nossa sobrevivência tornam-se uma fonte constante de fracassos.” p. 63
Sobre a edição
Linda edição. Capa dura com acabamento em soft-touch, detalhes em baixo-relevo, miolo em papel Pólen Bold, boa diagramação. Há alguns extras, como o prefácio escrito por Wells em 1931, notas e ilustrações feitas pelo artista Davi Augusto. As notas estão no final do livro, e nada indica isso. Senti a falta de um sumário.
A tradução ficou por conta do poeta paraibano Braulio Tavares, que também escreveu uma introdução para essa edição. Tradução muito boa, feita por um fã de ficção científica. É a mesma tradução da edição que, até então, era publicada pela editora Alfaguara.
“Assim, por que motivo não pode ele [o homem] imaginar que um dia será capaz de acelerar ou interromper seu deslocamento ao longo da dimensão do Tempo, ou mesmo retornar e viajar no sentido contrário?” p. 20
Conclusão
É impossível não enxergar a genialidade e a criatividade de H. G. Wells, basta ler um de seus inúmeros clássicos para perceber isso. Autor de grandes obras como ‘A guerra dos mundos’ e ‘O homem invisível’, iniciou sua carreira de romancista com ‘A máquina do tempo’, um livro bem curto, bastante criativo, mas que poderia ter sido muito melhor. A forma de se viajar no tempo, por meio de uma máquina, foi bastante inovadora, porém faltaram muitos detalhes, a narrativa é corrida, muito apressada. Diversos pontos pedem por mais polimento, falta algo. A parte científica desse livro é bem rasa, o trunfo é a aventura do Viajante do Tempo pelo ano de 802 701, onde ele encontra duas raças bastante distintas: os Eloi e os Morlocks. Leitura que diverte, apresentando um tom filosófico crítico, demorando um pouco para engrenar. A falta de experiência de Wells, quando escreveu esse livro, pesou bastante. É um grande clássico, mas passa longe de ser magnífico. Bela edição, cheia de extras, bonita, caprichada.
“Costumamos utilizar o subsolo para os aspectos menos ornamentais de nossa civilização.” p. 84
Minha nota (de 0 a 5): 3,5
Alan Martins

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É um clássico que está na minha lista faz tempos, tenho que arranjar um espaço para ele. E nossa, muito linda essa edição 🙂
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Não vai precisar de muito tempo. O livro é bem curto e dividido em vários capítulos. É bem fácil rápido de ser lido. Acho que vai conseguir encaixá-lo entre uma leitura e outra.
Essa edição ficou muito bonita mesmo, igual a edição da Suma de ‘A guerra dos mundos’. São edições bem caprichadas. Vale a pena o investimento!
Grande abraço.
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Concordo que carece de explicações científicas, mas o livro vale pela aventura. Muito interessante as curiosidades sobre o autor que você trouxe.
Ótimo post.
Abraço.
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É que dizem se tratar de um clássico da ficção científica, um ponto em que o livro peca bastante. É um livro bem característico do final do século XIX, havia várias histórias sobre aventuras extraordinárias. E essa é mesmo a melhor parte do livro.
Obrigado pela visita!
Abraço.
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Li 1984 e A revolução dos bichos, com o mesmo encantamento que li os livros do Julio Verne – autores, a meu ver, congêneres. Faz muito tempo. Confesso que ando com vontade de reler, sobretudo depois de ver Brazil (um filme interessantíssimo). Isso também tem um tempo… Mas é simplesmente fantástico como eles puderam entrever tanta coisa, com precisão quase cirúrgica!
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Foi um tempo replete de livros desse tipo, sobre grandes aventuras, sempre apresentadas de um modo fantástico. ‘A máquina do tempo’ não foge disso. Um grande clássico, com algumas falhas que podem ser relevantes para futuros autores, um exemplo de como a pressa pode atrapalhar. Obra que merece ser conhecida.
Obrigado pelas palavras!
Abraço.
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