“O primeiro romance do velho safado”
Título: Cartas na rua
Autor: Charles Bukowski
Editora: L&PM Pocket
Ano: 2011
Páginas: 192
Tradução: Pedro Gonzaga
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“E embaixo disso tudo, os peixes, os pobres peixes lutando uns contra os outros, comendo uns aos outros. Nós somos como esses peixes, com a diferença de que estamos aqui em cima.” (BUKOWSKI, Charles. Cartas na rua. L&PM Pocket, 2011, p. 135)
Logo em seu primeiro romance, com uma escrita praticamente autobiográfica, Charles Bujowski apresenta seu estilo marcante, copiado por muitos, porém jamais reproduzido com a mesma originalidade.
O velho safado
Charles Bukowski nasceu na Alemanha em 1920, porém cresceu o viveu a vida toda nos Estados Unidos. Foi um autor versátil, escreveu poemas, contos e romances, com um estilo único, polêmico e obsceno, o que lhe rendeu a alcunha de “velho safado”.
Seu primeiro romance, ‘Cartas na rua’, foi publicado em 1971, quando Bukowski tinha cinquenta anos. A partir de então, dedicou-se integralmente à carreira de escritor, tendo publicado mais de sessenta livros até 1994, ano em que faleceu, vítima de leucemia.
Apesar de sempre ter sido considerado um autor de “segunda categoria” pela crítica, Bukowski foi e continua sendo um autor muito popular, pois seus livros tratam de situações comuns, como relacionamentos amorosos, problemas com o álcool e a vida da camada mais pobre da população, que trabalha duro em empregos sobrecarregados. Entre o grande público, ele é um autor bastante cultuado.
“Que pecado há em ser pobre.” p. 109
Autobiográfico
Em ‘Cartas na rua’, conhecemos o personagem Henry Chinaski, alter ego de Bukowski, que aparece em vários de seus livros. Assim como seu criador, Chinaski resolve se candidatar a uma vaga nos Correios dos EUA, onde ambos trabalharam por mais de dez anos.
Trata-se de um emprego “puxado” e desumano. As condições de trabalho não são nada boas, há uma enorme cobrança, representando bem o estilo clássico de modelagem de cargo, onde prezava-se a eficiência, o menor tempo possível, com metas a serem cumpridas, tudo cronometrado. Você pode imaginar como um emprego desse tipo pode afetar uma pessoa, de forma negativa.
Ademais, Chinaski é um grande alcoolista e vive sempre com as economias apertadas. Todas as noites é indispensável se embebedar, o que o faz dormir pouco e chegar “detonado” ao trabalho. Sim, outra característica autobiográfica, Bukowski também gostava de algumas doses a mais.
Essa é a vida do protagonista, conturbada, desumana, cheia de relacionamentos onde o sexo falava mais alto que tudo, apesar de uma dessas mulheres ter marcado sua vida de forma mais profunda, uma personagem inspirada na grande paixão da vida do autor.
“Era uma decisão terrível. Homens, pássaros, todos têm de tomar esse tipo de decisão. Era um jogo duro.” p. 82
Estilo “sujo”
Um dos motivos para que as obras de Bukowski não fossem tão apreciadas nos círculos de intelectuais, com certeza, é o seu estilo, marcado por uma linguagem simples, popular e bastante obscena.
Esqueça aquele estilo romantizado, onde todo mundo fala de forma culta, elegante, com incríveis metáforas para o amor. Em ‘Cartas na rua’ você encontrará palavrões aos montes, muitas conotações sexuais e um humor ácido. É um livro que, se tivesse sido escrito hoje, receberia inúmeras críticas da patrulha do politicamente correto. Bukowski é direto e não mede palavras.
Trata-se de uma leitura rápida e dinâmica. Tudo é narrado sem enrolação, de forma simples. O livro é curto e os capítulos são divididos em várias partes, o que faz a leitura fluir. Além de passagens bem-humoradas, o leitor encontrará muitas críticas ao sistema trabalhista, onde o trabalhador é sugado pelo emprego, que só visa bater metas. Ao escrever sobre sua própria experiência, Bukowski criou uma obra que representa bem a vida que muita gente leva, onde problemas no trabalho são refletidos em casa, abalando o psicológico do sujeito, que encontra, muitas vezes, a fuga no álcool, ou em outras drogas.
“— É, não se pode culpar um homem por querer melhorar de vida.” p. 69
Sobre a edição
Edição de bolso, publicada pela editora que possui o maior acervo de livros de bolso do país. Não espere uma edição muito elaborada. Brochura, capa sem orelha, miolo em papel offset (branco), fonte pequena e margens estreitas. Apesar disso, a leitura não é prejudicada, o tamanho da fonte não atrapalha e, por conta desses detalhes, o livro fica mais barato.
Boa tradução, feita pelo poeta e autor Pedro Gonzaga, doutor em Literatura pela UFRGS. Gonzaga manteve o estilo característico de Bukowski, adaptando bem as gírias e palavrões. Assim como o autor, o tradutor não mediu as palavras.
Poderia haver algumas notas de rodapés para explicar alguns jogos de palavra que o autor faz. Quem compreende um pouco de inglês, até “pegará” esses jogos, mas, quem não entende muito, ficará boiando.
“O cara bacana. O “homem dedicado”. Degolado sobre um fardo de circulares de um supermercado local — com a oferta do dia: uma caixa de sabão em pó de nome pomposo grátis, com o cupom, em qualquer compra acima de três dólares.” p. 48
Conclusão
Bukowski surpreende aqueles leitores que estão acostumados com uma linguagem mais culta, pois seu estilo é coloquial e obsceno, o que tem tudo a ver com suas obras e temas que aborda. Henry Chinaski, o protagonista, é o alter ego do autor, são reflexos. Tudo começa quando Chinaski decide se candidatar a uma vaga de emprego, oferecida pelos Correios dos Estados Unidos. Ele trabalhará nessa empresa por mais de dez anos, enfrentando enormes cobranças, chefes babacas e péssimas condições de serviço. O livro funciona muito bem como uma crítica a empregos desse tipo, mostrando como a vida sofrida pode levar um sujeito à beira do abismo. Para enfrentar essa barra, Chinaski desconta as mágoas no álcool, o que não ajuda em nada seus inúmeros relacionamentos amorosos. Ler ‘Cartas na rua’ é conhecer uma parte da vida de seu autor, que foi muito difícil, assim como é a vida de boa parte da classe trabalhadora, não só dos EUA. Carregado de humor ácido e palavras obscenas, esse é um livro bastante realista, direto ao ponto, o que caracterizou o estilo de Bukowski, um autor adorado por uma enorme legião de fãs.
“As ruas estavam cheias de pessoas insanas e cretinas. A maioria delas morava em belas casas e não parecia trabalhar, e eu não deixava de me perguntar como elas faziam para sobreviver.” p. 33
Minha nota (de 0 a 5): 4
Alan Martins

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hey this was a great article on bukowski i
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Thanks a lot!
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