Minhas Leituras #65: A incendiária – Stephen King

Livro A Incendiária Stephen King nova edição

“Stephen King mostrando que não escreve apenas terror”

Título: A incendiária
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Ano: 2018
Páginas: 450
Tradução: Regiane Winarski
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“[…] quando estamos em uma situação ruim, às vezes é preciso fazer coisas que nós nunca faríamos se as coisas estivessem bem.” (KING, Stephen. A incendiária. Suma, 2018, p. 107)

Após um início de carreira arrebatador, com obras puramente de terror, Stephen King escreveu três livros, em sequência, que fogem desse padrão, sendo, na realidade, livros de suspense. ‘A incendiária’ é um deles.

Autor de terror? Sim, mas não apenas

Stephen King é um autor reconhecido tanto pelos seus mais de cinquenta livros publicados, quanto pelas adaptações cinematográficas baseadas em muitos desses livros. Suas primeiras obras são consideradas verdadeiros livros de terror, e essa fama, de que ele é um autor desse gênero, pegou.

Claro, com toda certeza, King é um escritor de terror, porém ele não se limita a apenas esse gênero, aliás, boa parte de seus livros não se encaixam nesse gênero pouco apreciado pela crítica mais “erudita”. Muitos sucessos do autor são boas obras de suspense, drama, mistério ou fantasia. O mais ilustre morador do Maine é um artista versátil, e, ouso dizer, seus melhores livros não são aqueles considerados histórias de terror.

Mesmo para quem não é fã desse gênero literário, vale a pena conhecer o autor e sua história. King é um cara batalhador, esforçado e dedicado. Apaixonado pela leitura e pela escrita, ele conseguiu transformar o mercado editorial e a indústria do cinema. Uma verdadeira inspiração viva.

“Em Nova York, se não é com você que algo está acontecendo, uma cegueira esquisita se desenvolve.” p. 10

Ficção científica e suspense

Podemos classificar este livro como uma obra pertencente a esses dois gêneros. O início da narrativa já nos indica que haverá muito suspense ao longo do caminho, assim como elementos de ficção científica, que são essenciais para o enredo.

Tudo começa com Andy, até então um professor universitário, e sua filha de oito anos, Charlie, fugindo de um carro pelas ruas de Nova Iorque. Fogem, pois, são muito valiosos para o Governo dos Estados Unidos, que possui organizações secretas envolvidas com experimentos científicos. Nesse caso, a organização se chama “a Oficina”.

No passado, Andy foi um voluntário desses experimentos, assim como sua esposa, Vicky. O resultado disso foi a aquisição de estranhos poderes psíquicos. Charlie herdou o poder de seus pais, mas, por algum motivo, seus poderes são ainda maiores e mortais. Trata-se de um poder capaz de causar muita destruição, basta ler o título do livro para ter uma ideia do que se trata.

“Bem, algumas coisas são maiores do que nós dois, e outras coisas são maiores do que todos nós.” p. 17

Sobe, sobe… despenca!

Há um motivo para este livro nunca figurar nas listas de “10 melhores obras de Stephen King” que existem por aí. Tudo começa muito bem, com um crescente clima de tensão e urgência. Somos apresentados aos protagonistas, aos poderes psíquicos e aos planos obscuros do Governo estadunidense. Porém, toda essa adrenalina despenca na metade do livro e jamais volta ao mesmo nível de antes.

Após ficar monótona, a narrativa não consegue mais impressionar como vinha fazendo, até porque, nesse ponto do enredo, já temos uma boa noção dos danos que o poder de Charlie é capaz de causar. Sendo assim, aquilo que aparece depois não é novidade. Contribuindo de maneira negativa, King fica muito descritivo, o que alonga o texto, mas não de um jeito bom. Certas partes poderiam ser retiradas da obra sem qualquer dano, o que até poderia deixar a leitura menos cansativa e arrastada.

Nem o grande vilão, John Rainbird, um índio veterano da Guerra do Vietnã, se salva. De início, até parece que ele será um vilão digno dos romances de Cormac McCarthy, mas até esse personagem acaba deixando a desejar. Sem falar de certos detalhes bem inverossímeis, como um veterano de guerra saber mais sobre psicologia do que os psicólogos e psiquiatras responsáveis pelos experimentos da Oficina. É forçar a barra.

King nunca foi bom com finais, e em ‘A incendiária’ esse detalhe não poderia ser diferente. O final é sem graça, nada marcante. Mas, apesar dessas críticas, devemos parabenizar a imaginação do autor, por criar toda uma conspiração contra os protagonistas, utilizando muito bem os elementos de ficção científica. Pena que poderia ter sido uma história muito melhor.

“Andy não tinha muita fé na ciência moderna, que dera ao mundo a bomba H, o napalm e o rifle com mira laser, ao mesmo tempo em que havia criado a vacina contra a poliomielite e o creme contra acne.” p. 41

Sobre a edição

Eis o quarto volume da coleção “Biblioteca Stephen King”. Seguindo as características de seus antecessores, temos uma edição em capa dura, com acabamento em soft-touch e alto-relevo, miolo em papel Pólen Soft, boa diagramação e um belo projeto gráfico. A primeira página de cada capítulo é estilizada para passar a impressão de papel queimado.

Tradução de Regiane Winarski, profissional que traduziu os últimos livros do autor que foram publicados pela Suma. Ser uma tradutora recorrente é bom, pois ela passa a conhecer melhor King e seu estilo, o que resulta em uma melhor tradução. Gosto de seu estilo moderno, utilizando termos mais adequados ao nosso tempo e evitando substituir “bunda” por “traseiro”, para dar um exemplo — isso é algo que ainda acontece muito.

Como extra, a edição traz um posfácio escrito por Grady Henderson. Sua interpretação da obra é interessante, ressaltando se tratar do início da puberdade, quando uma menina se torna mulher, onde questões sexuais são despertas — uma visão que orbita a psicanálise.

Algo que não entendi foi a omissão da citação do livro ‘Fahrenheit 451’, de Ray Bradbury, que existe na edição original em inglês, assim como na primeira edição brasileira, publicada pela Record na década de 1980. Todavia, a Suma manteve a dedicatória à Shirley Jackson, uma autora que a editora passou a publicar em 2017. Estranho…

“Chaves eram coisas engraçadas: dava para indexar uma vida pelas chaves que acabavam se reunindo em um chaveiro.” 157

Conclusão

Seria injusto dizer que Stephen King é apenas um escritor de terror. ‘A incendiária’ mostra que não é bem assim, pois é um livro que não tem nada de terror. Pensando melhor, podemos classificá-lo como suspense/ficção científica. O enredo conta a história de um pai, Andy, e sua pequena filha, Charlie. Por conta de experimentos científicos comandados pela Oficina, uma organização secreta do Governo dos EUA, os dois protagonistas possuem poderes psíquicos, sendo os da garota muito mais poderosos, poderes que dão nome ao livro e que são capazes de causar grande destruição. Agora a Oficina os quer e vai persegui-los até que esse objetivo seja atingido. Uma premissa muito legal, com um início arrasador. Entretanto, toda essa empolgação é perdida no meio do caminho, onde a leitura fica monótona, surpreendendo pouco. Sem conseguir retornar ao nível de antes, o final deixa a desejar. Bons protagonistas, mas não é possível falar o mesmo dos antagonistas, que são burros em sua maioria. O grande vilão, assim como a narrativa, perde o brilho lá pela metade do livro. Leitura que deixa a sensação de que poderia ter sido melhor.

“— A vida é difícil se você não cede.” p. 76

Minha nota (0 a 5): 3,5

Alan Martins

Livro A incendiária, Stephen King, Suma
Mais um belo volume para a coleção “Biblioteca Stephen King”!

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

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