Minhas Leituras #60: Sonhos elétricos – Philip K. Dick

Capa do livro Sonhos elétricos

“Os contos que inspiraram a série da Amazon Prime”

Título: Sonhos elétricos
Autor: Philip K. Dick
Editora: Aleph
Ano: 2018
Páginas: 256
Tradução: Daniel Lühmann
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“Pode idolatrar o passado, se quiser. Mas lembre-se: ele está morto e enterrado. As épocas mudam. A sociedade progride.” (DICK, Philip K. Peça de exposição. In: Sonhos elétricos, Aleph, 2018, p. 11)

A série ‘Philip K. Dick’s Electric Dreams’, exclusiva do serviço de streaming Amazon Prime, consiste em dez episódios baseados em dez diferentes contos de PKD. Aproveitando o embalo, uma coletânea desses dez contos foi publicada nos EUA, livro este que é um dos lançamentos da editora Aleph.

Filósofo da ficção científica

Consideramos, hoje, Philip K. Dick um dos grandes nomes da literatura de ficção científica. Nem todo esse reconhecimento ele obteve em vida. O filme ‘Blade Runner’ (1982), baseado em seu livro ‘Androides sonham com ovelhas elétricas?’ (1968), colocou o nome de PKD em grande evidência, mas, infelizmente, o autor faleceu poucos meses antes da estreia da película.

Alguns de seus romances foram adaptados para o cinema, porém existem muito mais adaptações que foram baseadas em seus contos. Para citar algumas: ‘O Vingador do Futuro’, ‘Minority Report’ e ‘O Pagamento’. Ao longo de sua carreira, PKD publicou mais de oitenta contos.

Sua ficção científica é marcada por grandes questionamentos sobre a humanidade e sobre o que nos torna humanos, uma dualidade, que se estende à discussão sobre real e irreal. Fica a impressão de que todo elemento futurista presente em suas obras são pontes para debates atuais, seja dos anos 1950, seja dos anos 2000, uma alavanca que abre as portas de uma grande filosofia.

“Afinal, à medida que a evolução, a inovação e a tecnologia colidem inevitavelmente, uma verdade fundamental permanece: ser humano significa amar.” Jessica Mecklenburg, introdução ao conto ‘Humano é’, p. 64

Autor em evidência

Parece que PKD é um autor em evidência; podemos chegar à essa conclusão observando as recorrentes adaptações de suas obras para outras mídias. Os dez episódios da série ‘Sonhos Elétricos’ foram ao ar ao longo de 2017 e início de 2018, baseados em dez contos distintos, sem qualquer tipo de ligação. Temos também a série original da Amazon Prime ‘O Homem do Castelo Alto’, baseada no livro homônimo (veja minha resenha AQUI).

Isso é muito bom para as editoras que publicam o autor, e ainda melhor para os leitores. Esse é um autor que vale a pena ser conhecido, um autor de histórias fantásticas, fantasiosas, que conseguia, ao mesmo tempo, ser extremamente real e humano, com uma escrita sagaz e inteligente.

Nem todo autor é capaz de criar um universo futurista apenas para criticar um problema de nosso tempo. Isso é comum nas obras de PKD, assim como sua ficção científica exagerada, criando mundos repletos de robôs domésticos, viagens intergalácticas e o plástico sendo um elemento base para quase tudo no futuro. Você encontrará tudo isso e mais um pouco nesse livro.

“— Ninguém deveria liderar a humanidade. Ela deveria liderar a si mesma.” In: O fabricante de gorros, p. 124

Contos inteligentes

Todos os dez contos são bons, um ou outro sendo um pouco mais fraco, porém todos prendem a atenção do leitor, empolgam e passam muito longe do enfado. Para deixar a leitura mais agradável e dinâmica, os contos são distintos, nada parecidos, cada um abordando um tema diferente.

Dentre os contos, destaco: ‘Foster, você já morreu’, uma crítica ao consumismo desenfreado e ao sentimento de pertencer ou não à sociedade por seguir, ou não, seus padrões; ‘A coisa-pai’, ótima história de terror/suspense; ‘Humano é’, questionando o que é ser humano e quais sentimentos (como o amor) nos tornam um; e ‘O enforcado desconhecido’, thriller que pode ser interpretado pela ótica de um indivíduo racional num mundo de pessoas irracionais (ser o diferente).

Leitura agradável e fluida, você não vai querer largar o livro antes de terminá-lo. Contos carregados de críticas e debates sobre o mundo contemporâneo. Apesar de serem contos escritos na década de 1950, estando entre as primeiras obras de PKD, o sentimento de “nossa, como isso é atual, é algo que vivencio todo dia!”, ao terminar um conto, é surpreendente.

“Os personagens de PKD não são super-heróis à espera. Ao contrário, estão mais para um zé-ninguém a quem foi concedida uma espiada pela janela, e reagem de acordo com isso.” Jack Thorne, introdução ao conto ‘O passageiro habitual’, p. 197

Sobre a edição

Edição padrão: brochura, capa com orelhas, arte seguindo o padrão adotado pela Aleph para os livros de PKD, páginas em papel Avena 80g/m² (que é uma ótima gramatura), boa diagramação. Sobre a capa há uma espécie de jacket, removível, igual a encontrada na edição de ‘Androides sonham com ovelhas elétricas?’, livro também publicado pela Aleph.

Cada conto é precedido por uma introdução escrita pelo roteirista responsável por adaptá-lo para a série televisiva. É interessante conhecer a visão dos roteiristas, descobrir os elementos que mais chamaram a atenção. Nota-se que, pelos comentários de alguns deles, a eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016 não agradou muito os produtores de TV.

Tradução de Daniel Lühmann, jovem tradutor que já fez alguns trabalhos para a Aleph, como traduzir o livro ‘O reflexo na escuridão’, do próprio PKD. Tradução muito boa, texto coeso, mantendo o estilo e a fluidez do original. Vale ressaltar o bom trabalho da equipe de revisão.

“— Louco? Não. Só sou sortudo, mesmo. Se eu não estivesse lá embaixo, no porão, estaria igual a todos vocês.” In: O enforcado desconhecido, p. 229

Conclusão

Ainda não assisti a nenhum episódio da série, mas, se forem parecidos com os contos nos quais se basearam, deve ser uma série muito boa. Philip K. Dick mostra-se um escritor versátil em seus contos, viajando entre diversos gêneros literários, com foco principal na ficção científica, mas passando pelo terror, pelo suspense e pelo drama. Suas histórias recebem uma pitada de filosofia, sempre contendo um questionamento por trás daquilo que é narrado. Ele criava mundos e universos para poder discutir temas presentes na sociedade dos anos 1950, sendo temas ainda recorrentes. Por isso, ao final de cada conto, temos uma surpresa quando percebemos o quão atual é o aquilo que acabamos de ler. Leitura fluida, que entretém ao mesmo tempo em que desperta o leitor para a vida, para problemas que nos cercam. Uma das melhores antologias que já li.

“— Meu pai diz que é desperdício de dinheiro. Diz que estão tentando assustar as pessoas para que comprem coisas de que não precisam.” In: Foster, você já morreu, p. 141

Minha nota (de 0 a 5): 4,5

Alan Martins

Livro Sonhos elétricos, Philip K Dick
Ainda acho muito simples o design adotado pela editora para as obras de PKD, mas este, ao menos, tem algo a ver com sonhos (as cores).
Clique para exibir o sumário do livro

•Peça de exposição
•Autofab
•Humano é
•Argumento de venda
•O fabricante de gorros
•Foster, você já morreu
•A coisa-pai
•O planeta impossível
•O passageiro habitual
•O enforcado desconhecido


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

24 pensamentos

  1. certa feita, estava em uma longa conversa sobre a edição de um suplemento literário e a coluna sobre livros livros para ler nas férias. e a lista aumentava. quando sugeri Dick, o coordenador geral perguntou a razão da escolha e eu apenas disse: Dick é Dick e é o suficiente. não lembro se entrou na coluna ou não, mas continuo com o mesmo pensamento. bela resenha, Alan. o meu abraço.

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    1. Verdade, concordo com sua afirmação. Até agora não li nada parecido com ele, acho que a ficção científica de hoje não se importa com os temas que Dick escrevia. É muito gratificante ler um livro desse autor, sua capacidade crítica e fantasiosa são surpreendentes.
      Espero que o livro tenha entrado na coluna! Merecido.
      Grande abraço, bom domingo.

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    1. Exato, esse é o diferencial de PKD e o que torna a leitura de suas obras algo instigante, até porque não importam os detalhes futuristas, mas sim o debate que o autor insere nas histórias, debates bem atuais e que fazem parte do nosso mundo. A ficção científica dá mais liberdade para ele, além de deixar suas obras mais atraentes.
      Acho que vai gostar desse livro!

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      1. O gênero serviu como uma luva para os ideais dele.
        Este eu ainda não li. O vi na feira da Aleph, mas comprei outros. Do K.Dick eu li Androides, O homem do castelo alto e realidades adaptadas. Não reclamo de nenhum.
        Espero por novas análises, man. 👍

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      2. Tenho outros dele, estão na fila para serem lidos. Esse autor é muito bom!
        Eu adoraria visitar essa feira, pena que moro bem longe…
        Fique ligado no blog, sempre sairá uma nova análise!

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  2. Ainda não li nada dele rs mas gostei bastante da história pelo que você descreveu é igual a série Black mirror, gosto muito de livros que nos levam a um questionamento sobre a humanidade,e essas capas são um colírio para os perfeccionista kkkk ótima resenha 😘

    Curtido por 2 pessoas

    1. Essas capas são bonitas de longe, ou em tamanhos reduzidos, até para dar o efeito visual esperado. Mas é algo bem perfeccionista mesmo! 😂
      Eu gostei muito do livro e essa parte do questionamento enriquece muito a leitura, e é bem em um nível filosófico mesmo. Recomendo, acho que você vai gostar bastante. Um autor que merece ser conhecido!
      Obrigado pela visita.
      Abraço!

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      1. Pelos comentários dos roteiristas da série, antes de cada conto, há algumas diferenças notáveis entre o livro e a série. Alguns dizem que mantiveram a essência e tal, isso já basta para saber que não foi uma adaptação tão fidedigna. Mas só assistindo para saber!

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  3. Alan, você disse que gostaria de viajar por aqui. Eu digo que gostaria de ler ao menos metade das indicações de suas resenhas. E o tempo diz para nós todos o que devemos e podemos fazer. “Tempo, tempo, tempo, tempo, é um dos deuses mais lindos” o qual precisamos contemplar. Abraços 🙋🏽‍♀️

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    1. O tempo nos limita de certa forma, então somos obrigados a escolher fazer aquilo que mais nos satisfaz. É cruel, de certo modo, pois deixamos de fazer muita coisa. Mas a vida é assim, não dá para ter tudo, assim como não dá para fazer de tudo. Afinal, somos um só.
      Fico muito grato em saber que gosta das resenhas, espero que consiga arranjar tempo para ler alguns dos livros que já indiquei por aqui, inclusive esse do post, que é muito legal!
      Obrigado pela visita.
      Grande abraço. 🙂

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    1. Ainda não leu nenhum livro desse autor? Olha, recomendo muito esse livro, será um bom começo. Não é uma ficção científica hard, cheia de detalhes científicos. Como eu falei aí na resenha, parece que a ficção científica é um pano de fundo para a filosofia de PKD. Isso deixa a leitura mais gostosa.
      Compre sem medo de errar.
      Obrigado pela visita e pela confiança na resenha!
      Abraço.

      Curtido por 1 pessoa

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