Neurose e psicose, segundo Freud

Anthony Perkins em Psicose
Anthony Perkins em Psicose (1960). Imagem via IMDb.

Freud estudou a fundo a neurose e suas várias formas, assim como a psicose, suas causas e características. É importante ficar claro que, toda pessoa “normal”, para a psicanálise, está na zona da neurose, porém vivendo em equilíbrio, com seu aparelho psíquico (id, ego e superego) funcionando de maneira harmoniosa entre si e o exterior. Situações patológicas surgirão quando haver um desequilíbrio.

Na neurose, temos um conflito entre o ego e o id, já na psicose esse conflito ocorre na relação entre o ego e o mundo externo.

A origem das neuroses transferenciais está no recuo do ego a aceitar um poderoso impulso do id, ou de o ego tentar proibir esse impulso, através do mecanismo de defesa da repressão. Esse material reprimido cria para si uma representação substitutiva, que é o sintoma. No fundo, o ego empreende essa repressão seguindo ordens do superego, que têm origem no mundo externo.

Em um caso de psicose, o mundo exterior não é percebido. O ego cria um novo mundo externo e interno, que são baseados nos impulsos e desejos do id, tendo como motivo uma grande frustração.

Toda psiconeurose e psicose originam-se a partir de uma frustração da infância, que nunca foi vencida e está profundamente enraizada. O conflito entre o ego tentar permanecer fiel à sua dependência do mundo externo, tentando silenciar o id, ou o ego deixar-se vencer pelo id, assim rompendo com a realidade, são fatores que o efeito patogênico vai depender.

O que diferencia uma neurose de uma psicose é o fato de que, na neurose, o ego está dependente da realidade e suprime os desejos do id; já na psicose, o ego se afasta da realidade, atendendo ao desejo do id. O que predomina em uma neurose é a influência da realidade, evitando sua perda. Numa psicose o id é que predomina, é há, necessariamente, a perda da realidade.

Uma neurose surge de uma repressão fracassada, como, por exemplo, a causa da “cena traumática” é conhecida, entretanto negamos a experiência, “esquecendo-a”, a reprimindo.

Tanto na neurose, quanto na psicose, há uma tentativa de reparação que sucede à primeira reação introdutória. Ambos servem ao poder do id, que não se deixa ditar pela realidade. Na psicose a transformação da realidade acontece a partir de precipitados psíquicos de antigas relações com ela.

Nos dois casos há uma tarefa malsucedida na segunda etapa. Entretanto a ênfase é diferente. Na psicose ela ocorre na primeira fase, o que só conduz à enfermidade. Na neurose ela recai sobre a repressão fracassada, sendo que a primeira etapa pode ser bem-sucedida, permanecendo nos limites de saúde.

Mesmo que a distinção pareça clara, há a tentativa de substituição da realidade tanto na neurose, quanto na psicose, que procuram substituí-la por uma realidade que está de acordo com os desejos do sujeito. Isso ocorre, pois, há um mundo de fantasia, que se separou do mundo externo quando ocorreu a introdução do princípio de realidade.

Nota-se que não se trata apenas da questão da perda da realidade, mas também sobre o fato da tentativa de encontrar um substituto para essa realidade, em ambos os casos.

Referência Bibliográfica

FREUD, S. Obras completas – volume XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Alan Martins

*A discussão sobre Neurose e Psicose é bem ampla e hoje diversas teorias possuem definições e explicações diferentes sobre esses dois assuntos. Este post é apenas um resumo da visão de Freud (psicanalítica) contida em um capítulo do volume XIX de suas obras completas, na edição da editora Imago.


Parceiro
Amazon banner livros universitários
Clique e confira grandes descontos!

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

15 pensamentos

    1. Bastante, principalmente a psicanálise freudiana, que é bastante literária, no sentido de ler seus textos, o que mexe muito com nosso imaginário, além das maneiras que aborda os assuntos. Não pretendo ser um psicanalista, mas gosto de alguns conceitos definidos por Freud. Ele viu muita coisa que ninguém havia visto até então e teve coragem de dizer coisas que eram grandes tabus. Ele merece respeito!
      Fico feliz que tenha gostado do texto! 😀
      Abraço.

      Curtido por 1 pessoa

    1. Muito bom dia (aqui) e boa tarde (aí). 😀
      Dentre aquelas abordagens com as quais já tive algum contato, fico com a freudiana mesmo, já que é a raiz dessa área, além de abranger muita coisa. Claro, muita coisa já evoluiu desde então (como atendimento psicanalítico de crianças, algo que Freud não era muito fã), mas é a que eu mais compreende e me identifico. Melanie Klein também vi bastante na faculdade, porém não me interessou, não é uma visão que me faz tanto sentido assim, muito menos Lacan (bem filosófico) ou Winnicott. Fico com Freud!
      Conhece as que citei?

      Curtido por 1 pessoa

      1. É óbvio que o meu interesse, como sou de humanidades (letras) e não segui psicologia, centra-se mais no aspecto filosófico e, até, artístico. Por isso, é muito interessante reparar que, depois de conhecer Freud e outros, o nosso olhar sobre as vanguardas artísticas do início do séc.xx e por aí em diante, fica mais aguçado 😀 . Também noto isso no cinema. A estrutura da casa do filme Pshycho, por exemplo, surge tal como o id, super-ego e ego. Mas acredito, independentemente da vertente, que a flexibilidade é muito importante e nenhum autor deve ser encarado como um dogma 🙂 , se não estávamos também tramados se não houvesse a tal evolução dos conceitos desde Freud. Resto de uma boa semana e abraço!!

        Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário