Minhas Leituras #55: Sobre a morte – Arthur Schopenhauer

Livro Sobre a Morte Arthur Schopenhauer

“A morte vista de outras maneiras”

Título: Sobre a morte: pensamentos e conclusões sobre a ultimas coisas
Autor: Arthur Schopenhauer
Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2013
Páginas: 112
Tradução: Karina Jannini
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“E o fato de a vida, como todos sabem, não ser brincadeira permite concluir que a morte é coisa séria.” (SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre a morte: pensamentos e conclusões sobre a ultimas coisas. WMF Martins Fontes, 2013, p. 6)

Um tema muito recorrente ao ser humano é a morte. Existem diversas explicações para esse fato que chega a todos, desde religiosas, históricas, filosóficas, etc. Muitos foram os filósofos que abordaram a morte, dentre eles está Arthur Schopenhauer, com ideias bem fundamentadas e atraentes; uma nova forma de encarar o fim.

Filosofia influente

Durante sua vida, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer tentou ser bem-sucedido em diversos campos, porém nunca conseguiu um real sucesso. Na verdade, apenas após sua morte é que seu trabalho recebeu a devida atenção, tornando-se inspiração para grandes nomes como Friedrich Nietzsche, Liev Tolstói, Machado de Assis e Thomas Mann (para citar alguns).

Hoje é considerado um dos grandes filósofos do século XIX, com seu trabalho influenciando não somente a filosofia, mas também a literatura, a psicologia e diversas outras ciências. Muitos afirmam que ele foi um niilista, um pessimista; na verdade é bem difícil tentar classificá-lo. Abordou diversos temas, como a moral, a ética, a metafísica, a psicologia, a vida e a morte. Sua obra é vasta em temática.

Tentou ser professor universitário, mas sempre falhou. Viveu boa parte de sua vida com a herança de seu pai, um homem de negócios, com quem Schopenhauer trabalhou por um tempo. Talvez, com o devido reconhecimento em vida, a obra desse grande filósofo poderia ter sido ainda mais ampla e grandiosa. Mas o tempo, na maioria das vezes, traz alguma justiça.

“Por certo, se nosso olhar tivesse a profundidade suficiente, concordaríamos com a natureza e também veríamos a morte ou a vida com tanta indiferença quanto ela.” p. 15

O que é a morte?

Ao longo do livro, composto por diversos textos do autor que falam sobre a morte, procurar um sentido para esse fato é um dos objetivos. E não são poucas as ideias de Schopenhauer.

Ele diz que a vida é a travessia de uma montanha. Quando nascemos, estamos em sua base. Começamos a subida, sabendo que, após o cume, chegaremos à reta final. Entretanto, ainda não nos preocupamos com isso; é apenas depois do cume que podemos avistar a morte e começamos a nos preocupar com ela. E eis o motivo desse assunto nos causar arrepios: porque, diferente dos animais, nós, seres humanos, pensamos de forma abstrata. Um animal só nota a morte quando ela é eminente, diferente de nós, pois sabemos, de antemão, que um dia morreremos. E essa é a origem de nossas crenças, religiões e filosofias.

Vida e morte não são coisas distintas, a morte é parte da vida. Seria errado ver o fim como algo ruim, uma punição ou uma perda. Schopenhauer afirma que deveríamos morrer felizes, sabendo que nosso dever, o de viver, foi cumprido. Um final concreto só pode ser levado em conta se pensarmos que somos criados do nada. Do nada viemos e para o nada iremos. Mas ninguém possui lembranças sobre o que havia antes da vida, e ninguém poderá contar o que vem depois. Schopenhauer não fala sobre um verdadeiro final, porém acreditava que voltaríamos ao mesmo “lugar” no qual estávamos antes da vida.

“Contudo, para quem considera o nascimento do homem seu início absoluto, a morte deve ser seu fim absoluto.” p. 49

Pessimista, mas nem tanto

Ler um texto afirmando que Schopenhauer foi um filósofo pessimista pode nos fazer pensar que suas ideias eram negativas. Não é bem assim, não se trata de um pessimismo ao pé da letra. Ao contrário, a visão desse autor sobre a morte é reconfortante e otimista.

Aquilo que termina com a morte é apenas o organismo, o intelecto individual, que possui a vontade de viver (com certeza uma inspiração para a ideia de pulsão de vida e pulsão de morte de Freud). Antes de indivíduo, o ser humano é espécie e esta não termina com a morte de um indivíduo.

Essa seria uma ideia de vida eterna, perduramos enquanto espécie; após a morte orgânica o mundo continua o mesmo que era antes de nascermos, as pessoas continuam com as mesmas indagações. Talvez essa seja nossa missão em vida, manter vivo o intelecto coletivo, a espécie humana; por isso, ao final, Schopenhauer nos diz para estarmos felizes, com o sentimento de dever cumprido.

“[…] nossa vida deveria ser considerada um empréstimo recebido da morte; o sono seria, então, o juro diário desse empréstimo.” p. 35

Sobre a edição

Edição simples. Brochura, capa com orelhas, miolo em papel de coloração off-white e de boa gramatura (para dar volume ao livro, que possui poucas páginas), margens e diagramação de bom tamanho.

Tradução de qualidade, um trabalho de Karina Jannini, tradutora experiente, que cita Schopenhauer como um de seus autores favoritos. A tradução passou pela revisão técnica de Daniel Quaresma Figueira Soares, atualmente pós-doutorando no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.

Os textos contidos nessa edição foram organizados pelo historiador alemão Ernst Ziegler, que também escreveu uma introdução à obra. Ele prestou uma homenagem a Franco Volpi, filósofo e historiador italiano que organizou diversas obras póstumas de Schopenhauer. Trata-se, com certeza, de uma edição produzida com muito zelo e qualidade.

“Na realidade, apenas as pequenas mentes limitadas temem seriamente a morte como seu aniquilamento, enquanto os espíritos de fato privilegiados estão inteiramente distantes de sentir semelhantes temores.” p. 16

Conclusão

Livro de leitura fácil, pois foi organizado para ser assim. Excelente introdução aos pensamos de Schopenhauer, abordando um tema que fascina e sempre fascinará o ser humano. A morte guarda diversos segredos e a filosofia é um caminho para desvendá-los. Ler obras desse tipo só pode contribuir para o conhecimento do leitor, ampliando os horizontes. Edição de qualidade, com um grande zelo pelo seu conteúdo. Schopenhauer é um filósofo que todos deveriam conhecer, pois suas ideias podem ser encontradas em diversas áreas e ajudaram a fundamentar muitas teorias. Ademais, esse é um livro bem curto, de leitura rápida e gostosa.

“A morte apazigua totalmente a inveja; a velhice já o faz pela metade.” p. 53

Minha nota (de 0 a 5): 4,5

Alan Martins

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

14 pensamentos

    1. Não tenha medo de encarar esse livro. A linguagem é simples e sem explicações diretas. Ele vai logo ao ponto, sem enrolações. Foi organizado de forma que qualquer pessoa pudesse lê-lo e apreciá-lo. Vá sem medo!
      Obrigado pela visita.
      Abraço.

      Curtido por 1 pessoa

  1. “Schopenhauer afirma que deveríamos morrer felizes, sabendo que nosso dever, o de viver, foi cumprido.”. Gosto dessa forma de encarar a vida. Gostei da análise e da indicação. Vai entrar para a minha lista de leituras (preciso ler mais os textos de filósofos e pessoas inteligentes, sinto-me burro. lol). Abraços!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Esse é um ótimo conselho para a vida, começar a encarar a vida como algo valioso, viver feliz e, se o tempo terminar, aceitar, afinal fizemos algo de bom em nossa vida, ao menos alguma coisa.
      Acho que deveria ler esse livro sim, é muito bom, você vai curtir.
      Obrigado. Grande abraço!

      P.S. Não se sinta burro, você não é, com toda certeza! Seu humor prova isso.

      Curtido por 1 pessoa

  2. esse livro de Schopenhauer é daqueles que, quando o li (já tem muito tempo) me fez cruzar uma linha sobre o destino: me fez pensar mais na vida que na morte, o inevitável que, muito em função da leitura, deixei de lado. talvez devesse reler, agora em que o meu tempo cruza uma outra linha da vida. gostei muito do post. um grande abraço, Alan.

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    1. E por pensar e se preocupar muito na morte, o inevitável, deixamos de aproveitar esse tempo que nos é concedido, a vida, com coisas mais interessantes e produtivas. Esse é um tipo de livro que, depois de lido, nunca mais nos esquecemos de seu conteúdo.
      Acredito que agora, você lerá com outra visão, vai ser interessante.
      Obrigado pela visita.
      Grande abraço e um ótimo domingo.

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