
O luto é uma experiência universal. Está incluso na classificação da 4ª edição do Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-IV) no eixo relativo à avaliação global de funcionamento. Também foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), na categoria Z, de exame geral e investigação de pessoas sem queixas ou diagnóstico relatado. Os estudos sobre o tema ainda são poucos se comparados a outros quadros de saúde mental.
Uma pessoa pode manifestar diversos sinais e sintomas em relação à perda, tanto cognitivos, emocionais, comportamentais ou físicos. Por isso deve-se tomar cuidado no diagnóstico diferencial entre luto e quadros de depressão. Os clientes enlutados apresentam maior vulnerabilidade a problemas psicossomáticos.
O caso
Silva e Nardi apresentam um caso de tratamento de luto. A cliente foi uma mulher de 28 anos de idade, casada, que perdeu o filho mais velho, de 7 anos, em um acidente. Ela apresentava bom relacionamento com o marido antes do acidente, porém brigas começaram logo após. Distanciou-se de amigos e não consegue voltar ao trabalho. Relata dores no estômago, náuseas, dores no peito e dores de cabeça. Já se consultou com três médicos diferentes antes da psicoterapia, porém nenhum encontrou qualquer problema orgânico. Há, ainda, o relato de choro e acessos de raiva.
Procedimento
Utilizou-se para a avaliação do progresso do tratamento as escalas de autorrelato Beck Anxiety Inventory (BAI), Beck Depression Inventory (BDI) e Beck Hopelessness Scale (BHS), que medem, respectivamente, intensidade de ansiedade, depressão e desesperança. O Questionário de Saúde Geral de Goldberg (QSG), que identifica a gravidade de distúrbios psiquiátricos menores, também foi utilizado. Fez-se uso de alguns testes, como o teste de Atenção Concentrada (AC) e Atenção Sustentada (AS), que avaliam a concentração e a capacidade de manter a atenção em uma tarefa ao longo do tempo.
Foram realizadas 12 sessões, com intervalos de 1 semana, durante 3 meses. O enfoque foi a terapia cognitivo-comportamental, através do protocolo para casos de enlutamento, que visa a valorização do aprendizado de novas habilidades, possibilitando a readaptação do sujeito ao seu ciclo de vida.
Um esclarecimento sobre as fases de luto e sobre como as alterações cognitivas, fisiológicas e comportamentais consideradas comuns nesse período, foi feito através da função psicoeducativa, com o intuito de reduzir os níveis de ansiedade. Utilizou-se técnicas para o controle da ansiedade e da depressão em momentos agudos. Depois, trabalhou-se a resolução de problemas pendentes entre o sujeito e o ente perdido. O último bloco buscou proporcionar a readaptação à vida cotidiana.
Resultados
Os resultados obtidos mostraram uma redução da ansiedade, que era considerada grave no começo, passando para leve ao final do tratamento. A depressão passou de grave para moderada, porém com um grande avanço. A desesperança foi de moderada a leve. Ainda houve uma melhora nos níveis de concentração, acarretado pela diminuição da ansiedade e depressão. Os fatores orgânicos também apresentaram melhoras, diminuindo problemas relacionados ao sono e problemas psicossomáticos. A confiança também apresentou avanço.
Apesar da escassez de protocolos terapêuticos padronizados com eficácia comprovada dirigidos a perdas de filhos, o tratamento mostrou-se efetivo, colaborando para uma melhora de vida e facilitando a reinserção social da cliente. Além disso, esse estudo amplia os limites da terapia cognitivo-comportamental, com a abertura de novas áreas para trabalhos.
Referência Bibliográfica
SILVA, A. C. de O. e; NARDI, A. E.. Luto pela morte de um filho: utilização de um protocolo de terapia cognitivo-comportamental. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul, 32-3, p. 113-116. 2010.
Alan Martins
Parceiro

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Muito bacana saber que um quadro tão crítico assim pôde ser revertido, e à mulher foi devolvida a esperança de melhora.
Aí está a importância da Psicologia na sociedade em que vivemos.
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Com uma psicoterapia bem aplicada, é possível trazer uma melhora muito grande em diversos quadros, melhorando a qualidade de vida da pessoa. Às vezes não se chegará à cura, não 100%, mas a mudança que surge é muito grande, já faz uma grande diferença na vida da pessoa.
Obrigado pela visita.
Abraço. 🙂
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Bacana! Seu post é muito explicativo, gosto de compreender mais sobre procedimentos terapêuticos. Abçs.
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Fico feliz em saber que o texto ficou explicativo, apesar de uns termos técnicos. Mas é sempre bom elucidar sobre o funcionamento de uma terapia, para mostrar que não há segredo, nem magia, são todos procedimentos técnicos e baseados em teorias. É uma maneira de sanar dúvidas.
Obrigado pela visita.
Abraço! 🙂
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Fernando pense nele com carinho e faça uma oração deixando ele ir. Sei que para quem está de fora pode ser fácil de opinar. Todos nós temos o nosso tempo aqui na Terra e a única coisa a ser feita é aceitar. E como o Alan disse talvez a Terapia pode te ajudar nesse processo. Um abraço
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uma questão delicada. como já havia comentado com você, esses textos prefiro ler a comentar. todavia, continuo em um processo de luto que parece não cessar, que é perda do meu irão. pouco mais de um ano. a do meu pai, um pouco mais, três anos, de alguma maneira está pacificada. usei a razão, depois de um tempo, percebi que é natural os mais velhos partirem antes. com o meu irmão, ao contrário, é uma pessoa com a idade próxima da minha. eis uma das questões que afligem e agravam a perda. converso com um psiquiatra sobre isso. e os meus momentos de tristeza não cessam, no entanto quem me conhece diz que estou depressivo. não me sinto assim. me sinto triste, todavia levo a vida, vivo a vida, crio textos, fotografias (a propósito, d´uma chegada no chronosfer2.wordpress.com e olha o café da manha que está lá), etc. enfim, teu texto é muito elucidativo e importante. estar atento é mais ainda. um grande abraço, Alan.
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Uma situação delicada, com toda certeza. Além de que a experiência do luto é diferente de pessoa para pessoa. Há quem consegue lidar com mais facilidade, outros não, em alguns pode afetar diversas questões da vida. É bom saber que sua experiência não o atrapalha em seus afazeres, ficando no campo da saudade, melancolia. O tempo pode resolver, claro que com ajuda, a do seu psiquiatra por exemplo. Uma terapia breve (3 meses) é muito eficiente em casos assim, principalmente a cognitivo-comportamental, podendo ajudar bastante a pessoa a passar por esse momento, que todos passam em algum momento de perda.
Vou dar uma olhada nesse café da manhã; aliás o meu hoje foi bem ruim, feito com pressa.
Obrigado por compartilha sua experiência.
Grande abraço.
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