Minhas Leituras #45: Primeiro amor – Ivan Turguêniev

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“O primeiro amor, aquele que te deixa de joelhos”

Título: Primeiro amor
Autor: Ivan Turguêniev
Editora: Penguin-Companhia das Letras
Ano: 2015
Páginas: 112
Tradução: Rubens Figueiredo
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“Isso é a paixão!… Como não se rebelar, como suportar um golpe de qualquer mão que seja!… Mesmo da mão mais querida! Mas parece que é possível, quando se ama…” (TURGUÊNIEV, Ivan. Primeiro amor. Penguin-Companhia das Letras, 2015, p. 103-104)

Quem nunca se apaixonou pela primeira vez? Você se lembra de como se sentiu, as novas sensações que experimentou? É sobre isso que Ivan Turguêniev escreve nessa novela, dentre toda sua obra, uma das mais cultuadas.

Reconhecido em vida

Diferente de outros escritores russos de sua época, Turguêniev teve seu reconhecimento literário ainda enquanto era vivo, não apenas depois de morto. Foi o primeiro autor russo a ser traduzido na Europa, o que prova esse reconhecimento.

Possuía grande habilidade em escrever novelas (textos mais longos do que contos, mas menores do que um romance), e muitos o consideram um mestre dessa fórmula. Jamais chegou a se casar, porém teve alguns affairs ao longo de sua vida, a francesa Pauline Viardot, por exemplo, uma das razões para o autor ter passado a viver metade do ano na Rússia e a outra metade na França.

Manteve amizade com grandes nomes da literatura mundial, como Gustave Flaubert, autor de ‘Madame Bovary’. Vladimir Nabokov o colocou em quarto lugar, em um ranking dos melhores autores russos do século XIX, à frente de Dostoiévski. Turguêniev faleceu em 1883, aos 64 anos. Dentre suas obras mais conhecidas, também podemos citar o romance ‘Pais e filhos’ e a coleção de contos ‘Memórias de um caçador’.

“— Mas de que serve a nobreza, se não há o que pôr na mesa?” p. 38

Lembranças de um amor

Após uma festa, três conhecidos estão sentados à mesa, conversando. O tema dessa conversa é o primeiro amor de cada um. Os dois primeiros não conseguem desenvolver uma história interessante, mas o terceiro sim, porém ele prefere escrevê-la e apresentar aos seus companheiros de mesa quando terminá-la. E assim o faz.

Esse homem é o protagonista da novela, Vladímir Petróvitch, que conta como o amor surgiu pela primeira vez em sua vida. Filho de uma família abastada, o jovem rapaz, então com dezesseis anos, se encanta por uma garota que havia se mudado para uma casa aos fundos da propriedade de seus pais.

Zinaida era o seu nome, uma jovem pobre, muito bonita e cheia de classe, filha de uma mulher detentora do título de princesa, mesmo vivendo em uma situação muito diferente (qual a serventia da nobreza quando não há o que comer?).

Ao longo da narrativa, o amor do protagonista só cresce, de forma inocente, submissa e jovial, experimentando sensações jamais vividas. Entretanto, Zinaida gosta de brincar com os homens, sendo manipuladora, aproveitando todo o seu charme para conseguir deixá-los a seus pés. Dessa forma, esta não é apenas uma história de amor, tornando-se também uma história sobre desilusão, além de possuir um final que surpreende. A pergunta que se torna recorrente a Vladímir é “Quem será o verdadeiro amor de Zinaida?”. A resposta irá chocá-lo.

“Meu coração dava pulos; eu estava muito envergonhado e alegre: sentia uma emoção que nunca experimentara”. p. 21

Uma história sobre sentimentos

Por se tratar de uma novela, ou seja, um texto curto, não há uma grande construção de personagens, nem muitos detalhes. A narrativa é de poucos diálogos, se atendo mais aos sentimentos do protagonista, o narrador da história.

É possível observar algumas situações sociais da Rússia do século XIX através dessa obra, como as diferenças entre as classes sociais, como quando vemos o desprezo dos pais do protagonista pelas novas vizinhas, porém não temos críticas a isso. O foco do enredo são os sentimentos, em especial o amor, que é uma mistura de diversos outros sentimentos.

As descrições sobre os sentimentos do jovem Vladímir são precisas, realmente remetem à juventude, época de pouca experiência em questões do amor. A escrita de Turguêniev é muito bonita e direta, além de simples. Texto fácil e gostoso de se ler, dividido em diversos atos, como uma peça de teatro.

Existem algumas questões autobiográficas presentes nessa história. Assim como Vladímir, o autor teve uma juventude de boa situação financeira, sem precisar trabalhar, além de seus pais serem bem parecidos, um pouco distantes, frios e rígidos, idolatrados pelo filho (muito semelhante ao que Freud chama de falo).

“E Zinaida não parava de brincar comigo, como um gato brinca com um rato”. p. 54

Sobre a edição

Mais um livro da coleção de clássicos publicados pela parceria entre a Companhia das Letras e a Penguin Books. Quem conhece alguma obra dessa coleção sabe como as edições seguem um padrão estético, o que deixa a estante bonita. Edição brochura, capa mole, sem orelhas, páginas em papel Pólen Soft, com boa diagramação.

Tradução direta do russo, algo que a Companhia das Letras vem trazendo, o que é muito bom para os leitores, conhecer a obra o mais próximo possível do original. Rubens Figueiredo foi quem traduziu esse e diversos outros livros russos publicados pela editora. Já traduziu grandes autores como Tolstói, Tchékhov e Dostoiévski. Excelente trabalho de tradução, assim como o de revisão.

“É doce ser a única fonte, a causa absoluta e inquestionável de alegrias imensas e do desgosto mais profundo para alguém — e nas mãos de Zinaida eu era como cera mole”. p. 50

Conclusão

Leitura leve, gostosa e rápida. História que nos faz lembrar de nossas primeiras paixões, de quando não sabíamos nada sobre o amor, de nossa juventude. Para os padrões atuais, o enredo pode não parecer inovador, talvez um pouco batido, porém foi algo novo em sua época, e ainda pode surpreender. Um clássico da literatura russa, que é composta por diversos nomes de peso, e o de Ivan Turguêniev brilha entre os maiores, sendo um autor que merece ser lido e conhecido.

“E lembrei das palavras de Lúchin: é doce sacrificar-se pelos outros”. p. 97

Minha nota (de 0 a 5): 4

Alan Martins

P.S. Viu, Itanamara, eu também falo sobre livros de amor aqui no blog, não apenas de histórias de terror, coisas do cão! 😂😂😂

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Uma das capas mais bonitas dessa coleção!

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

20 pensamentos

  1. Comprei o livro recentemente, e espero lê-lo logo. A temática toda (justamente por estar apaixonado, e sofrendo horrores por isso no momento) me interessou bastante. De certa forma, remete ao filme ‘Perdas e Danos’, de 1992, com Jeremy Irons e Juliette Binoche.

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    1. 😂😂😂 Eu tenho que mostrar que não possuo só esse lado obscuro, que gosta do terror. Uma vez ela perguntou sobre os livros de amor, tinha que avisar quando tivesse um por aqui! 😂
      Eu gostei do livro e acho que você também vai gostar, recomendo sem pensar. Vale a pena!
      Obrigado pela visita.
      Grande abraço! 😀

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  2. Quando li o título “Primeiro amor”, falei: O quê? E imediatamente tive curiosidade para ler… Penso de desceu uma luz branca em você rsrs(Brincadeira). Me parece ser uma leitura leve, um pouco nostalgica, não um romance daqueles de amor eterno e tal, mas um livro que realmente merece ser lido…Me cativou , parabéns!😁👏🤗😋

    Curtido por 2 pessoas

    1. Hoje eu fui iluminado! 😂😜
      Não é mesmo uma história de amor eterno, até por isso se faz mais realista. É realmente sobre o primeiro amor, como o protagonista reage a essa situação, como lida com esse sentimento. Não espere um final feliz, nada disso, não é um conto de fadas.
      É um livro muito legal, leve e rápido de ler. Recomendo!
      Obrigado pela visita, é bom saber que gostou!
      Grande abraço! 😀 😀

      Curtido por 2 pessoas

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