Psicologia, medo e ansiedade

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Imagem disponível em: http://www.thenegativepsychologist.com/fear-2/.

Dia das Bruxas e medo caminham juntos. Quem é que nunca sentiu medo na vida? Este texto traz uma explicação sobre o sentimento de medo, na visão da psicologia comportamental.

O medo e a ansiedade são, muitas vezes, considerados sinônimos, entretanto o que os diferencia é a presença ou ausência de estímulos desencadeadores externos e o comportamento de evitação. Quando o desencadeador externo que provoca comportamento de fuga ou evitação é óbvio, considera-se medo; já a ansiedade é um estado emocional aversivo, sem desencadeadores claros, que não podem ser evitados.

As teorias das emoções consideram o medo uma emoção básica, presente em todas as idades, culturas, etnias e espécies; a ansiedade seria uma mistura de emoções, sendo o medo a predominante. Além disso, a ansiedade pode incluir tristeza, vergonha, culpa, ou cólera, curiosidade, interesse ou excitação.

Os percursos cerebrais que implicam a ansiedade e o medo em humanos ainda não são compreendidos, porém estudos em animais apontam que diferentes sistemas anatômicos e farmacológicos os desencadeiam.

A teoria bioinformacional das emoções possui uma visão integradora de ambas. As emoções seriam tendências ou disposições para a ação, assumida uma estrutura motivacional, variando entre a aproximação da fuga ou do apetite à defesa. De acordo com esse modelo, a emoção pode ser medida em três grandes sistemas de respostas: os comportamentos observáveis, a linguagem emocional e as reações fisiológicas. Podendo ser definidos: o que se faz, o comportamento; o que se pensa ou diz, a linguagem; e o que se sente perante uma ameaça real ou imaginada, a fisiologia.

Uma visão evolutiva visa compreender as causas para o desencadeamento dos variados tipos de medo, assim como seus padrões automáticos de reposta. O medo seria um meio de defesa para situações que aparentavam ameaças letais para o ser humano. Isso garantiu a sobrevivência da espécie, pois os que apresentavam comportamentos coerentes perante situações de risco, sobreviveram, enquanto os que falhavam, pereceram. Ademais, o medo pode aparecer ou desaparecer, de acordo com a fase de desenvolvimento, dando um caráter desenvolvimentista ao medo. Considera-se o medo um programa genético, aberto às influências do ambiente, os quais podem aumenta-lo ou diminuí-lo.

Hipoansiedade é o termo que se usa para designar pessoas com baixa e deficiente resposta a estímulos realmente ameaçadores, causados por perturbações de externalização, como perturbação antissocial da personalidade da idade adulta, ou a hiperatividade no início da infância. O oposto seriam perturbações da internalização, como ansiedade de separação com o início da infância, ou perturbações ansiosas na idade adulta.

Em casos de perturbações de alta ansiedade, os tratamentos mais eficazes são os farmacológicos, com o uso de benzodiazepinas, antidepressivos tricíclicos e os inibidores da recaptação da serotonina; e os psicológicos, sendo os procedimentos empíricos os que demonstram maior eficácia, como a terapia comportamental e a terapia cognitiva. A terapia comportamental tem o objetivo de modificar os comportamentos relacionados ao medo, a fuga e a diminuição da ativação fisiológica. Já a terapia cognitiva visa a alteração dos conteúdos e dos processos cognitivos relacionados ao medo, às interpretações catastróficas e à atenção. Essas duas intervenções, utilizadas em conjunto, podem trabalhar com dois percursos cerebrais do medo. Pelo percurso subcortical com a terapia comportamental, e pelo percurso cortical com a terapia cognitiva.

O modelo de intervenção é composto por três fases. Uma fase educativa, onde é enfatizada a necessidade de colaboração do paciente, onde os alvos do tratamento são estabelecidos. Na segunda fase ensina-se aptidões com a finalidade de eliminar os comportamentos de fuga, diminuir as repostas ansiosas, a ativação fisiológica e a alteração de padrões disfuncionais. Na terceira fase, temos o confronto sistemático com as situações ansiogênicas, buscando a diminuição dessas respostas e o aumento da autoeficácia. Os protocolos de tratamento são adaptados em caso de atendimento de crianças ou adolescentes, trazendo, também, um maior envolvimento da família ao tratamento.

Referência bibliográfica

BAPTISTA, A.; CARVALHO, M.; LORY, F. O medo, a ansiedade e as suas perturbações. Psicologia, 19-1-2, p. 267-277. 2005.

Alan Martins

→ Após esta breve explicação psicológica sobre o medo, aproveitando que hoje é Halloween, veja um conto de terror que escrevi há algum tempo, clicando AQUI.


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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

8 pensamentos

  1. Tens de ler o erro de descartes do António Damásio. A emoção que é, muitas vezes, descurada e tida como de somenos importância, também influi e imiscui-se na nossa tomada de decisões. A racionalidade (que também é boa) não trabalha em separado, mas em conjunto. Por isso é que a inteligência emocional é tão importante. O medo, como emoção que é, também faz parte da vida. Por vezes ajuda, como protecção, outras vezes atrapalha. Para ser resolvido quando é crónico e incomodativo , tem de ser encarado de frente, não pode ser escondido pela nossa vergonha 🙂 Não há que ter medo em sentirmos medo.

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    1. Vou procurar saber mais sobre este livro, me parece bem interessante!
      Realmente, o medo tem seu lado positivo também, ainda mais em um olhar evolucionista. Foi ele que garantiu nossa sobrevivência. É um assunto bem interessante. Viver sem temer o medo.
      Obrigado pela dica e pela visita. Abraço!

      Curtido por 1 pessoa

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