POEMA: A CADA DIA

Estou lendo ‘Diário do subsolo’, de Dostoiévski — esse que será o próximo post da sessão “Minhas Leituras”. Não é um livro alegre, nem muito positivo. O autor faz uma análise do subsolo que cada um de nós carrega. O protagonista do livro é muito crítico, passando a ver sua vida como algo banal, sempre com a mesma rotina, se calando, reprimindo suas vontades.

Essa brilhante obra do autor russo é uma das inspirações para esse poema. A vida rotineira que levamos é outra. Vivemos sempre postergando as coisas, dando importância àquilo que não deveria ser importante, deixando de lado o que realmente importa. O Futuro do Pretérito é o tempo verbal que mais conjugamos.

Aviso que esse não é um poema alegre, é até triste. Triste porque diz verdades, e verdades doem na maior parte do tempo. Mais do que tudo, são versos que lhe farão refletir sobre a rotina, sobre nossas ações e escolhas. Foge um pouco dos meus padrões, mas padrões sempre mudam (ou deveriam).

Espero que seja uma poesia que lhe agrade.


A CADA DIA

A cada dia, outro mas,
e o tempo se desfaz.
Oportunidade que não volta,
(o bater de uma porta).
Você não se importa?
De a cada dia,
dizer mais um faria?
Os fareis,
ficaram para a próxima vez,
metamorfoseando-se num talvez.
Outra promessa quebrada.
Achei que tivesse palavra!
A quem está tentando enganar,
dizendo que amanhã tudo irá mudar?
Pois o hoje é uma imitação do dia anterior.
Nem tente mentir, meu senhor!
Já o conheço, ó pecador.
Continue aí sentado,
com esse seu semblante embotado.
Sem demonstrar qualquer ação,
para sair dessa obnubilação.
Rotina o define,
por mais que o ensine,
nada o previne.
Seu futuro é o pretérito,
fato que não lhe traz mérito.
Conjugue o Futuro do Presente.
Ao menos tente!
Nem tudo é importante,
muita coisa é coadjuvante.
Porém o antagonista,
virou protagonista.
Mesmo que eu insista,
seria irrealista,
fazer com que você desista,
a mudar de pista.
Tudo corrido,
texto fluido.
Estrofe pra quê?
Representação de você.
Que nunca vê,
ficando à mercê.
Sua vida, cadê?

A cada dia,
Eu ia,
ia,
ia.
E jamais fui.

Alan Martins

poema_a_cada_dia
Imagem de Free-Photos. Publicada sob Licença (CC0 1.0)Licença (CC0 1.0). Disponível em: https://pixabay.com/photo-1081904/. Representando a rotina que sempre se repete nessa espiral.

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

24 pensamentos

    1. Eu terminei a leitura do livro e logo trarei a resenha. É um livro antigo e muito atual. Gostei bastante pelo conflito interno do protagonista, seu psicológico. Como estudo psicologia, o livro toca num tema que me interessa muito. Tentei usar o sentimento que a leitura me transmitiu no poema. Fico muito feliz que você tenha gostado, você que escreve lindos poemas. Sempre bom receber um elogio de outro artista. Obrigado!
      Grande abraço.

      Curtido por 1 pessoa

    1. Busquei fazer com que o poema fosse reflexivo, pensando sobre como somos levados a fazer coisas que não gostaríamos, deixando de fazer as que gostaríamos de verdade. Pelo jeito, ao seu olhar, consegui atingir esse objetivo, e isso é incrível. O livro é muito bom, muito triste também. Logo falarei sobre ele aqui no blog.
      Obrigado pelo comentário.
      Abraço.

      Curtido por 1 pessoa

    1. É prazeroso saber que meu poema conseguiu isso. Muito gratificante. Esse feedback me deixa muito feliz. Acho que declamado ficaria bacana, com ênfase em certas palavras.
      Muito obrigado pela visita e pelo seu comentário!
      Abraço. 😀

      Curtido por 1 pessoa

    1. Você sempre acompanha o blog, saber que esse foi o melhor poema até agora é muito legal! Seria difícil eu escolher um favorito, mas posso dizer que esse foi o mais diferente até então. Seu comentário me alegra muito. Obrigado!
      Abraço.

      Curtido por 1 pessoa

  1. “Diario do subsolo” é um livro dilacerante e mais de tudo, pelo menos para mim, um mergulho profundo em nossa alma. A prisão não física, a prisão que fruto de uma condenação emocional de nossa parte, que também é dilacerante. Um livro cuja leitura classifico como das “obrifatorias”. Seu poema é uma reflexão sobre a realidade dos nossos subsolos. Muito bom, Alan. Meu abraço.

    Curtido por 2 pessoas

    1. Está escrito na sinopse desse livro que “é um livro doloroso de ser lido”. Concordo com essa afirmação, é o que estou achando da leitura. Acho que captei um pouco disso do livro e passei para o poema. Quantas coisas prometemos e não cumprimos, a nós mesmos, não?
      Obrigado pelo comentário, sua presença é sempre importante aqui.
      Abraço!

      Curtido por 1 pessoa

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