Minhas Leituras #26: Solaris – Stanislaw Lem

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“Científico demais!”

Título: Solaris
Autor: Stanislaw Lem
Editora: Aleph
Ano: 2017
Páginas: 320
Tradução: Eneida Favre
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“O homem saiu para encontrar outros mundos, outras civilizações, sem saber nada sobre seus próprios recessos, ruas sem saída, poços e portas bloqueadas e escuras”. (LEM, Stanislaw. Solaris. Aleph, 2017, p. 239)

A Aleph, uma editora focada em livros de ficção científica, está repleta de lançamentos em 2017. Um desses lançamentos é o livro ‘Solaris’, do autor polonês Stanislaw Lem. Nessa obra, acompanhamos o psicólogo Kris Kelvin em sua visita ao planeta Solaris. Esta magnífica descoberta da humanidade guarda muitos segredos e pode marcar o primeiro contato do ser humano com a vida extraterrestre. Entretanto, as coisas não saem muito bem como Kelvin havia imaginado. Descubra um pouco mais sobre esse clássico da ficção científica, que possui um teor filosófico, além do especulativo.

Um autor ícone do gênero

O polonês Stanislaw Lem recebeu diversos prêmios pelas suas obras e outros de reconhecimento por sua contribuição para a literatura de ficção científica, entre eles o convite para ser um membro da Academia Polonesa de Ciências e um posto honorário na Science Fiction and Fantasy Writers of America (SFWA).

Faleceu em 2006. Deixou um grande legado com seus trabalhos especulativos para a robótica e sobre a comunicação com vida alienígena, sempre de maneira filosófica. Filosofia que foi retirada da maioria das adaptações de ‘Solaris’ para o cinema, sendo a versão hollywoodiana a mais recente, estrelada por George Clooney, lançada em 2002. Apesar do sucesso com o público, não foi um filme que agradou a Stanislaw, justamente pela grande distorção no enredo.

“[…] Onde não há seres humanos, lá também não há motivos acessíveis para o homem […]” p. 206

A busca pela vida alienígena

Narrada em primeira pessoa, a história começa com Kris Kelvin partindo em uma capsula rumo ao planeta Solaris — planeta esse que possui dois sóis e uma atmosfera corrosiva. Há uma estação espacial nesse planeta, onde diversos pesquisadores promovem o estudo desse lugar desconhecido, aparentemente inabitado. O estudo de Solaris é uma ciência própria: a solarística.

Kelvin se especializou no estudo da solarística e recebeu um convite de um cientista para ir até a Estação, para participar dos experimentos que lá acontecem. Porém, ao chegar no planeta, o que ele encontra é um local quase vazio, com sinais de abandono, apenas alguns pesquisadores estão presentes no local.

Algo de estranho está ocorrendo na Estação. Kelvin se vê no meio de uma situação surreal, que está mexendo com psicológico de todos os presentes no local. Dessa forma, o jovem psicólogo irá buscar descobrir o que está acontecendo nesse planeta misterioso, onde o único ser vivo, ao que parece, é um oceano — sim, um oceano que aparentemente é vivo.

“O oceano não fazia uso de máquinas nem as construía, embora, em certas circunstâncias, parecesse ser capaz disso, quando, por exemplo, copiava partes de alguns equipamentos nele submersos”. p. 43

Científico demais

Uma ideia original é sempre um grande trunfo de uma boa ficção científica. Como o próprio nome diz, há de se existir a ciência que justifique o enredo. Porém, no caso de ‘Solaris’, a ciência criada pelo autor para descrever o planeta e seu oceano, assim como esse novo ramo da ciência, a solarística, toma praticamente metade do livro.

Não há dúvida de que o autor merece todo o reconhecimento pela sua criatividade e por todo seu universo científico ricamente detalhado, ele realmente explica cada detalhe desse novo planeta descoberto pela humanidade e da biologia/fisiologia desse oceano. Mas é que, metade do livro é formada por arquivos científicos encontrados por Kelvin na Estação. São partes com muitas explicações, às vezes complicadas de entender, devido ao rico detalhamento.

A outra metade do enredo, focada no mistério que ronda a Estação, é muito interessante. Queremos descobrir o que está ocorrendo, afinal. Há alguns pontos de suspense dentro da trama, que são pontos muito fortes. Se esse suspense fosse mais trabalhado, o livro seria menos cansativo de ler, seria mais convidativo. Há um romance também, assuntos do passado de Kelvin, e um clima de tensão entre os cientistas presentes no planeta.

“— Um homem normal — ele disse. — O que é um homem normal? Aquele que nunca fez nada abominável? Sim, mas será que nunca pensou em fazê-lo? […]” p. 115

Teor filosófico

Apesar da alta carga científico/especulativa, há espaço para a filosofia dentro da trama. O que mais se debate aqui é aquilo que o ser humano desconhece, como ele se conhece tão pouco, mas mesmo assim pretende descobrir coisas externas a si. E como seria esse primeiro contato entre humanos e extraterrestres? Será que seria de maneira orgânica, entre seres humanoides? Ou talvez de uma maneira menos visível, um contato psíquico? Esses são alguns dos temas presentes neste livro.

Pelo protagonista ser psicólogo, seria esperado muito mais psicologia no enredo, porém não é bem assim. Há sim um embasamento freudiano, porém o que mais reina é a física e a biologia. Kelvin parece ser mais físico do que psicólogo. O real e o imaginário é outra parte importante nesse enredo, pois as personagens passam por momentos onde quase perdem a racionalidade. Essa é a parte que guarda o suspense, as poucas partes que brilham.

“A única salvação — fuga, explicação — seria o diagnóstico de paranoia. É isso: devo ter enlouquecido e isso aconteceu logo depois de aterrissar”. p. 80

Edição chamativa

A arte da capa é muito bonita e convidativa. Capa dura, visual maneiro, com as bordas das páginas pintadas de amarelo, deixando o livro muito estiloso. O papel das páginas é o Pólen Soft 80g, um papel espesso, difícil de amassar. A diagramação está boa, ótimo tamanho de fonte para a leitura. Por dentro, o visual também é muito lindo. O projeto gráfico ficou perfeito.

Eneida Favre traduziu o livro direto do idioma original, o polonês. Isso é muito bom, cada vez mais os livros no Brasil recebem traduções feitas a partir do idioma original. É uma tradução muito boa. Eneida foi competente em traduzir os diversos termos científicos que compõem a solarística. A revisão desempenhou um bom trabalho. Minha edição tinha uma palavra apagada em duas páginas, certamente defeito na impressão (culpa da gráfica). Porém isso não atrapalhou a leitura, dava para “adivinhar” qual eram as palavras faltando.

Concluindo

Prepare-se para se sentir dividido. Metade do livro é muito interessante, grande clima de mistério e suspense, fazendo as páginas virarem sozinhas. Na outra metade, você irá conhecer a história da solarística e diversos de seus teóricos, com grande detalhamento. Isso pode ser maçante para alguns, mas pode ser interessante para outros.

Se quisermos falar sobre a filosofia do autor, há livros com filosofias mais interessantes. O rumo que o autor tomou deixou o enredo chato, uma leitura que não diverte. Stanislaw Lem merece seu posto entre os grandes da ficção científica pela sua criatividade, por toda uma ciência criada em volta do planeta Solaris e de seu oceano misterioso. Porém, sua escrita, nesse caso, não foi das mais cativantes.

Minha nota (de 0 a 5): 2,5

Alan Martins

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A Aleph está caprichando no projeto gráfico de suas publicações.

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

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