Minhas Leituras #22: Fantasmas do século XX – Joe Hill

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“Uma engenhosa coletânea de contos”

Título: Fantasmas do século XX
Autor: Joe Hill
Editora: Sextante
Ano: 2008
Páginas: 288
Tradução: Fernanda Abreu
Veja o livro no site da editora: http://www.editoraarqueiro.com.br/livros/fantasmas-do-seculo-xx-esgotado/

Toda ficção era um faz-de-conta, o que tornava a fantasia mais válida (e mais honesta) do que o realismo. (HILL, Joe. Fantasmas do Século XX, Sextante, 2008. In: O melhor do novo horror, p. 24

A citação acima fala um pouco sobre o livro. Essa é uma coletânea com 17 contos do autor Joe Hill, seu primeiro livro publicado. Apesar do título remeter mais ao terror, pois nos faz pensar em fantasmas, não se trata de histórias aterrorizantes, que te deixarão com medo. O gênero fantasia é mais forte que o horror aqui. Temos uma ampla gama de estilos, temos uma história de fantasma, outra sobre sequestradores, sobre psicopatas com poderes especiais, sobre a vida em família, um escritor excêntrico; enfim, são contos bem diferentes uns dos outros, deixando o livro mais dinâmico, menos repetitivo. E, para quem não sabe, Joe Hill é filho de um autor muito famoso. Continue lendo e descubra mais sobre o autor e essa obra.

Filho de peixe…

Joseph Hillstrom King é o verdadeiro nome do autor. Vamos dar uma de detetive: gênero horror, o cara tem King no nome… será que é o filho do Mestre? Exatamente! Joe Hill é um dos filhos do grande Stephen King, mestre do horror. Até por isso vemos que seus livros são sobre horror, fantasia e mistério, o pai teve muita influência em sua arte.

Porém, Joe resolveu não adotar o nome King em suas publicações, para evitar comparações com o pai e para não fazer fama às custas do pai famoso. No começo até funcionou, ninguém sabia que ele era filho do velho Stephen (até hoje tem gente que não sabe), porém, assim que seus livros fizeram sucesso, sendo best-sellers, a história do autor se tornou pública e seu segredo vou revelado.

Seria injusto comparar Hill a seu pai, pois, apesar de escreverem o mesmo gênero da literatura, eles possuem muitas diferenças entre si. O filho possui escreve no forma mais moderna, mais influenciada por histórias em quadrinhos (ele trabalhou nessa área), já seu pai escreve como se estivesse produzindo um filme e de certa forma é mais realista, enquanto o filho é mais fantasioso. Há espaço para os dois no mercado e um não precisa do outro para fazer sucesso, são dois grandes escritores. Porém, a influência do King sobre Hill é inegável (se meu pai fosse famoso assim, eu também me inspiraria nele).

“[…]não deve haver muitas oportunidades para os jovens que tentam a sorte no beisebol, nem para as mulheres de meia-idade que se casam com as pessoas erradas, nem para aqueles que nunca estão felizes com o que fazem porque só conseguem pensar que o mundo não pode lhes oferecer algo melhor, nem, na verdade, para nenhum de nós”. In: Melhor do que lá em casa, p. 116

Contos engenhosos

Existem coletâneas de contos que possuem histórias muito boas e outras nem tanto, uma leitura de altos e baixos. Esse não é o caso de ‘Fantasmas do século XX’, nenhum dos contos é entediante, apensar de haver contos melhores que outros, a leitura não fica enfadonha, não é necessário fazer esforço para avançar.

Como foi dito no início, não são contos que dão medo. Na verdade, alguns são até bonitinhos, falando sobre amizade, sobre a família, ou sobre o amor. Todos são, de certa forma, um pouco viajados, com elementos fora do comum, que tiram as histórias do realismo e as colocam no mundo da fantasia. Temos a história de um rapaz que acorda e se vê transformado em um grilo gigante (certamente inspirado em ‘A metamorfose’, de Kafka). A história mais realista é sobre a amizade entre dois meninos, o amor entre amigos, porém, um deles é um boneco inflável com vida. O último conto, ‘Internação voluntária’, é o maior deles e o mais criativo. Temos uma história que começa de maneira comum, sem nada demais, porém se transforma, no decorrer da leitura, em algo fantástico.

Quem já conhece o autor, pode notar algumas semelhanças entre os contos e seus romances publicados (4 no total). Os contos possuem momentos de reflexão, com boas passagens. A escrita é moderna, mais próxima dos mais jovens. Temos aqui um autor que, já é bastante famoso, mas que fará ainda mais fama.

“[…]pensou em como os jovens eram feridos pelo amor, corpos inocentes dilacerados e destruídos sem motivo exceto a conveniência de que alguém que um dia os havia amado”. In: Encurralado, p. 157

Edição esgotada

Até o presente momento, esse livro encontra-se esgotado nas livrarias e no site da editora. Só é possível encontrá-lo em sebos, como no Estante Virtual. Vai valer a pena a compra do livro usado, que se encontra a preços bem acessíveis.

Sobre a edição, digamos que ela não apresenta nada de especial. Brochura, capa comum, com orelhas, papel off-white, que ajuda em leituras longas. As margens são mínimas, com fonte de tamanho um tanto quanto pequeno (certamente para economizar papel). Há alguns erros ortográficos que a revisão deixou passar e algumas palavras que parecem estar faltando. A tradução está boa, Fernanda Abreu é uma tradutora experiente e sempre presente nos livros da editora Sextante/Arqueiro (ela traduziu os livros mais recentes de Dan Brown e outros de Joe Hill). Uma pequena crítica vai para algumas palavras escolhidas por ela, que parecem estranhas no contexto da história, para a escrita do autor. Um ponto positivo para a questão interna do livro é o capricho de no cabeçalho de cada página haver o nome do livro e o nome do conto em questão.

“É uma boa lembrança, aquela velha gaivota flutuando acima do campo sem ir a lugar nenhum, simplesmente suspensa no mesmo lugar, com as asas abertas, sem nunca chegar mais perto de aonde quer que esteja indo. É uma boa lembrança para se ter na cabeça. Todo mundo deveria ter uma lembrança igualzinha a essa”. In: Melhor do que lá em casa, p. 124

Por fim

Quem conhece o autor e ainda não leu ‘Fantasmas do século XX’, é interessante tentar obter o livro. Temos contos de qualidade, que certamente irão entreter, podendo entreter mais que alguns de seus romances. Quem nunca ouviu falar em Joe Hill, este é um bom início, vai despertar a curiosidade para se conhecer melhor o autor e suas obras. Claro que nem todos os contos são esplendidos, nem vão agradar a todos, mas todos são interessantes, de leitura agradável. A disponibilidade dos contos (a forma como foram organizados), deixa a leitura do livro mais dinâmica e agradável. Há um conto extra no final do livro, Hill quis deixar um presente ao leitor. Um livro recomendado.

“No final das contas, as pessoas em geral acabam conseguindo o que querem em quantidade um pouco maior do que conseguem administrar, não é?” In: Internação voluntária, p.250

Obrigado pela leitura e pelo interesse. Um grande abraço.

Minha nota (de 0 a 5): 4

Alan Martins

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

10 pensamentos

  1. Ainda não li nada desse autor(Joe Hill) Porém, é provável que futuramente, irei ler algo relacionado a romance e não a fantasma. Gostei do teu texto, como sempre, muito bem explicado.

    Curtido por 1 pessoa

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