Minhas Leituras #20: Caixa de pássaros – Josh Malerman

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“Josh Malemá

Título: Caixa de pássaros
Autor: Josh Malerman
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 272
Tradução: Carolina Selvatici
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Num mundo onde não podemos abrir os olhos, uma venda não é tudo que temos para nos defender? (MALERMAN, Josh. Caixa de pássaros. Intrínseca, 2015, p. 93)

A editora Intrínseca trouxe para o Brasil, em 2015, o livro de estreia do autor Josh Malerman, que é vocalista da banda The High Strung, além de escritor. Seu primeiro livro fez um sucesso estrondoso nos EUA, em 2014, sendo considerado um dos melhores livros do ano, recebendo muitos elogios e críticas positivas dos mais diversos sites especializados. A revista Publishers Weekly afirmou que fãs de Stephen King iriam adorar a obra de Malerman. Com tantos pontos positivos assim, com todo esse hype, espera-se um livro incrível, marcante. Porém o que se encontra é um suspense mediano, uma ideia muito boa, mas pouco desenvolvida; muito longe de ser comparado a Stephen King.

Um mundo onde ninguém pode abrir os olhos

A história é narrada em terceira pessoa e utiliza muitos flashes, uma hora fala-se do momento presente, em outra de alguns anos atrás, assim como o em ‘O pacto’, de Joe Hill. Algo aconteceu na Rússia e chegou aos Estados Unidos, uma ameaça desconhecida, que ninguém consegue explicar. Aos poucos as pessoas começam a enlouquecer, a se matar (se parece com ‘Celular’, do King), fazendo o país entrar em colapso. O que se sabe é que o país foi invadido por criaturas misteriosas, que ninguém pode descrever com precisão, pois, ao olhá-las, uma pessoa perde a sanidade. A protagonista Malorie vê tudo isso acontecer e precisa sobreviver nesse novo mundo pós-apocalíptico. Sua tarefa é mais difícil ainda, pelo fato de estar grávida.

Ao longo da narrativa, a protagonista conhece outros sobreviventes, que formam uma espécie de família, se refugiando em uma casa (alusão ao título, pessoas vivendo trancadas, como pássaros numa caixa). Dessa forma, unidos, eles irão buscar uma maneira de continuar vivendo, enfrentando o medo do desconhecido, tendo que lidar com o fato de não poderem abrir os olhos fora de casa. Uma venda acaba sendo o item mais importante nesse novo mundo.

“Tenho mais de quarenta anos. Estava tão acostumado com a vida que levava que nunca imaginei uma assim”. p. 156

Josh Malemá

Fiz esse trocadilho (malemá significa mais ou menos, muita gente fala assim no interior de SP) porque é dessa forma que descrevo o autor, ao menos se baseando na escrita desse livro. Ele apresentou uma ideia muito boa e criativa: um mundo onde você não pode abrir os olhos, caso não queira enlouquecer. Porém esse mundo foi pouco explorado. A leitura é muito rápida, até parece que Josh estava com pressa para terminar o livro.

A forma como o autor apresentou os flashes entre presente e passado não foi muito feliz, pois entrega, de certa forma, alguns fatos, amenizando o clima de mistério. Criou-se um problema que tomou conta dos EUA, porém não se criou uma explicação, é simplesmente algo que aconteceu e pronto. Assim como essas “criaturas” que deixam as pessoas loucas caso sejam vistas, não há uma descrição ou explicação para elas. Nem mesmo são apresentados momentos onde Malorie cria os seus filhos, um intervalo de 4 anos é pulado. Em alguns momentos é narrado alguns acontecimentos desse intervalo, apenas isso.

As personagens não são marcantes, não há diálogos dignos de serem lembrados. Há uma pontinha de um romance florescendo, mas não passa disso. Situações mais interessantes entre as personagens trancadas na casa, ou explorando o mundo exterior, deixariam o livro mais encorpado, caso tivessem sido trabalhadas. Malerman escreve frases curtas, até parece que sente medo desenvolver um pensamento mais longo. Sem falar do final, que não é nada empolgante e parece feito às pressas. A impressão que fica é a de um livro escrito contra o tempo.

“[…] é melhor enfrentar a loucura com um plano do que ficar parado e deixar que ela nos alcance aos poucos”. p. 256

O lado bom

Claro que o livro não é de todo ruim. Como um suspense, há momentos bons, que dão medo caso você se coloque no lugar das personagens. E todo suspense tem um clima de mistério. Aqui não é diferente, em algumas partes o autor nos deixa intrigado, querendo saber o que vem a seguir.

Malerman criou uma situação muito difícil para suas personagens, um mundo onde sobreviver é um desafio tremendo. Histórias pós-apocalípticas não são nenhuma novidade, porém aqui há uma renovação nesse gênero, algo nunca explorado antes. Apesar de as personagens não serem nada demais, conseguem divertir em algumas páginas. As “criaturas”, mesmo sem uma gênese, assustam. Andar por aí, rodeado de seres que você não pode ver, mas pode sentir, me parece muito assustador.

A protagonista da história é uma mulher muito forte. Viu o mundo desabar, superou os problemas, grávida, e criou seus filhos. Seu desenvolvimento é bacana, vemos que os anos a tornaram uma pessoa dura, rígida e muito assustada. O método que utilizou para criar os filhos é baseado na teoria behaviorista, a teoria psicológica que mais amo. Apesar das grandes falhas, o livro apresenta momentos positivos.

“O sangue pingava da borda da banheira. Havia sangue nas paredes. Era uma criança. Oito anos…” p. 55

Sobre a edição

Esta é uma edição muito bonita, na parte estética. Mesmo sendo um livro em brochura, capa simples, com orelhas, a editora caprichou no projeto gráfico interior. O papel para o miolo é o Pólen Soft, com boa diagramação. Carolina Selvatici fez um competente trabalho de tradução, não há nenhum termo utilizado que deixe dúvidas, história simples contribui para isso, uma história sem grandes explicações. A revisão também executou um ótimo trabalho, sem deixar passar nenhum erro ortográfico (ao menos não vi nenhum).

“As coisas já estão acontecendo com muita rapidez. No velho mundo, encontrar um cadáver na rua exigiria horas para ser assimilado”. p. 123

Vale a pena?

Ler ou não ler esse livro não me faria nenhuma diferença, é o que penso após a leitura. Sinto que o autor pecou ao finalizar sua história tão rápido como fez. Além disso, não é uma história assustadora ou misteriosa demais, é algo mediano. Não recomendaria, caso tenha outras coisas em mente para ler. Apenas em último caso. Porém, como cada um tem um gosto, talvez você acabe gostando mais do que eu desse livro. Arrisque, quem sabe. Me diga o que achou depois. Porém, eu avisei que não vale muito a pena, tá?

Minha nota (de 0 a 5): 3

Alan Martins


Uma música da banda The High Strung, da qual Josh Malerman é vocalista:


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A capa é muito chamativa, o que não quer dizer que está chamando para algo bom.

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Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

28 pensamentos

  1. Tem razão, não há dialogos memoráveis e o final foi escrito às pressas. Me apeguei muito aos personagens, alguns deveriam até existir na vida real… Enfim, um decisão mudou tudo. A “teoria dos loucos” me surpreendeu de forma sombria.

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  2. lol Que pena… Quando você falou do tema até tive vontade de ler, mas se é mediano, não é para mim 😛 (a vida é curta demais para ler algo que sabemos que não chega lá…).
    E a música, assim que comecei a ouvir, pensei “eu conheço essa porr…” E pronto. Vi que era o tema do Shameless… rs. Abraços!

    Curtido por 1 pessoa

      1. Sempre gostei de filmes com clima apocalíptico e esse não me decepcionou. Prendeu minha atenção do começo ao fim e tem uma mensagem sobre preservação do planeta muito interessante. Sendo leiga em cinema, posso dizer apenas que me entreteve e vi até mais de uma vez quando era adolescente.
        Pessoas que se cansam com filmes mais “parados” podem não gostar.

        Curtido por 1 pessoa

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