5 livros que dariam ótimos pesos de porta!

5 calhamaços: na imagem, tijolos sobrepostos com capas de livros, um deles Os Irmãos Karamázov, com tradução de Herculano Villas-Boas pela Martin Claret

Quando decidi criar esta lista, fiquei em dúvida quanto ao título que a daria. Eu poderia chama-la de “5 livros que poderiam ser utilizados como arma”, até porque vou falar sobre livros enormes, que, se arremessados na cabeça de alguém, poderiam matar o indivíduo ou causarem sérios danos. Mas eu não quero fazer apologia à violência aqui no meu blog. Não, prezo pela paz e espero que você também siga esse caminho, caro leitor.

Minha amiga Jéssica, que é mais louca por livros do que eu e é dona do canal Jéssica Lopes (faz sentido), sugeriu o título “Calhamaços da estante”, que eu não achei chamativo, preferi esse que utilizei, pelo tom humorístico que carrega (espero que você ache esse um título engraçado – desculpa, Jéssica). Enfim, a Jéssica e eu decidimos criar um conteúdo com a mesma ideia, ela em formato de vídeo para o seu canal, e eu escrevendo um post. Dessa forma, com bom humor, venho apresentar 5 “tijolos” que possuo em minha estante, que são tão bons quanto o número de páginas que possuem (confesso que não li todos eles ainda). Livros grandes assim demandam muito tempo e vontade do leitor, ainda mais se apresentarem uma leitura arrastada, porém o final da leitura é recompensado pelo sentimento de uma missão extremamente difícil que foi concluída com sucesso. Após conferir minha lista, dê uma olhada na LISTA da Jéssica, para encontrar mais calhamaços como esses.

(Imagine uma vinheta de transição entre essa apresentação e o início da lista. Use a imaginação!)


a_dança_da_morte_capa

1 – A DANÇA DA MORTE – STEPHEN KING (SUMA DE LETRAS, 2013): Stephen King é conhecido por ser o autor de diversos calhamaços. A dança da morte foi o seu primeiro gigante. O enredo fala sobre um Estados Unidos devastado por uma supergripe, onde poucos sobreviveram. Esses sobreviventes são contatados por entidades, essas que representam o bem e o mal. Após se reunirem, eles se preparam para uma batalha que decidirá o destino do mundo. Esse é apenas um resumo muito breve, o livro traz muitas outras situações marcantes e diversos personagens, que se desenvolvem no decorrer da trama. Fica evidente uma forte influência de Tolkien nessa obra, com referências à O Senhor dos anéis, fato que o próprio King não nega. Como de costume nos calhamaços escritos pelo velho Steve, a leitura fica um pouco arrastada com tantos detalhes que ele nos dá, alguns desnecessários, chegando a diminuir o ritmo da leitura. Há um termo em inglês, “wordy”, que significa “usar mais palavras do que o necessário”. Até por isso, quando foi originalmente publicado em 1978, o livro sofreu uma leve poda, com aproximadamente 400 páginas sendo retiradas pela editora, por acreditarem que os leitores se cansariam. Porém, em 1990, a edição sem cortes foi publicada nos EUA, contendo 1152 páginas, tornando esse o maior livro do mestre King até o momento. Já a última versão publicada por aqui possui 1248 páginas. Apesar desse tamanho todo, é um livro muito bom, com uma história original, com o melhor vilão já criado pelo Mestre, e um dos maiores vilões da literatura, Randall Flagg, que também atormenta os protagonistas de diversas outras obras do universo criado por Stephen King, pois caso não saiba, todos os seus livros são interligados de alguma forma.

Livro a Dança da Morte, de Stephen King, que foi adaptada para uma nova série de TV
Nem é a capa que bota medo, é o tamanho mesmo.

Capa do livro A Revolta de Atlas pela Arqueiro

2 – A REVOLTA DE ATLAS – AYND RAND (ARQUEIRO, 2010): Se visto em uma prateleira, você pode imaginar “Isso é um box com três livros, então não pode estar nessa lista”. Me desculpe discordar, mas se trata de um único livro, sim. A editora Arqueiro decidiu publicar a obra prima de Rand em três volumes, em um box, por motivo de praticidade mesmo, já que os três volumes somam 1232 páginas. A edição original, em inglês, possui 1168 páginas. Segurar livros desse tamanho pode cansar a mão e o braço, prejudicando a leitura por longos períodos. A divisão em três volumes é acertada, ainda mais vindo em um box, porém pode confundir o comprador, fazendo-o acreditar se tratar de uma trilogia. A obra é uma distopia que apresenta de uma maneira muito mais acessível os pensamentos filosóficos da autora, que fundou uma vertente da Filosofia, o Objetivismo. Este visa o indivíduo acima de tudo, se distanciando de ideias coletivas, principalmente ideias como o Comunismo. A autora nasceu na Rússia e vivenciou a revolução que ocorreu no país, se mudando para os EUA posteriormente, onde escreveu toda sua ficção e também suas obras acadêmicas. O livro é marcado pela famosa frase “Who is John Galt? (Quem é John Galt?)”. Trata-se de uma leitura muito atual, pois vivenciamos uma época onde assuntos como política, esquerda e direita, estão em alta, e Rand apresenta uma ideia que bate de frente com a ideia que predomina na política do país. Dificilmente a leitura de algum de seus livros será recomendada nos cursos de humanas das universidades brasileiras, pois sua ideia de individualismo é o oposto das ideias coletivas que predominam nesses cursos. Não quero julgar nenhuma visão como melhor ou pior, apenas aponto o prejuízo de apenas uma única ideologia ser estudada e disseminada. O que vemos são apenas argumentos negativos perante à ideia individualista. É uma pena, por ser importante conhecer todas as faces da política, para sair um pouco da alienação e correr menos riscos de ser manipulado. Fiz uma resenha sobre outro livro da autora, Cântico, que pode ser vista AQUI.

Box A Revolta de Atlas, em três volumes
Tão grande quanto um titã.

David Copperfield pela Cosac Naify

3 – DAVID COPPERFIELD – CHARLES DICKENS (COSAC NAIFY, 2014): Não vamos confundir o protagonista do livro com o famoso ilusionista estadunidense. Esse tijolinho, ou catatau, possui 1312 páginas, em tamanho de livro de bolso, porém conta com capa dura, numa edição bem caprichada. A finada Cosac Naify publicava clássicos e livros de arte com extremo capricho, em edições muito bem trabalhadas. O fechamento da editora foi uma perda imensurável para o mercado editorial brasileiro e principalmente para quem gosta de comprar e colecionar livros. Muitas das publicações já estão fora de estoque em todas as lojas, sendo encontradas apenas em sebos. Algumas tiveram reimpressões, certamente a pedido da Amazon do Brasil, que comprou todo o estoque remanescente da editora, sendo, atualmente, a única loja ainda a vender livros da editora. Ainda bem que a gigante multinacional comprou o estoque, pois a editora planejava dar um fim nele; pensavam em transformar os livros tiras inúteis de papel (picá-los). Isso virou notícia e causou polêmica e revolta, como pode ser visto AQUI. Sobre o enredo, bem, eu ainda não li o livro, comprei por se tratar de um clássico de um grande escritor, já que estou em um momento de apreciação de clássicos. Porém, a história ocorre desde a infância de David até sua vida adulta, suas aventuras e seus romances. A obra original data de 1849-1850 e foi publicado em partes, mensalmente, como a maioria dos romances de Dickens. Essa edição da Cosac Naify é uma das poucas que trazem a obra integral, talvez a única encontrada no mercado brasileiro.

Livro David Copperfield em capa dura pela Cosac Naify
Altura não quer dizer nada.

Capa da edição da Martin Claret de Os Irmãos Karamázov

4 – OS IRMÃOS KARAMÁZOV – FIÓDOR DOSTOIÉVSKI (MARTIN CLARET, 2013): A última obra escrita por Dostoiévski é também um dos livros mais conhecidos do mundo, ao lado de seu outro grande clássico Crime e castigo (clique para ler minha resenha). Trata-se de uma obra tão grandiosa que até Freud expressou sua admiração, afirmando se tratar do melhor romance do último século (isso à sua época, pois é um livro de 1880). É uma obra lida até hoje, sendo assim uma história atemporal, que influenciou diversos autores. A história é sobre três irmãos russos que representam características do país na época em que foi escrito: a libertinagem, o niilismo e o sublime. Todo apaixonado por clássicos se interessará pela leitura desse calhamaço, que conta com 911 páginas, em capa dura, nessa edição da Martin Claret. As traduções de Os irmãos Karamázov são bem polêmicas aqui no Brasil. Muitas editoras utilizaram a versão em francês para a tradução, o que, segundo os puristas, gera um prejuízo quanto ao conteúdo, quando comparado à uma tradução feita diretamente do original em russo. Não sei ao certo se a tradução dessa edição, feita por Herculano Villas-Boas, é diretamente do russo ou não. A edição da Editora 34, traduzida por Paulo Bezerra, foi sim feita do russo, isso é uma certeza. Além disso, há a acusação de plágio em algumas traduções, em uma edição da própria Martin Claret de 2003, como se pode ver AQUI. O mundo editorial e de traduções no Brasil é cheio de polêmicas e coisas obscuras, muito interessante isso, são coisas que a gente nem pensa ou sequer tem noção.

Nota: Como pode ser visto no site do tradutor Oleg Almeida (que já verteu várias obras do russo para o português), a tradução de Herculano Villas-Boas foi feita de forma indireta, a partir do francês. Herculano é um grande profissional, competente no idioma francês, porém uma tradução indireta não consegue capturar todas as peculiaridades do autor, mesmo que consiga passar sua ideia central. Oleg revisou a tradução de Herculano, afim de russificá-la, como ele próprio diz na entrevista. Essa era uma dúvida de muitos, que agora foi sanada! Oleg Almeida já me concedeu uma entrevista, leia-a AQUI!

A própria editora confirmou isso, num comentário em sua página no Facebook. Como pode ser visto na imagem abaixo. Clique nela para ampliá-la.

Escrevi um artigo onde comparo as traduções das duas edições mais populares de Os irmãos Karamázov. Coloquei-as lado a lado, comentando a respeito da tradução direta de Paulo Bezerra, pela Editora 34, e da tradução indireta de Herculano Villas-Boas, pela Martin Claret. Você pode acessar o artigo clicando aqui!

Os Irmãos Karamázov Martin Claret tradução Herculano Villas-Boas
Acho que agora não restam dúvidas.
Os Irmãos Karamázov pela Martin Claret em capa dura com tradução de Herculano Villas-Boas
O tamanho faz jus ao seu país de origem.

Encontre este livro (com desconto) na Amazon: https://amzn.to/2IoqYjT


conde_montecristo_capa

5 – O CONDE DE MONTE CRISTO – ALEXANDRE DUMAS (ZAHAR, 2012): Temos aqui outro clássico da literatura, porém agora uma obra francesa. Creio que quase todo mundo já ouviu falar de “O conde de Monte Cristo”, pois diversas adaptações já foram feitas, para o teatro, cinema, TV. Também foi inspiração para diversas outras histórias, como Rita Hayworth e a redenção de Shawshank, de Stephen King, que inspirou o filme “Um sonho de liberdade”, de 1994. Alexandre Dumas é autor de diversos clássicos, como “Os três mosqueteiros”, outro livro que todo mundo já ouviu falar, pois já sofreu mais adaptações do que as normas da ABNT. O romance, publicado entre 1844 e 1845, conta a história de Edmond Dantès, que é preso injustamente, conseguindo escapar da prisão posteriormente. Assim, ele busca sua vingança, após ficar rico e comprar a ilha da prisão que dá nome ao romance. Certamente Dantès não ouviu as sábias palavras do mestre Seu Madruga “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”. Outra leitura indicada para os fãs de clássicos. Essa edição da Zahar é de bolso, porém com um pouco mais de capricho, possuindo capa dura e tudo (a chamam de “edição de bolso de luxo”, bem gourmet). O único pecado é o papel utilizado para as páginas, são 1664 páginas de um papel muito fino, aqueles utilizados em bíblias (cadê o luxo?).

Versão de bolso de luxo de O Conde de Monte Cristo, pela Zahar
Baixinho marrento.

Espero que tenham gostado da lista. Compartilhe-a com os amigos e deixem um comentário sobre quais calhamaços vocês possuem aí na estante. Quais destes você já leu? Qual você já leu, mas não está na lista?

Quando vistos de longe, o tamanho desses livros pode causar medo, nos fazendo passar bem longe (sai de reto!). Porém, quando mergulhamos de cabeça e nos aventuramos no enredo, percebemos que estávamos enganados, ficando até tristes quando a leitura terminar, com um sentimento de que as centenas de páginas não foram o suficiente. Dê uma chance aos livros parrudos, quem sabe esse post não o faça perder o medo de encarnar Davi contra Golias. No final, além de uma boa história, você terá um excelente e lindo peso para a porta do seu quarto. Brincadeira, tá? Jamais faça isso com um livro! Eles também têm sentimentos.


Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

Autor: Alan Martins

Graduado em Psicologia. Amante da Literatura, resenhista e poeta (quando bate a inspiração). Autor e criador do Blog Anatomia da Palavra. Não sou crítico literário, porém meu pensamento é extremamente crítico. Atualmente graduando em Letras.

13 pensamentos

  1. Adorei o título, realmente chamou atenção! haha
    Eu tenho o Charles Dickens! Quero ler no próximo semestre, virou edição de colecionador mesmo.
    E tenho muita vontade de ler o Conde!

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

    Curtido por 1 pessoa

  2. Eu citaria Anna Karenina. Minha tendinite reclamou bastante do tempo que passei com ele. rs
    Mas tenho diários intimos do Amiel e vários outros com um quinhão de páginas, que eu amo. Como os diários de Sylvia Plath e os de Susan Sontag. Ainda bem que curto andar com mochila por aí. rs

    bacio

    Curtido por 1 pessoa

  3. Minha edição de Os Irmãos Karamazov é a da Editora 34, que vem separada em dois volumes. Eu, normalmente, prefiro dessa forma, porque cansa pra caramba ficar segurando determinadas edições únicas, mas se não houver opção, vai de volume único mesmo, ficar sem ler é que não dá. 🙂 É o caso até desse volume do Dickens, quero muito, mas por enquanto, tá na lista das futuras compras.
    E sábio Mestre Madruga, sempre afiado, rsrsrrs…
    Beijoca

    Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário