O dia 8 de março é uma data que possui um grande significado e marca uma série de reivindicações que ocorreram no final do século XIX e início do século XX, por parte das mulheres. A inserção da mulher no mercado de trabalho ocorre desde essa época, porém o grande aumento da inserção delas no setor trabalhista é algo mais recente. Assim como a luta por melhores condições de trabalho, valorização e melhores salários, que são reivindicações que ocorrem desde o passado, mas que persistem até hoje, já que a tão sonhada igualdade ainda não foi atingida em sua plenitude. Por que será que, após mais de 100 anos que marcam a história do Dia Internacional da Mulher, ainda há muito o que se melhorar?
Se analisarmos a história, veremos que é formada por fatos trágicos. As manifestações que ocorriam na Europa e nos EUA foram reprimidas por meio do uso da violência. A criação de novas leis trabalhistas só aconteceu após diversas mulheres morrerem em um incêndio em uma fábrica. Infelizmente as mudanças só acontecem após que alguma tragédia de proporção global ocorra, não é qualquer fato que dá início a debates, a desgraça precisa ser vista na prática para que as pessoas que possuem o poder tomem consciência dos problemas que acometem a sociedade. Hoje, a situação não se difere muito. A grande mídia apenas levanta a questão feminina quando convém, quando um crime brutal ocorre, os programas e jornais noticiam e abrem um certo debate sobre o tema, mas apenas porque isso está na boca do povo e vai trazer audiência. O que deveria ser o oposto, esse deveria ser um tema recorrente, não vir à tona apenas quando algo de ruim acontecer; além de que as pessoas deveriam se interessar pelo tema por sua representação, pela sua história e tudo o que significa, não por interesse pela infelicidade alheia, pois sabe-se que notícias como morte e violência sempre chamam a atenção da sociedade. Há um certo interesse pela desgraça, mas apenas por ela, não pelos fatos intrínsecos a ela, o que está oculto sem uma análise mais crítica. Pode-se dizer que há um tipo de voyeurismo por notícias ruins.
Um homem talvez não seja a pessoa que tenha maior propriedade para opinar sobre os direitos e as lutas das mulheres, a opinião de uma mulher talvez trouxesse mais força ao debate. Há pessoas que defendem isso, dizendo que a luta da mulher pertence e cabe apenas a elas, e isso não é algo feliz de se afirmar. Claro, a luta de determinado grupo pertence a esse grupo, mas, como não existe apenas esse grupo no mundo, a sociedade é formada por infinidades deles, o debate cabe a todos, afinal uma mudança apenas pode ocorrer quando a sociedade está elucidada homogeneamente. Grande parte da violência sofrida pela mulher vem do homem, que por uso de força física e de questões históricas, culturais e religiosas, se sente superior e abusam delas. Como mudar isso sem alterar a visão desse tipo de homem possui em relação às mulheres? Essas ideias que estão cristalizadas na sociedade não são novas, elas são de tempos onde abusar de mulheres era comum, era comum o homem ser superior e comandar tudo. Houve um tempo onde a mulher ficar em casa cuidando dos filhos e depois apanhar do marido, que chegava tarde em casa, bêbado, não era nada demais. A mulher devia servir ao homem. E o divórcio? Nem pensar, mulher divorciada era vista como a pior das criminosas, além de que nenhum outro homem iria querer esse tipo de mulher. Ideias que hoje parecem absurdas, um dia eram recorrentes e comuns, era assim que o mundo funcionava. Mas nenhum ser humano merece ser reprimido, viver sem suas liberdades, não poder fazer aquilo que bem entende, muito menos ser violentado.
Como homem, não posso ter uma noção de como é ser mulher na prática. Porém, somos dotados de empatia, ao menos a maioria de nós é. Podemos refletir sobre o quão difícil é viver em uma sociedade que ainda apresenta traços de séculos atrás. Eu não sei como é andar na rua, durante a noite, com medo de que alguém possa me violentar, física e sexualmente. Não me passaram a ideia de que eu devo cuidar dos afazeres domésticos para ser um bom marido. Mas, sei como é se sentir injustiçado, em outras situações, e sei como isso é ruim. Dessa forma posso fazer uma comparação entre a situação e ver que não seria nada bom ter uma vida carregada de estigmas. É possível se colocar no lugar da pessoa, imaginar como seria viver dessa maneira. Por isso, afirmo, que o debate é de todos.
A data que meu computador apresenta no canto de baixo do monitor é apenas uma maneira de se localizar no tempo. O que devemos lembrar não é o dia, o mês ou o ano, mas sim aquilo que esses números representam, a história por trás disso tudo. A semana e, principalmente, o Dia Internacional das Mulheres, aumentam e acaloram o debate sobre a situação das mulheres no mundo atual, entretanto é um debate que não deve vir a público somente nesse período do calendário. Necessita ser uma discussão recorrente, na mídia, nas escolas, seja onde for. Todos devem entender sobre o assunto, para que dessa forma uma mudança cultural, que não é nada fácil, possa acontecer. Talvez a melhor maneira é a de que o respeito e a igualdade entre homens e mulheres sejam assuntos discutidos desde cedo. O mundo não mudará por vontade de um ou de outro, mas sim quando essa vontade for geral, e isso vale para outros tipos de debate também. As pessoas devem crescer aprendendo a respeitar.
Mulheres merecem o respeito diariamente. Essa semana pode ser aproveitada para valoriza-lo ainda mais, ser uma semana especial. Uma semana onde a questão dos direitos das mulheres é a principal pauta dos jornais. Mas, o mais importante é que o significado desse dia fique guardado na mente de todos, e que isso seja levado pelo resto do ano. Igual o espírito natalino, não adianta nada ser uma pessoa melhor apenas no final de dezembro, temos que tentar ser pessoas melhores todos os dias, ser pessoas melhores para nós mesmos e para os outros.
Muitas mulheres receberão as congratulações por esse dia, por essa semana, receberão diversos presentes e paparicos. Isso é uma coisa muito boa, é importante agradar e fazer o bem a alguém. Mas não adianta tratar a mulher como rainha hoje e trata-la como lixo pelo resto do ano. O respeito e o reconhecimento diário valem mais do que qualquer presente.
Vivas às mulheres, os seres mais belos desse planeta. Sem vocês a sociedade não evoluiria. Sem vocês os homens seriam meros neandertais brigando entre si.
P.S. Eu menti no título do post, desculpe. Não foi apenas uma palavra, foram 1165, segundo o contador de palavras do meu editor de texto. Seria impossível resumir tanta coisa em apenas uma palavra.
Alan Martins

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