“Um mundo que é o pior pesadelo para quem gosta de livros”
Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2003
Páginas: 215
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É engraçado, e trágico ao mesmo tempo, como um livro escrito há tanto tempo (1953) ainda consegue ser tão atual. Claro que de maneira não literal, pois se trata de uma distopia e o mundo atual está longe de se tornar aquilo que Ray Bradbury nos apresenta. Se analisarmos o que o autor quer dizer com seus exageros, podemos compara-los com muitas coisas presentes em nosso cotidiano. Digo exagero porque em toda distopia a opressão é demasiada, o que acaba dando o tom desse gênero literário e a beleza do enredo.
Para que as tentativas de fazer uma comparação entre o livro e os dias atuais, seria melhor começar explicando um pouco sobre essa obra. O ano em que os acontecimentos se passem não são explicitados, mas certamente se passa após 1990, já que em uma passagem isso fica bem claro. Pode-se concluir que os eventos acontecem no século XXI. Os avanços tecnológicos não são surpreendentes como nos livros de ficção científica. O que mais chama a atenção é a mediocridade das pessoas. Ninguém mais conversa sobre algo relevante, as relações são vazias, ninguém sequer percebe o que se passa ao seu redor. Todos estão focados no trabalho e em se divertir, sentir prazer. Uma sociedade dominada pelo id. Ninguém é capaz de pensar por si, não há senso crítico. A sociedade é tão vazia que considera como “família” pessoas que são exibidas em grandes telões em todas as casas, se distanciando dos seres de carne e osso com as quais convivem.
O mundo chegou a esse ponto por uma razão: os livros foram proibidos. Não é preciso perder tempo lendo, pensando, criando opiniões. Pare com essas besteiras e vá se divertir. As pessoas estão vivendo de pão e circo, literalmente. A leitura foi sendo desvalorizada e substituída por banalidades até chegar ao ponto de ser proibida. Possuir livros é um crime e ler, um crime pior ainda. Se uma pessoa é suspeita de estar escondendo livros em sua casa, logo os vizinhos fazem uma denúncia aos bombeiros, que vão imediatamente atear fogo nos livros e na casa dessas pessoas. Sim, no futuro apresentado em Fahrenheit 451 os bombeiros não têm a função de apagar incêndios, já que as casas são à prova de fogo. O dever deles é queimar os livros. No original em inglês acontece um trocadilho, já que “bombeiro” em inglês é “fireman”. Fire = fogo; man = homem. Ou firefighter. Fighter = aquele que luta contra.
Somos apresentados a Guy Montag, um bombeiro que começa a questionar-se sobre sua profissão, seu casamento, sua vida. Sua pulga atrás da orelha nos é apresentada logo no início e engorda no decorrer da história. Não sacamos isso logo de cara, mas após descobrir alguns segredos sobre Montag, fica claro.
Tudo se inicia num ritmo lento, que só aumenta a cada página. A vida do protagonista se transforma em pouco tempo. A narrativa mistura suspense, filosofia e um pouco de ação, principalmente na parte final. O livro é bem curto, acaba deixando um gosto de “quero mais”, não por algo estar faltando, mas porque foi bom e durou pouco (clichês fazendo parte da vida real). A leitura não perde o ritmo, está sempre se desenvolvendo até chegar ao seu ápice.
Agora podemos tentar fazer uma análise mais profunda.
No universo de Fahrenheit 451 ainda existem algumas pessoas que valorizam os livros, mas essas vivem à margem da lei e da sociedade. Se você for dono de um livro, você é um estúpido, você é excêntrico e deve ser excluído da sociedade. Exagerando um pouco na crítica, é um pouco do que ocorre na sociedade brasileira. A maioria das pessoas não está nem aí para o que ocorre a seu redor, ninguém para e pensa, reflete sobre o que está ao redor. A minoria busca o conhecimento nos livros. A maioria está interessada em viver com o modo id sempre ligado, na busca pelo prazer. Em exibir sua boa vida, glorificar futilidades. Viver em um mundo pessoal, cheio de tecnologias e esquecer dos outros que vivem na própria casa. E o principal: a leitura empodera as pessoas; amedronta poderosos e governantes.
A leitura em nosso país não é algo valorizado. Não está em nossa cultura. Quem gosta de ler são os diferentes, os esquisitões. E há muitos que dizem que você deve ler, que isso é uma coisa boa e deve ser valorizado, porém não seguem o próprio conselho. Ninguém quer ser um exemplo, apenas agem com hipocrisia. Fiz um post sobre esse assunto há pouco tempo. A leitura desse livro veio em ótima hora, e certamente eu teria escrito uma crítica melhor se o tivesse lido antes.
Mesmo se a pessoa não gosta do gênero distopia, acredito se tratar de uma leitura obrigatória. Não é apenas uma história, tem um algo a mais. Por isso o livro é sucesso no mundo todo. O filme de 1966 ajudou a populariza-lo, mas a fama foi atingida muito antes do filme. Ray Bradbury foi um grande autor, os diversos prêmios recebidos são apenas uma amostra de seu brilhantismo. Ganhos por puro mérito.
Essa é uma edição simples, com capa comum, páginas com papel Pólen Soft de qualidade, boa diagramação. Possui um prefácio e dois textos de posfácio que são bastante interessantes. Aliás, o posfácio foi escrito pelo próprio autor.
Minha nota (de 0 a 5): 5
Alan Martins

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Você tem ótimas indicações de leituras. Gosto da forma como você resenha cada obra literária. Alias, parabéns pelo blog e obrigada por estar me seguindo. Espero que você possa me visitar todas as vezes que seu tempo lhe permitir. Abraços!
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Muito obrigado. Fico feliz que tenha gostado e pelo seu comentário. É bom saber que há pessoas lendo e apreciando o que escrevo, bastante motivador. Pode ter certeza que vou conferir seu blog, sempre que tenho tempo gosto de dar uma olhada em outros blogs.
Um grande abraço!
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