Os motivos pelos quais as pessoas leem são os mais variados: para ir bem em uma prova, passar em um concurso, saber preparar um prato (uma receita), para saber da vida dos outros (Facebook). É possível citar inúmeros motivos que incitam a leitura. Com certeza cada motivo possui sua dignidade, porém há um motivo que se sobressai perante os outros, e que acaba sendo o mais importante de todos: ler por prazer.
Esse talvez seja o ápice da leitura. Quantas pessoas dizem que leram um livro e gostaram? Agora, quantas pessoas dizem que o que gostam de fazer é ler? Quantas dizem que isso é um hábito em suas vidas? Quantas dizem que adoram comprar livros? É bem capaz que a cada resposta o número de pessoas que responderiam positivamente decaiu.
A leitura é um hábito. Um hábito é algo constante. Para que essa constância seja obtida, é preciso que haja o reforço. Isso é algo que o behaviorismo nos ensina, e é muito simples. Para que você se abdique de qualquer coisa que lhe dê prazer, você precisa de algo que o motive. A motivação também pode ser o produto final, que é o prazer (qualquer coisa que lhe seja gratificante, por qualquer razão).
Infelizmente, a cultura brasileira não é uma reforçadora desse hábito. A grande maioria das pessoas pensam que comprar um livro é desperdício de dinheiro, que um livro é muito caro. Não conseguem ver relevância na leitura, não enxergam isso como um meio de entretenimento. O que acaba por restringir a leitura a materiais científicos necessários para uma pesquisa, para estudos, para obter algum tipo de luz (livros de autoajuda). O que é uma pena, pois ler é o maior meio de se obter entretenimento.
Claro que você pode se entreter até mesmo com um livro cientifico. Afinal nos entretemos com aquilo que gostamos, com aquilo que nos interessa. E isso é algo interessante de se refletir: se os caminhos científicos que você trilha em sua vida acadêmica não te estimulam, se esses conhecimentos não te causam curiosidade em ler mais, se eles não fazem seu estômago roncar de fome; lamento dizer, mas você deve seguir um outro caminho. Isso que é o ápice da leitura. Uma fogueira sedenta por mais lenha para ser queimada, mais combustível para que essa luz continue acesa.
Entretanto, não há nada como ler por entretenimento. Livros de ficção, romance, mistérios, terror. Leituras que despertam a imaginação. Um cinema dentro de sua cabeça. O enredo é o mesmo, porém o filme nunca é igual, pois cada um imagina aquilo que está lendo de uma maneira diferente. São detalhes que fazem da leitura algo magnifico.
As palavras podem despertar aquilo que temos de mais humano: os sentimentos. Ao ler, somos capazes de sentir medo ao ler, ou raiva, até mesmo se apaixonar por algum personagem. Podemos considerar a escrita como o que nos torna seres humanos e o que nos diferencia dos demais animais. Já que o raciocínio e a comunicação não são ferramentas exclusivas nossas. Mas a comunicação através de símbolos sim. Podemos transmitir tudo através de palavras, e contamos com a ajuda da imaginação para isso. Talvez se refugiar em outras vidas que não sejam a sua, funcione como as drogas, como a bebida. Talvez possa ser uma maneira de correr daquilo que temos medo de encarar. São hipóteses. Porém, com toda certeza, os livros podem viciar como drogas e causar dependência.
Sempre vamos ler sobre algo que nos interessa, para matar uma necessidade instantânea. Porém tornar a leitura um hábito, um hábito valorizado, é o mais difícil. Há muito o que se fazer para isso. Nossa educação, principalmente, deve estimular a leitura. Deixar que os alunos leiam o que os interessam. As leituras obrigatórias funcionam como um estímulo aversivo (mais uma vez seguindo as ideias do behaviorismo), já que podem ser vistas como uma punição pelo aluno. Além disso, a cultura também deve ser alterada, passar a ser uma cultura que estimule a escrita e a leitura. Uma cultura que faça essas coisas serem vistas como algo comum do dia a dia, não como algo de pessoas ricas, estudiosas, de pessoas idiotas que gostam de ficar em casa lendo, e acabando com o estereotipo de nerd.
Não há nada de elitista em ler. Qualquer um sabe ler a partir do momento em que é alfabetizado. Os livros estão disponíveis nos mais diversos formatos, há livros com distribuição gratuita. Comece a visitar a biblioteca mais próxima.
Este texto foi a tentativa de tentar expor um pouco sobre essa atividade que aprecio muito. Uma atividade que aprendi a apreciar. Hoje, mergulhar nos mais variados mundos que são construídos palavra por palavra, tornou-se parte de minha vida. Simples traços impressos em papel são capazes de criar vida. Se minhas palavras foram capazes de despertar a mínima vontade de pegar um livro e começar a folheá-lo, me considero satisfeito. Me considero a pessoa mais satisfeita do mundo se ao menos você refletir sobre o assunto ao fim de sua leitura. Acredito que seja possível encontrar entretenimento até aqui. Eu mesmo consegui encontra-lo ao digitar cada uma dessas palavras no teclado do meu computador.
Que suas leituras sejam boas e fartas. Que sua fome nunca termine.
Vida longa a esse hábito.
Alan Martins

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Olha que eu estou na lista das respostas positivas! Está claro que você cursa/cursou Psicologia ou está muito interessando… de Psicanálise à Behaviorismo! Li com os olhos brilhando. Obrigado por mais um texto.
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Fico feliz que tenha gostado, obrigado!
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