
“A guerra contra as drogas nunca tem fim”
Título: Onde os Velhos Não Têm Vez
Autor: Cormac McCarthy
Editora: Alfaguara
Ano: 2006
Páginas: 256
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Neste post tenho a enorme responsabilidade de falar sobre um dos maiores escritores do último século e da atualidade. Não é à toa que Cormac McCarthy já recebeu um prêmio Pulitzer, em 2007, com seu romance “The Road” (A Estrada, no Brasil). Só por ter ganho esse prêmio, fica claro que não se trata de qualquer um. E não digo que ele é bom apenas por possuir um prêmio de grande expressão. Não, o cara realmente escreve de uma maneira ágil, que prende a atenção do leitor; tornando a leitura gostosa.
Bem, o autor tem uma maneira particular de escrever. Ele não usa sinais para indicar o início de diálogos, tudo é escrito em texto corrido, como se fosse um parágrafo comum. Há vezes em que o diálogo começa no meio da frase, a única indicação de que se trata de um diálogo é a letra maiúscula que surge de repente. Isso pode parecer estranho quando começamos a ler, mas é fácil se acostumar. A narrativa deixa bem claro que se trata de um diálogo e qual personagem está falando. É bem comum vermos o uso da conjunção e aparecer na separação de orações coordenadas. Cormac não escreve de maneira “difícil” ou rebuscada, a escrita é bem simples, aliás. As orações são curtas, é raro encontrar orações enormes nesse livro. Todos esses elementos, aliados a uma magnifica trama, tornam a leitura rápida, fluida e fácil. O ritmo desse livro é de tirar o fôlego. Uma outra coisa que me chamou a atenção é que o autor não descreve muitas características das personagens, no máximo vamos saber que um personagem é baixo e possui olhos castanhos. Algumas outras características são dadas por algum personagem durante um diálogo, mas apenas uma breve descrição. Acredito que dessa maneira seja até melhor, assim podemos criar a imagem em nossa mente, estimulando nossa fantasia e criatividade.
O enredo do livro é cheio de ação, bastante violento em certos momentos, um pouquinho romântico e bastante triste e melancólico. Temos três personagens principais nessa história: o Xerife Bell, que podemos caracterizar como o mocinho, e também é o narrador em algumas partes; Moss, que não se trata de um homem bom ou mau, ele apenas fez escolhas e arca com elas no decorrer do livro; Chigurh, o vilão, um vilão dos mais terríveis, frio e calculista. Trata-se de um faroeste moderno, que se passa nos anos 80, onde o tráfico de narcóticos assola a região do Texas, gerando violência e medo. A narrativa retrata bem a guerra causada pelo tráfico de drogas, uma guerra entre a própria sociedade. Uma terra quase sem lei, dominada pelos grandes traficantes, chacinas acontecem em plena luz do dia, a esperança de um mundo melhor já não mais existe, mesmo entre aqueles que estão do lado da lei.
Uma boa reflexão sobre o assunto pode ser retirada ao concluir a leitura. A guerra contra as drogas não acaba com o tráfico, nem diminui o número de usuários; ela apenas gera violência e sofrimento. Isso fica bem claro no livro, fortunas são acumuladas nas mãos de traficantes, e pessoas comuns tentam se virar para conseguir ganhar algum dinheiro e se proteger da violência. Moss é um grande personagem, mas também um coitado. Seu azar foi estar na hora errada, no lugar errado. Chigurh não cria inimigos, ele os extermina antes. O vilão não para até alcançar seus objetivos, sempre matando quem o atrapalhe. Ele caracteriza essa guerra sem fim contra os narcóticos: por mais que você tente combate-la, ela sempre estará ali, nunca será extinta. O Xerife Bell representa a esperança e a falta dela. Apesar de seu desejo por um mundo melhor e por sua luta para proteger seu condado, tudo se mostra em vão. O mundo já não é o mesmo, as pessoas não são as mesmas, não há respeito, nem educação.
Onde os Velhos Não Têm Vez é um livro curto, gostoso de ler e possui um dos melhores vilões da literatura. Com toda certeza é uma leitura muito mais do que recomendada. Garanto boas horas de emoção e ação de perder o fôlego. Além da oportunidade de poder conhecer a obra de um dos maiores escritores mundiais de todos os tempos. A história foi adaptada para o cinema em 2007 e foi lançado por aqui com o título “Onde os Fracos não Têm Vez”. Não assisti ao filme, mas deve ser tão bom quanto o livro, pois traz um elenco de peso e recebeu oito indicações ao Oscar, vencendo quatro. A edição da Alfaguara está muito bonita, seguindo o padrão usado para todos os livros publicados sob o selo, utilizando papel Polén, páginas grossas e fonte de bom tamanho para a leitura.
Minha nota (de 0 a 5): 5
Alan Martins

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